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Aplicativo do mal

Será que a eleição presidencial ficará dentro das quatro linhas?

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso - Especial para Notibras/Foto Reprodução

Complexa, confusa, tensionada, ameaçada de fugir das quatro linhas e de difícil prognóstico, apesar da expressiva vantagem de um dos extremos, a eleição presidencial deste ano deverá ser diferente de todas as que já vivi desde 1989, quando o primeiro embusteiro tupiniquim alcançou a maior investidura política do país. Tudo indica que os palácios do Planalto e da Alvorada terão novo inquilino (nem tão novo assim) a partir de 1º de janeiro de 2023. Resta saber a que preço. Por enquanto, de concreto é que, depois do disse me disse e de uma série de acusações sem provas contra o sistema eletrônico de votação, a urna eletrônica terá respostas mais modernas para o eleitor.

Apresentada no início de dezembro, a nova versão do equipamento dispõe de um processador mais rápido, uma bateria mais duradoura e com menor custo de conservação, aprimoramento no teclado para facilitar a solução de eventuais erros, mecanismos de acessibilidade para pessoas com deficiência, entre outras melhorias. Tudo isso é suficiente para que tenhamos uma eleição tranquila e sem máculas? Infelizmente, não. Antes de qualquer reflexão, vale reiterar que, da mesma forma que fora da rede não há peixes, a maior segurança das urnas eletrônica é que elas nunca entram em rede. Por isso, não estão sujeitas a fraudes.

O presidente da República e seus fanáticos apoiadores têm certeza disso. No entanto, vão insistir até a undécima hora com as mesmas iniciativas fraudulentas de 2018. Conhecidas de qualquer estudante de quinta série, essas práticas jamais foram negadas pelos marqueteiros ou familiares do então candidato oposicionista, tampouco pelo próprio. Hoje na situação, certamente elas permanecerão na linha de frente da campanha, principalmente se não forem contidas ou extirpadas as tentativas de intervenção de terceiros. O fantasma da vez atende pelo nome de Telegram, plataforma acusada de atuar sem controle algum do conteúdo compartilhado. Ou seja, é tipo Casa de Mãe Joana, onde predomina a confusão, a balbúrdia, a sacanagem.

A rede do tal Telegram, nascido na Rússia e atualmente com sede em Dubai, permite a circulação de baboseiras de todo tipo, inclusive teorias conspiratórias, conteúdos violentos, desinformações sobre variados temas e venda de armas, drogas e cédulas falsas. É um aplicativo que provavelmente será utilizado pelos disseminadores de fake news, mentiras que novamente podem influenciar negativamente nas eleições. Aí está a a principal chance de o pleito sair das quatro linhas constitucionais. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luiz Roberto Barroso, faz algum tempo tenta evitar o conflito que as novas velhas fake news podem gerar. Por razões óbvias, as correntes do mal não permitem a ação do ministro. Por exemplo, o diretor do aplicativo, o russo Pavel Durov, ignorou todos os contatos já tentados por Barroso.

Sem respostas e disposto a manter o uso democrático das redes sociais, o ministro, com apoio de especialistas de diferentes correntes, pensa na hipótese de banir o Telegram do país. Radicalismo? Pode ser, mas radicalismo se paga com radicalismo. Como disse o presidente do TSE, qualquer ator relevante na comunicação social tem de estar sujeito à Justiça brasileira. O precedente contra a liberdade de expressão não é tão ruim, na medida em que toda liberdade pressupõe uma via de mão dupla. Se uma recusa o diálogo, natural que seja tratada com o silêncio de uma canetada. O Brasil e o mundo sabem que o presidente da República vazou a estrutura interna da tecnologia da informação do TSE, o que obrigou a direção do tribunal a investir pesado na segurança cibernética dos sistemas.

Embora a atitude deliberada do mito em expor o processo eleitoral do país a ataques de hackers não tenha merecido adjetivos de Luiz Roberto Barroso, o fato ultrapassou as raias da irresponsabilidade. Se a ideia era facilitar eventuais novos discursos contra a inviolabilidade da urna eletrônica, o tiro saiu pela culatra. Na verdade, ficou na tomada do gabinete palaciano. Caracterizado pela Polícia Federal como criminoso, o vazamento incomodou a Justiça Eleitoral, mas não preocupou meu amigo Zé, o remanescente dos ninjas. Ele continua seguro da segurança do equipamento e certo de que o voto votado em 2 de outubro será o voto apurado. E não será surpresa se os votos contabilizados forem suficientes para encerrar o pleito já no primeiro turno. Será que Vladimir Putin, o novo amigo, vai deixar? E o sumido Pavel Durov fará parte do futuro encontro no Kremlin, sede do governo russo? Cartas para a redação.

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