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Governo de ficção

Finados no Brasil vira sinônimo de dia do morto-vivo Jair Messias

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Marcelo Camargo

Desde o ano de 998, ou seja há mais de um milênio, o Dia de Finados é consagrado à memória de todos os amados. A data foi definida pelo escritor norte-americano Paul Auster como o “inesperado da coisa”. Em um trecho do livro A invenção da solidão, o autor sintetiza o absurdo da morte, “que não dá nenhuma chance para a mente procurar uma palavra capaz de consolar”. Relendo esta semana parte da obra, tive a nítida impressão de que Auster escreveu imaginando o Brasil capitaneado pelo mito Jair Messias. De acordo com o escritor, o Dia de Finados parece concluir um período curto de celebrações ao aspecto mais sombrio da vida: o seu fim.

Na Terra Brasilis, onde a data é feriado estabelecido por lei, Finados é caracterizado por missas solenes em igrejas católicas, explosão no comércio de arranjos de flores e lotação de cemitérios. Neste 2 de novembro de 2021, um dia após o Dia de Todos os Santos, a tristeza não se resume à lembrança dos entes queridos. Quase dois anos após o primeiro caso de Covid-19, infelizmente o mundo superou na segunda, 1, a simbólica marca de 5 milhões de mortes provocadas pela doença. De acordo com análise de técnicos da Organização Mundial de Saúde (OMS), se contabilizados conforme a realidade, esses números podem ser duas ou três vezes maior.

Segundo no topo desse macabro ranking, o Brasil chegou a cerca de 25 milhões de infectados e 608,1 mil mortes oficiais em decorrência de uma “gripezinha” inventada pelos chineses. Tristeza infinita, mas não a única para 213,3 milhões de brasileiro. Hoje também é dia de lamentações pelo morto-vivo que nos governa. A ficção do governo federal, vendida diariamente nas redes sociais para duas ou três dúzias de aficionados do quanto pior melhor, foi finalmente desmascarada. Depois do fiasco na reunião do grupo dos 20 países mais ricos do planeta, veio a constatação do desprezo desses líderes por Jair Bolsonaro.

Não posso ser acusado de invenções descabidas, pois o mundo inteiro assistiu a rejeição pública ao mandatário brasileiro. As imagens distribuídas pelas principais redes de televisão falam sozinhas. Elas mostraram um presidente absolutamente isolado e com status de chefe de uma republiqueta de quinta categoria. O problema é que o tratamento pessoal naturalmente é estendido ao país. Hoje, o isolamento do Brasil é notório. Somos tratados como nação comandada por ditador. O resultado não poderia ser pior. Os líderes das economias que sempre nos apoiaram – algumas nos sustentaram – parecem cansados das lorotas e das promessas nunca cumpridas do governo do capitão.

Por isso, faz tempo decidiram virar as costas para o mito e seus apoiadores, consequentemente para a totalidade do povo. O fracasso interno e externo da administração bozolítica transformou nossa costumeira alegria numa renitente melancolia. Nada que não possamos mudar. Que sejamos fortes e firmes e entendamos de vez que o limite da paciência é a certeza da necessidade de melhores escolhas. Certo de que as urnas nos darão respostas mais alvissareiras em outubro de 2022, proponho que essa mudança comece hoje mesmo. Então, apesar do sentimento de homenagem, o Dia de Finados deve ser dedicado à saudade, nunca à tristeza.

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