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Passos da esquerda

América Latina caminha para integração soberana

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Autor/Imagem:
Beto Almeida/Via Pátria Latina - Foto Reprodução

Em 2021, os povos de diversos países da América Latina registraram combates memoráveis e alcançaram vitórias significativas que permitem prever que esteja em curso uma busca por retomar o caminho da integração regional soberana e libertadora. Em batalha de rua, em cada resistência a massacres, em cada voto rebelde, em cada greve contra privatizações, parece que se ouve a voz de Juan Domingo Peron quando declarou, profetizando para a Pátria Grande: o século XXI nos encontrará unidos ou escravizados!

O continente latino-americano jamais deixou de lutar contra velhas e novas imposições imperiais, agora sob a forma brutal do neoliberalismo, que vai submetendo vastas regiões em fome, miséria, sofrimento, rapina, destruição de direitos conquistas com largas lutas, especialmente as empresas estatais e legislações sociais fundamentais.

A ofensiva neoliberal tem encontrado resistências históricas, tais como o verdadeiro levante popular que sacode o Chile a alguns anos, culminando com a eleição de um Assembleia Constituinte avançada e, agora, a vitória das forças progressistas, com a eleição de Gabriel Boric.

Um das características fundamentais para a vitória popular chilena foi a unidade das forças progressistas, tanto para a Constituinte como na eleição presidencial, inclusive precedida de uma indispensável recuperação da prática chamada Puerta a Puerta, na qual a militância percorria os bairros, conversando cara a cara com o povo, de casa a casa, de porta a porta. Tal como já havia ocorrido na eleição de Lopes Obrador anos atrás, com a distribuição de milhões de exemplares do jornal do MORENA, partido vencedor.

Pouco antes a Bolívia já havia retomado o caminho da democracia com justiça social, após um golpe sanguinário organizado pelos EUA, com operação criminosa da OEA. O golpe não pode se sustentar em razão de uma resistência tenaz do povo boliviano, que, com unidade, derrotou o golpismo e reelegeu Lúcio Arce, retomando o caminho de defesa das empresas estatais, da soberania nacional, dos direitos populares, do funcionamento democrático pleno, com amplo protagonismo dos movimentos populares. E toda a tentativa de desestabilizar o governo democrático e anti-imperialista de Lucho Arce, vem sendo rechaçada por intensas mobilizações populares, indicando que não se pode descansar um minuto frente ao império. Novas tentativas de golpe virão, é da natureza do império!

A eleição de Lucho Arce permitiu a volta da Bolívia ao ALBA, o que possibilita a participação do Estado Plurinacional Boliviano em planos, ações e projetos de cooperação e integração com demais países que integram este Bloco de Cooperação, onde também se planejam e aplicam políticas de saúde e educação que escapam ao controle do imperialismo e fortalecem os estados nacionais.

Antes, também em 2021, o Peru já havia dado também uma manifestação clara de que o povo quer conduzir aquele país por um novo curso, valorizando o Estado, a educação com a eleição de um professor rural, Pedro Castilho. É bastante simbólica informação de Pedro Castilho havia sido aluno das políticas de alfabetização do governo nacional e popular do General Juan Velasco Alvarado, que contou, na época, com apoio do educador brasileiro Darcy Ribeiro, colaborador daquelas políticas de combate à praga do analfabetismo e a criação massiva de escolas rurais. A reação das oligarquias peruanas à eleição de Pedro Castilho, previsível, não se fez por esperar e revela a absoluta necessidade de governos de natureza popular e democrática organizarem amplos mecanismos de participação e protagonismo populares para enfrentar o golpismo imposto sistematicamente por Washington.

Com todas as limitações da conjuntura política peruana, uma governabilidade difícil de assegurar, o governo de Castilho resiste e busca caminhos para poder tomar medidas populares, apesar do cerco midiático e das sabotagens diárias contra sua estabilidade. De todo modo, o povo peruano se pronunciou pelo voto, rejeitando os sucessivos desastres neoliberais, especialmente a volta do fujimorismo, tanto fascista como neoliberal.

É preciso assinalar que mesmo onde não tenha havido exatamente uma vitória contra as ações do império, como nos casos do Equador e do Uruguai, houve grandes expressões de luta, de combate e de manutenção da autoridade das forças progressistas, que se mantém como alternativa concreta, como é o caso da Frente Ampla uruguaia e da candidatura lançada por Frente País equatoriana, que preservam suas respectivas autoridades políticas.

Mas, sem dúvida, foi em Cuba, pela Resistência do Povo Cubano em defesa de sua Revolução, e também na Venezuela e na Nicarágua, onde se registraram muito importantes derrotas para o império, já que são os três países mais atacados, bloqueados, sancionados pelos EUA, onde se tentaram golpes e sabotagens, firmemente derrotadas pela unidade popular em torno de seus respectivos governos. Em Cuba, Biden recrudesceu uma série de medidas para desestabilizar a revolução, ampliando a ingerência ilegal e criminosa do bloqueio com o financiamento de atores internos, que foram devidamente derrotados pela consciência revolucionária das massas cubanas.

Mesmo enfrentando grandes dificuldades econômicas, seja pelo Bloqueio, mas também ela Pandemia que afetou duramente uma das atividades econômicas mais importantes da Ilha, o turismo, Cuba não só não se paralisou, como também seguir avançando na produção de vacinas próprias, hoje exportadas para inúmeros países, como também demonstrou sua elevada capacidade de oferecer solidariedade a numerosos países, inclusive alguns da União Europeia, com a Itália. Assim, a derrota das iniciativas contra revolucionárias no último período, não deixam de ser uma demonstração da energia e vigência da Revolução de Cuba, que, com estes gestos concretos, comunica ao mundo sua razão, também expressa em nova derrota dos EUA também na Assembleia da ONU, com esmagadora votação contra o Bloqueio ilegal e criminoso.

