Falta de votos
Bolsonaro não tem medo da urna, mas o que sair dela
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emOs levantamentos eleitorais podem ser contestados por aqueles que estão em baixa, mas jamais devem ser considerados mentirosos ou maquiados. São apurados de maneira séria e, portanto, normalmente refletem o desejo dos consultados. As últimas pesquisas de intenção de votos são o demonstrativo mais óbvio da vontade de cerca de 150 milhões de brasileiros aptos a votar. Transformado em números, o resultado mostra profundas alterações na cabeça do eleitorado nacional. O rastreamento das informações sobre as eleições gerais de outubro deixa claro que pessoas que voluntariamente votaram em Jair Bolsonaro em 2018 não repetirão a dose em 2022. E o que dizer dos que votaram por conta do sentimento antipetista da época?
Arrependida, a maioria pode até insistir em preterir Luiz Inácio, mas certamente não insistirá louvando o mito de barro. Afinal, uma eleição é baseada em atributos funcionais, ou seja, em feitos, na correção de conduta e, sobretudo, na produção de obras em benefício do país e do povo. E, sinceramente, a produtividade político-administrativa do governo Bolsonaro é próxima de zero. Nem mesmo o discurso em defesa da honestidade na política se consolidou. Pelo contrário. A avalanche de suspeitas de corrupção incluídas no balaio da CPI da Covid ainda não foi devidamente explicada. Mesmo assim, parece que, para boa parte dos 15% do eleitorado caninamente fiel ao bolsonarismo, o argumento da probidade e da integridade desceu para o ralo junto com as promessas de campanha.
A mudança de ânimo comprova a tese dos mais variados analistas que se dispuseram a tentar entender a cabeça do eleitor de 2018. A conclusão convergente é que a maioria esmagadora do eleitorado não era bolsonarista. Os registros mais relevantes sobre o desempenho do chefe do Executivo foram divulgados nos primeiros dias deste mês de janeiro. Do total de pessoas que votaram em Jair Messias no segundo turno das eleições passadas, pelo menos 36% consideram que o presidente faz um trabalho “ruim” ou “péssimo”. Menos da metade (44%) o avaliam como “ótimo” ou “bom”. Em outras palavras, ou caiu a máscara do líder ou foi retirada a venda dos olhos dos brasileiros que imaginavam ter escolhido um presidente verdadeiramente mitológico.
De acordo com os dados postos à mesa eleitoral, a cada novo dia Bolsonaro está mais longe da reeleição. Por isso, o desespero voltou a bater à porta dos principais aposentos dos palácios Alvorada e Planalto. Daí que, na ausência de fatos mais concretos, o repentino retorno do discurso da fraude eleitoral via urna eletrônica voltou a ser pensado como um forte aliado na campanha que se aproxima. A bem da verdade, falar mal da urna eletrônica faz parte do DNA do ser humano e do político Jair Bolsonaro. Ele sabe, no entanto, que não há hipótese de ganhar ou perder a reeleição por conta de fraudes no sistema eletrônico de votação. O pavor do presidente e de seus seguidores é bem mais profundo, pessoal e secreto: a falta de votos.
O sinal amarelo foi acionado a partir do momento da descoberta do sumiço de votos a serem depositados na maquininha de votar, fiscalizada diuturnamente pelo amigo Zé. Único técnico remanescente dos pioneiros da “invenção” (os ninjas) genuinamente nacional, o grande Zé permanece à disposição diária do TSE. Ele e sua equipe são suficientes para minar a criatividade do mal e evitar fofocas e maledicências contra o equipamento modelo da Justiça Eleitoral. Ou não é? As viúvas – aqueles que insistem em questionar a segurança da urna – que mostrem o que já encontraram de errado no processo. Não vale o que ouviram dizer.
Se não acharem – e jamais acharão – que se calem. Lembremos sempre que quem sabe, muitas vezes não diz. E quem diz, muitas vezes não sabe. Portanto, melhor o silêncio honesto do que as fake news que só servem para anestesiar os que teimam em espalhar mentiras que não podem provar. Também vale lembrar que, a partir de agosto, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia estarão de olho nos mentirosos de plantão.