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Ocidente acuado

Aliança sino-russa pode fazer mundo tremer em fevereiro

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Dmitry Orlov/Via Sputniknews - Foto Divulgação

Desde que Putin anunciou as suas exigências aos EUA e à OTAN de garantias de segurança (em resumo, travar a expansão da OTAN para Leste, fazer recuar a OTAN para as suas posições de 1997 e remover as armas ofensivas da vizinhança imediata da Rússia), temos sido sujeitos a uma barragem de irrelevâncias da imprensa ocidental:

Serão estas garantias de segurança um ultimato ou um instrumento de negociação? Será que os EUA e a OTAN concordarão com elas ou irão rejeitá-las? Irá Putin invadir a Ucrânia ou será ele parado no seu caminho através do uso judicioso e oportuno de franzir o sobrolho, abanar a cabeça, abanar os dedos e mostrar menosprezo por parte de diversos e variados luminares ocidentais? Se Putin invadir a Ucrânia, isso significa que a Terceira Guerra Mundial está finalmente sobre nós e que certamente morreremos todos?

Espero não ser o único a estar farto e cansado desta patética e enfadonha tentativa de vomitar uma cortina de fumo e esconder a inevitável realidade do que está prestes a desdobrar-se. Caso isto ainda não esteja completamente claro para si, gostaria de soletrar tudo. Normalmente sou mais cauteloso ao fazer previsões específicas, mas neste caso o nosso futuro imediato foi-nos cuidadosamente traçado pela Rússia e pela China, com os EUA e os seus diversos fantoches reduzidos ao estatuto de personagens não participantes de um jogo de vídeo que só podem fazer uma coisa: esconder-se atrás de uma densa cortina de fumo de mentiras risíveis.

Primeiro, as exigências da garantia de segurança russa não são ultimatos. Um ultimato é uma espécie de “ou então”, oferecendo uma escolha entre o cumprimento e as consequências, ao passo que neste caso tanto o não cumprimento como as consequências serão seguidas automaticamente. O Ocidente e a OTAN são, por razões políticas internas bem entendidas, incapazes de assinar estas garantias. Portanto, as consequências desdobrar-se-ão em devido tempo.

A Rússia exigiu que tanto os EUA como a OTAN colocassem por escrito a sua recusa a concordar com as garantias de segurança; estes pedaços de papel serão importantes para o movimento à frente. Para entender porquê, precisamos de ter em conta o facto de que tudo dentro destas garantias de segurança já havia sido acordado pelo Ocidente; nomeadamente, a garantia de “nem um centímetro para o leste” dada aos russos pelos EUA 30 anos atrás e o princípio de segurança coletiva acordado por todos os membros da OSCE. Ao assinarem um documento no qual declaram a sua recusa em cumprir o que anteriormente acordaram, os EUA e a OTAN declarar-se-iam essencialmente apóstatas do direito e da ordem internacional. Isto, por sua vez, implicaria que as suas próprias necessidades de segurança poderiam ser ignoradas e que, em vez disso, mereceriam ser humilhados e punidos.

Além disso, ao colocar por escrito a sua recusa, os EUA e a OTAN declarariam o próprio princípio de segurança coletiva – especificamente em relação aos EUA e à OTAN – como nulo e sem efeito, o que significa que se, por exemplo, as Bahamas, uma nação soberana desde 10 de Julho de 1973, decidisse reforçar a sua soberania acolhendo uma bateria de mísseis russos apontada através da Corrente do Golfo para Miami e Fort Lauderdale, Florida, os EUA não teriam qualquer palavra a dizer sobre o assunto, e se os EUA tentassem levantar a voz, seriam confrontados com este mesmo pedaço de papel que assinaram. “Sente-se ameaçado agora?” perguntariam os russos; “Bem, talvez devesse ter pensado nisso quando nos ameaçou, colocando os seus mísseis na Polónia e na Roménia”.

O objetivo inicial declarado dos dois complexos terrestres de Aegis na Polónia e na Roménia era abater mísseis iranianos, que na altura não existiam, não existem agora e em qualquer caso nunca teriam feito um desvio gigantesco e voado sobre a Polónia ou a Roménia. Embora o objetivo declarado destes sistemas fosse a defesa anti-mísseis, as suas plataformas de lançamento também podem ser utilizadas para lançar armas estratégicas ofensivas: mísseis de cruzeiro Tomahawk com cargas nucleares. Estes Tomahawks são obsoletos e os russos sabem muito bem como abatê-los (como demonstraram na Síria) mas isto ainda é muito irritante, além de que semear o campo russo com plutónio americano pulverizado não seria bom para a saúde de ninguém.