Na Nicarágua, país que também é alvo de sanções e guerra econômica e midiática por parte dos EUA, a reeleição do governo sandinista liderado por Daniel Ortega, com mais de 75% dos votos, sinaliza que o povo nicaraguense optou por consolidar e fortalecer o modelo de desenvolvimento social inclusivo, transformando aquele país em uma nação com os melhores indicadores de desenvolvimento humano da região, tendo alcançado uma saúde pública e gratuita, um modelo de educação igualmente público e gratuito, a autossuficiência na produção de alimentos, a eletrificação de todo o país e uma muy significativa redução das taxas de pobreza. Deve-se recordar que essa vitória sandinista foi construída ao largo de vários mandatos de Daniel Ortega, e teve como fator decisivo a mobilização popular do governo sandinista para derrotar a tentativa de golpe de estado, em abril de 2018, organizado pela Casa Branca, operando junto com a oligarquia local e segmentos mais retrógados da Igreja Católica.

O objetivo era interromper a aplicação do modelo social inclusivo sandinista, com medidas anti neoliberais, e significativa expansão produtiva, um exemplo para os padrões sócio econômicos da América Central. Logo após a vitória eleitoral sandinista, em novembro de 20121, Nicarágua comunica sua decisão de sair da OEA, instrumento que tem sido sistematicamente utilizado em favor dos EUA contra a Pátria de Sandino, além de reconhecer , finalmente, a República Popular da China, revelando-se em nova derrota geopolítica para Joe Biden, já que traz a possibilidade concreta de construção de um segundo canal interoceânico, o que daria nova e espetacular alcance ao Porto de Mariel, construído em Cuba com participação do Brasil. Duas medidas pós eleitorais indicativas de que o voto no sandinismo guarda profundo conteúdo anti imperialista.

A vitória do Chavismo na Venezuela , em 21 de novembro, com o PSUV elegendo a imensa maioria dos governadores, prefeitos e integrantes dos parlamentos regionais e municipais, constitui-se em vigorosa mensagem da Revolução Bolivariana para o mundo, vencendo os efeitos destrutivos do bloqueio econômico, da guerra monetária a que tem sido submetida, incluindo a guerra política e midiática, que chegou a ponto de organizar um “governo” fantoche, reconhecido por vários países capitalistas do mundo, que terminou por se dissolver ante a firmeza das massas chavistas, desmoralizando todos estes ridículos apoiadores, inclusive o bestial Bolsonaro.

Este foi duplamente derrotado, pois um Relatório recente emitido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, organismo governamental, chegou à conclusão de que foi o Brasil o grande prejudicado com a ruptura de relações com a Venezuela, com enormes prejuízos econômicos. O Relatório governamental termina recomentando a retomada de relações com a Venezuela, além de deixar filtrar a informação de que tal virada de posição e defendida inclusive por setores das Forças Armadas Brasileiras, a despeito da postura do Palácio do Planalto. Tremenda derrota política para o bolsonarismo.

Especialmente nestes países, Cuba, Venezuela e Nicarágua, o tom mais importante a destacar foi a presença de povo na rua como um fator determinante e diferencial que explica a essência das derrotas impostas ao imperialismo. A mobilização popular em favor dos respectivos governos, dos processos revolucionários e de transformação em curso, foi o que permitiu assegurar a continuidade de importantíssimas conquistas, como ALBA, que integra de forma cooperativas estas e outras nações da região.

Por fim, vale assinalar a importância da eleição da candidata progressista Xiomara Castro, em Honduras, especialmente por ter sido um país alvo de golpe de estado há poucos anos, depondo Manuel Zelaya, justo no momento que estruturava uma significativa linha de cooperação com Cuba e Venezuela. Exatamente por isso, a vitória de um governo progressista em Honduras, que faz fronteira com a Nicarágua, expande possibilidades de um comércio bilateral e de uma cooperação muito mais aprofundada, sinalizando, inclusive, para um possível ingresso hondurenho na ALBA, o que reforça, novamente, a ideia de que todas estas vitórias eleitorais do último período, trazem consigo uma potencial e necessária retomada do caminho da integração regional latino-americana. Agora com uma muito maior presença de países como China, Rússia e Irã.

Este novo desenho do mapa político da América Latina, que está em curso, é como a tradução , renovada para no tempo, daquele desejo do General Peron, mas aponta também para a importantíssima necessidade da presença do Brasil neste mapa, país com o peso econômico e industrial mais amplo, com capacidade singular de reduzir prazos históricos nesta integração, muito embora hoje ela esteja neutralizada pela presença de um governo vassalo aos EUA. Entretanto, todos os sinais políticos no último período, inclusive a retumbante presença de Lula, com Mujica, Cristina e Alberto Fernandez, em manifestação peronista de 200 mil argentinos na Plaza de Mayo em Buenos Aires, é expressão viva e concreta de que há, grosso modo, uma elevação e uma preparação na América Latina para que, em 2022, o Brasil volte a ser, pelo voto democrático de seu povo, uma alavanca decisiva para que o continente retome a construção de uma integração, sem a qual, separados, estes países não podem exercer uma resistência eficaz contra as ações destrutivas do império, que não vai parar de nos agredir. Como profetizou o General Peron.

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