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O golpe

Defesa e Exército soltam nota polêmica sobre 64

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Bartô Granja, Edição - Foto de Arquivo

Sob chancela do ministro Braga Netto, uma nota conjunta foi divulgada na noite desta quarta-feira (30) pelo Ministério da Defesa e pelo comando do Exército, versando sobre o golpe que afundou o Brasil na ditadura militar por 21 anos.

O texto causou revolta nas redes sociais – internautas levantaram no Twitter a hashtag “ódio e nojo à ditadura”, frase histórica proferida pelo político Ulysses Guimarães após a Assembleia Constituinte, que definiu os parâmetros da Constituição Federal de 1988 e marcou a redemocratização do país.

Braga Netto, que teve uma ascensão meteórica desde que ingressou no atual governo, deve ser candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição. Ele está deixando o posto de chefe da Defsa.

No documento denominado “Ordem do Dia”, Braga Netto classificou o golpe militar como “Movimento de 31 de março de 1964”.

“O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época”, diz a introdução do texto.

O termo “movimento” em alusão direta ao golpe militar já havia sido usado em anos anteriores pelo governo Bolsonaro. A nota prossegue dizendo que “a história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização”.

O comunicado veio no mesmo dia em que Bolsonaro voltou a ameaçar o Judiciário sobre o resultado das eleições de 2022.

“Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional”, prossegue a nota.

O regime enaltecido por Bolsonaro e Braga Netto foi marcado por perseguição política, censura, tortura e assassinatos. Embora os números sejam pouco precisos, a estimativa é a de que mais de 20 mil pessoas tenham sido torturadas ao longo de 21 anos de vigência da ditadura militar.

“Traidor da Constituição é traidor da pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do parlamento, calotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”, disse Ulysses Guimaråes, em 5 de outubro de 1988, quando a Carta Magna foi promulgada.

Na época, pessoas levadas aos porões relataram terem sido submetidas a choques elétricos, estrangulamento, afogamentos, socos, estupros e outras agressões. Em muitos casos, os torturados não sobreviveram. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a Comissão da Verdade, instaurada em 2014, indicou 191 mortos e 210 desaparecidos em decorrência da perseguição dos militares. Outros 33 corpos foram localizados posteriormente, totalizando 434 pessoas assassinadas no período.

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