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Abaixo a censura

Imprensa que incomoda também corrige desinformação maldosa

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução das Redes Sociais

Muito mais do que devolver a autoestima do povo brasileiro, consolidar a democracia, resolver os problemas da economia nacional, gerar empregos, acabar com a fome e retomar o crescimento, parece que a tese dominante no seio da candidatura que sair vencedora em outubro é muito menor. E tanto faz que seja para a esquerda ou para a direita. Lembra as picuinhas de criança, quando a forra era determinante para o ego, para o físico e para o espírito. Voltando ao tema da última narrativa, a imprensa não é o maior entrave para o Brasil voltar a ser grande, respeitado, ouvido e com voz em qualquer sala de reuniões do planeta. Então, por que a preocupação quase visceral de regulamentá-la? Aliás, o que significa regulamentar meios de comunicação e profissionais do jornalismo?

A ideia é censurá-la como já fizeram em tempos remotos? Será que o objetivo é calá-la de vez como determinado por ditadores perpétuos de países vizinhos? A principal pergunta é demasiadamente simples: do que o povo de lá e o de cá tem medo? A imprensa é livre em toda parte da Terra. Aqui não deve ser diferente, a menos que queiram esconder malfeitos capazes de gerar ações que resultem em processos intermináveis, impeachments sumários, eventuais prisões e o ostracismo definitivo. Sinceramente, a proposta ainda não está clara. O que se sabe é que a imprensa incomoda muito mais do que dois elefantes voando sobre as cabeças de quem não age dentro das quatro linhas (o termo não é meu). O pior é o incômodo intestinal, o susto com as campainhas e com a perda do sono daqueles que atuam na escuridão, que se escondem na imunidade e que agem na contramão das leis.

Difícil imaginar proposições nesse sentido partindo de presidenciáveis experientes, inclusive em cargos de ponta, e que já dependeram da imprensa para atingir patamares inimagináveis. Convenhamos que, por mais forte que seja, militância alguma tem o poder de chegar via satélite ou por meio impresso a milhares de milhões de pessoas ao mesmo tempo com os projetos de seus candidatos. Nem mesmo as fake news conseguem essa proeza. Na verdade, com muita frequência, as inverdades das fakes são corrigidas a tempo de causar estragos. Não é de bom alvitre para ninguém que prega a democracia como melhor forma de governo regulamentar o que incomoda, mas funciona. Então, por não te calas enquanto é tempo? Cautela e canja de galinha ainda são santos remédios para os que têm dívidas com expressiva parcela do povo.

Tudo bem que, no caso daquele postulante com chances reais de vitória, a mídia, sobretudo a televisiva, não agiu com a devida correção. Ele pode ter sido prejudicado – e foi – por uma emissora que, por razões diversas, à época primava pelo jornalismo chapa branca. Era 1989, ano da maior manipulação já vista em um debate político. Erraram e, ao que parece, estão pagando caro até hoje pelo erro. Mas daí a entender que amordaçar o segmento impedirá o povo de acompanhar as mazelas oficiais vai uma distância abissal. A trajetória do vencedor do pleito com debate manipulado foi aquele que se viu. Não chegou sequer à dispersão. Curioso é que querem fazer exatamente o que criticaram àquela época. Imprensa livre é um bem mundial, inquestionável e indivisível.

As greves que marcaram os anos de 1978 a 1980 e a consequente criação de uma importante legenda de esquerda só tiveram eco por causa da imprensa, que já era perseguida, mas conseguia romper barreiras. Persegui-la de novo? A população merece ser informada sobre coisas boas ou ruins. Liberá-la ou monitorá-la apenas para o que é bom realmente não faz parte de nenhum processo democrático. Varrer mazelas para baixo do tapete é uma prática de séculos anteriores. O fato é que a imprensa não deve – e não pode – ser culpada pela conduta ilícita de qualquer ser humano, muito menos acusada de perseguição a esse ou aquele homem público que eventualmente deixa de cumprir com os deveres prometidos à sociedade.

Pior é ser xingada e enxovalhada apenas por investigar e informar, duela a quem duela, ações ilegais ou predatórias de quem (governante ou não) teima em não ser legal. A recente frase de um potencial candidato (de que não tem compromisso com o erro) será cobrada lá na na frente. Embora teime em não aceitar, ele sabe que, por pior que pareça, a imprensa é fundamental para qualquer democracia que ainda luta pela consolidação. Longe de ser uma relação abusiva, melhor entendermos que, diante da constante e perversa espreita da direita, ruim com ela, muito pior sem ela.

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