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Maldade dos crentes

Turma do zap esquece que pau que dá em Chico pega Francisco

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto Reprodução das Redes Sociais

Faz dois anos e nove meses o Brasil está sem rumo, desgovernado, à beira do precipício, isolado do mundo, abandonado pelas potências econômicas e contando diariamente – e sem parar – as vítimas da “gripezinha” chata inventada pelos chineses, mas que não para de matar pessoas ao redor do mundo. No Brasil, em pouco mais de um ano e meio, 601 mil patrícios perderam a vida. De lá para cá, milhares de outros irmãos permanecem estatelados em um leito de hospital lutando contra a morte. Imagens desalentadoras mostram centenas de homens, mulheres e crianças disputando ossos e fiapos de carne como garantia da alimentação do dia. As ruas estão cheias de brasileiros vagando em busca de um prato de comida ou de um emprego que lhes garantam a sobrevivência.

Além do desmantelo político, pagamos R$ 7 por um litro de gasolina, temos de aceitar como normal a offshore do ministro da Economia, não podemos reclamar da inflação de dois dígitos e somos obrigados a suportar ameaças constantes de golpe. Por isso, não acho exagerada a afirmação de que chegamos ao fundo do poço. Perdemos as referências como nação, povo e, sobretudo, como eleitores. E nada disso é fake. Infelizmente, são fatos que até hoje o governo e seus seguidores teimam em fulanizar.

É o caso das tias do WhatsApp e das sobrinhas do bolo caseiro. Por pura maldade ou por falta do que fazer, boa parte desse grupo passa o dia procurando mal feitos de adversários para produzir mentiras para apoiadores do bolsonarismo nas redes sociais.

Apesar da calmaria política, nesse fim de semana acabei vítima da turma mal amada, desprovida de sensatez e incapaz de checar o que recebe e envia. É a turma do quanto pior melhor. Respeitosamente, é o chamado grupo dos desimportantes. Nesse domingo (10), empobrecido com o futebol de várzea da Seleção Brasileira, resolvi abrir o zap zap para checar alguns recados. Um dos primeiros foi uma baboseira de algum sem noção. Era um vídeo em que um boneco de Luiz Inácio, líder em todas as pesquisas de intenção de votos, pisoteia a bandeira do Brasil. Mais engraçado foram os grosseiros erros de português (todos corrigidos, é claro) e o alarmismo dos recados: “Essa é a esquerda que quer ser maior do que nossa nação” ou “falso patriota”.

Fui checar. O boneco e a bandeira realmente existem. Na imagem em baixa resolução, percebi que as informações são absolutamente inverossímeis. O pé do boneco está à frente da bandeira (a profundidade pode ser vista até na sombra da imagem). Ou seja, pura sacanagem. A maldade (a pisada) está nos olhos de quem vê ou divulga. São do tipo energúmenos ou desafiadores da inteligência alheia? Acredito que as duas coisas.

Sinceramente, chega a ser ingênuo alguém achar que um ex-presidente da República se prestaria a esse papel. E seja ele ladrão, mercenário, chefe de quadrilha, ex-presidiário ou capitão do Exército. Trata-se de um gesto improvável de um brasileiro com um mínimo de sensibilidade.

Não tenho por hábito responder ou replicar vídeos ou informações sobre as quais pairam algum tipo de dúvida. Mudei de ideia especificamente em relação a essa afronta. Sem modéstia, sou esclarecido e, portanto, não aceito desconfianças acerca de minha capacidade de raciocínio. Fujo da cólera, mas há momentos em que a razão é escanteada. De imediato, lembrei-me de uma postagem bosolítica publicada no Dia dos Nordestinos. Sugerindo uma manifestação em algum lugar do Rio de Janeiro, a imagem mostra o presidente Jair Bolsonaro atrás do senador Flávio Bolsonaro, que está vestido com uma camisa onde se lê: “Movimento nordestinos voltem para casa – o Rio não é lugar para jegue”.

Respeitando minhas honrosas raízes nordestinas, optei por limitar o post à família e às tias do WhatsApp, das quais recebi alfinetadas imediatas: “Isso é fake. É um absurdo creditarem isso aos filhos do nosso presidente”. Também achei, mas o maior absurdo foi insistirem no boneco do Lula como fato. Tenham certeza de que não defendo qualquer ser humano que erre e não admite o erro.

Por isso, estou à vontade para afirmar que, pelo menos nessas duas últimas décadas, nenhum dos presidentes eleitos me representou. Entretanto, não posso permitir que minha hipocrisia se sublime e alcance a primazia de meus neurônios. Em primeiro lugar, sempre a verdade. Como o pau que dá em Chico dá em Francisco, aproveito para repassar o meme recebido hoje, 12, pela manhã: “Malandro mesmo foi o Diabo, que elegeu seu candidato com o voto dos crentes”.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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