Assim, devemos esperar que aconteçam coisas más a estas instalações, mas é expectável que permaneçamos bastante mal informados acerca dos pormenores. Enquanto as não negociações sobre a garantia de segurança russa serão tão públicas quanto possível (apesar das lamúrias ocidentais a pedir que sejam mantidas em privado), os “meios técnico-militares” que a Rússia utilizará para lidar com a não aquiescência ocidental não serão amplamente divulgados. A instalação romena poderá tornar-se inoperante devido a um pequeno vulcão recentemente descoberto nas proximidades; a polaca poderá sucumbir a uma estranha explosão de gás do pântano.

Uma outra série de infelizes acidentes pode fazer com que os EUA e a OTAN se tornem tímidos e reticentes acerca da intrusão nas fronteiras da Rússia. As tropas da OTAN estacionadas no Báltico, a um passo de São Petersburgo, que é a segunda maior cidade da Rússia, podem queixar-se de ouvir repetidamente a palavra “Bang! (“Thud!”) anunciada clara e ruidosamente, fazendo com que todos elas sejam diagnosticadas com esquizofrenia e evacuadas. Um avião espião americano pode sofrer uma ligeira avaria no funcionamento do GPS que o leva a entrar no espaço aéreo russo, ser abatido e ter o seu piloto catapultado condenado a muitos anos de ensino de inglês a infantarias em Syktyvkar ou Petropavlovsk-Kamchatsky [NT].

Os navios da US Navy e da OTAN, já propensos a abalroamentos uns com os outros, assim como colisões com montanhas submarinas e barcaças, podem sofrer um número invulgarmente elevado de tais percalços na proximidade da linha costeira russa, fazendo com que se afastem dela. Um grande número de tais acontecimentos, a maior parte dos quais se verificam fora da vista do público e cujas notícias são suprimidas da imprensa ocidental e dos media sociais, forçaria os poderosos militares dos EUA a enfrentar uma inconfortável questão existencial: “Será que os russos ainda têm medo de nós, ou estamos aqui apenas a masturbar-nos uns aos outros?” A sua resposta será entrar em negação e masturbarem-se uns aos outros ainda com mais força e rapidez.

Mas se eles na verdade estão apenas a masturbar-se uns aos outros, então e a sua política de contenção? O que há para conter a Rússia e impedi-la de recriar a URSS 2.0? – além do facto de que os russos não são estúpidos, aprenderam a sua lição da primeira vez e a Mãe Rússia já não permitirá que um bando de inúteis e ingratos não-russos suguem o seu amplo seio. “Mas quando é que a Rússia vai invadir a Ucrânia?”, querem saber os espíritos inquiridores, especialmente aqueles que têm prestado atenção às fontes noticiosas ocidentais afirmando que a Rússia acumulou 100 090 tropas na fronteira ucraniana (não o fez).

A teoria mais recente é que o que impede a Rússia de invadir é o tempo quente. Aparentemente, tem estado anormalmente quente desde 2014, razão pela qual as tropas russas ainda não atravessaram a fronteira ucraniana. De que é que têm estado à espera? A próxima era glaciar do próximo milénio? Ao invés disso, a Rússia acabou de obter os pedaços da Ucrânia que queria – a Crimeia, o Donbass e um par de milhões de profissionais de língua russa altamente treinados – tudo sem encenar uma invasão e está agora à espera que o resto da Ucrânia degenere para o seu estado final como um parque temático étnico e uma reserva natural. A única coisa que não está a correr bem com este plano é que a Ucrânia precisa de ser desmilitarizada, tal como requerido pelas recentes exigências de garantia de segurança da Rússia.

Mas e se as garantias de segurança da Rússia não forem atendidas e os EUA/OTAN continuarem a despejar armas na Ucrânia, a enviar treinadores e a estabelecer bases? Bem, então, terão de ser destruídos. Isto pode ser feito lançando alguns foguetes de pequenos navios que navegam no Mar Cáspio, como foi feito para destruir as bases ISIS na Síria; não é necessária a invasão de forças terrestres. Não será preciso muito para levar os EUA/NATO a evacuar a Ucrânia em pânico, visto que já elaboraram planos para o fazer e anunciaram que não irão combater para a defender.

Se é isso que se desdobra, o que pensa que acontecerá a seguir? Será que os EUA irão iniciar uma guerra nuclear sobre a Ucrânia? Umm… que tal “NÃO!!”! Será que os EUA imporão “sanções do inferno”? Talvez, mas é preciso compreender que neste momento os EUA e outras economias ocidentais podem ser caricaturados com precisão como um vaso de cristal cheio de excrementos estacionado mesmo na borda de uma prateleira alta sobre um chão de mármore duro. A esperança é que ninguém espirre porque a pressão sonora pode fazer com que o vaso ultrapasse a borda. Sanções do inferno soa como algo que poderia provocar um espirro. Escusado será dizer que os EUA vão continuar a falar de sanções do inferno, talvez até aprovar alguma legislação com esse título e afirmar terem enviado “uma mensagem forte”, mas sem qualquer efeito.

