Falta de fatos
Qual a opção do povo entre o que se foi e o que não consegue ser?
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emPor razões diversas, expressiva parcela dos 150 milhões de eleitores aptos a votar em outubro para presidente da República quer novos ares para o Brasil. De acordo com recentes pesquisas de intenção de votos, pelo menos 70% desse total defende mudanças na política nacional. Obviamente que nem todo esse percentual está fechado com o oposto do extremo que nos governa, tampouco (para ficar claro) com o extremo que nos governa. Há uma grande torcida pela consolidação de uma terceira via. É difícil, mas, desde que não haja virada de mesa, tudo pode acontecer até a contagem do último voto depositado nas urnas eletrônicas. Aparentemente, os 30% restantes são os defensores empedernidos do quanto pior, melhor, os aficionados pelo rompimento com a legalidade.
Embora se mantenha como eleitorado de peso, é claro que, após o excesso de confusões e de bolas fora, já houve defecções no cercadinho compreendido pelos cerca de 30% de parças do capitão. Da mesma forma, ocorreram mudanças positivas de ânimo entre os antipetistas e algumas injeções de bravura que acabaram por desassombrar os petistas roxos. Ainda sem fake nova e agora mais distante dos serviços sujos da ferramenta maldita chamada Telegram, as braçadas dos comandos bolsonaristas em busca de votos seguros terão de ser mais firmes. Tudo indica que, independentemente do que acham e falam um do outro, deverá vencer o menos ruim, o que tiver um programa de governo mais ou menos.
O quadro é dramático. O fato é que o cenário começa a se clarear de vez. Boa parte do eleitorado está decidida entre o que quer e o que não deve querer. Em outras palavras, para eleitores mais céticos, a opção está entre o que se foi e deixou pouca saudade e o que é sem nunca ter sido, isto é, o que não consegue ser. Será eleito quem sobrar dessa peneirada nada cirúrgica. Por enquanto, a preferência é pela volta do Brasil à normalidade. Falta muito, mas faço parte daquela torcida que, mesmo perdendo por 7 a 1 aos 45 minutos do segundo tempo, insiste nos gritos otimistas de eu acredito, eu acredito. E realmente temos de acreditar, sob pena de enfrentarmos mais quatro anos de muita gritaria, pouca sintonia e nenhum trabalho.
Não devemos olvidar que o estágio de letargia começou exatamente em 1º de janeiro de 2019, dia em que o capitão presidente começou sua campanha à reeleição. De lá para cá, o país não passou de um balaio de interesses políticos nada republicanos. Isolados e com altíssima taxa de letalidade por conta de um vírus negado até hoje, os brasileiros de fé desconhecem a próxima curva do futuro. Na verdade, não conhece sequer o caminho percorrido nesse três últimos anos. Respiramos com ajuda de aparelhos e só não atingimos à inanição absoluta por falta de coragem dos “bravos” soldados do radicalismo golpista. Alguns berros togados fora do contexto foram suficientes para silenciá-los.
Nesses últimos dias, as manchetes de jornais, revistas e sites dão um tom mais avermelhado à campanha. Não estou afirmando que essa nova nuance se refletirá no resultado do dia 2 de outubro, mas não há dúvida de que está incomodando. E muito. O Boeing 737-800 começa a perder passageiros e já voa como um teco teco de primeira geração. Solução para isso? Sempre a mesma: tensionar a eleição e acusar de criminoso o ministro que tirou o mel (o Telegram) da boca dos que se já imaginavam vitoriosos no quesito sacanagem eleitoral. Uma dessas manchetes afirma que Jair Bolsonaro “é o rejeitado dos rejeitados”. A credibilidade do texto é a assinatura do comentarista, cujo passado jamais foi de tendência petista. Nada mudou no presente. Pelo contrário. Ele tem verdadeira obsessão por Luiz Inácio.
Também poderia duvidar da afirmação não tivesse lido, quase ao mesmo tempo, detalhes de uma das vertentes mais sugestivas das recentes consultas populares. Preocupantes para quem começou prematuramente a campanha e, por razões não explicadas, canta vitória antes mesmo de seus oponentes se mostrarem de fato, os dados revelam que o antibolsonarismo continua vencendo o antipetismo. Pode não ser relevante, mas é sintomático para um presidente que tenta, tenta, tenta, mas não consegue produzir fatos. Se embanana nas fake news, se enrola nas mentiras e, agora, se perde na contagem de votos que nunca teve para além do tablado do Congresso Nacional. Finalmente despertei com a demissão do pastor Milton Ribeiro, ministro da Educação que odeia educar, mas ama pastorear o gado mais chegado ao mito. Tudo pela reeleição. É assim que caminha o Brasil. Ou não?