Irá a Rússia atuar imediatamente após a aceitação, por escrito, da recusa do Ocidente em fornecer-lhe as garantias de segurança solicitadas? Não, é provável que haja um atraso. Como vê, o 4 de fevereiro está apenas a duas semanas de distância, e isso não é tempo suficiente para começar e terminar uma ação militar. O que se passa a 4 de fevereiro? A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim, claro, na qual Putin será o convidado de honra enquanto os dignitários dos EUA nem sequer foram convidados.

Nos Jogos Olímpicos Putin e Xi irão assinar uma grande quantidade de acordos importantes, um dos quais pode transformar a já muito forte relação entre a China e a Rússia numa verdadeira aliança militar. A ordem mundial tripartida anunciada pelo General Milley, na qual os EUA, Rússia e China figuram como iguais, terá perdurado ao todo três meses. Com a Rússia e a China a atuarem como uma unidade, a SCO, que agora inclui quase toda a Eurásia, torna-se mais do que um mero polo geopolítico. Em comparação, os Estados Unidos e os 29 anões da NATO não chegam a fazer um polo geopolítico e o mundo volta a tornar-se unipolar – mas com a polaridade invertida.

Por isso, não devemos esperar que qualquer ação militar tenha lugar entre 4 e 20 de fevereiro. Caso ocorra alguma travessura militar durante os Jogos Olímpicos, que é tradicionalmente uma época de paz no mundo, será certamente uma provocação ocidental, pois os Jogos Olímpicos são uma época tradicional de provocações ocidentais (a Geórgia durante os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008; a Ucrânia durante os Jogos Olímpicos russos em Sochi em 2014). Podemos estar certos de que todos estão muito preparados para esta provocação e que ela será tratada de forma muito dura.

O pior tipo de provocação seria se conselheiros da OTAN conseguissem realmente levar as infelizes e desmoralizadas tropas ucranianas a invadir o Donbass. Se isso acontecer, haverá duas etapas para essa operação. A primeira envolverá confundir os ucranianos e levá-los a caminhar para uma armadilha. A segunda será ameaçar destruí-los usando artilharia russa de longo alcance do outro lado da fronteira russa. Quando isso aconteceu anteriormente, o governo ucraniano em Kiev foi obrigado a assinar os acordos de Minsk que exigiam que os militares ucranianos recuassem e que o governo de Kiev concedesse autonomia ao Donbass, alterando a constituição da Ucrânia.

Mas uma vez que o governo de Kiev não demonstrou qualquer intenção de cumprir os termos destes acordos durante todos estes anos e, em vez disso, fez tudo o que pôde para sabotá-los, não é expectável que seja assinada uma nova rodada de acordos de Minsk. Ao invés disso, será o fim da estrada para o Estado ucraniano. Putin prometeu exatamente isso. Os conselheiros da OTAN provavelmente ficarão frustrados nos seus esforços para levar os ucranianos a atacar: será preferível para eles ficarem ali sentados a serem empurrados e espicaçados pelos seus manipuladores da OTAN e aborrecidos por oficiais e espiões dos EUA/UE ao invés de terem os seus homens mais brilhantes destruídos pela artilharia russa ou de enfrentar uma ronda final de humilhação nacional.

Contudo, depois de 20 de fevereiro deveríamos esperar alguma nova e interessante distração doméstica. Pode ter a ver com o esquema financeiro ocidental de castelos de cartas/pirâmides, ou pode ser um divertido novo vírus, ou gás natural a esgotar-se e a causar uma enorme emergência humanitária. Ou pode ser uma combinação disto: o vírus pode ser imputado à China, a emergência do gás à Rússia e o colapso financeiro a ambos. Enquanto toda a gente está distraída, um ou dois porta-aviões podem desaparecer, a instalação terrestre Aegis na Polónia pode ser destruída por uma estranha explosão de gás do pântano e assim por diante. Mas nessa altura ninguém daria por isso.

Haverá ainda a grande questão existencial que incomoda o complexo militar/industrial dos EUA: “Será que a Rússia e a China ainda têm medo de nós ou estamos apenas a masturbar-nos uns aos outros? Penso saber qual seria a resposta da Rússia e da China: “Não se preocupem conosco. Continuem apenas a masturbar-se uns aos outros”.

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