Escolhas e consequências
Conta do irresponsável chegou (e todos pagaremos)
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emCaso raro no mundo moderno, o Brasil “esnoba” as grandes economias do planeta e alcança, sem muito esforço, a maledeta tríplice coroa econômica. É um patamar recorrente e preocupante, mas, de acordo com os defensores do caos, tudo dentro da normalidade. Não sou expert na matéria, mas soa muito mal entender como normal um país com taxas de dois dígitos em quesitos como inflação, juros e desemprego. Conforme recente levantamento de uma dessas agências de classificação de risco, a única similaridade é a Turquia. Rússia e Argentina se salvam apenas no item desemprego. Já a Espanha e a África do Sul têm mais desempregados, mas inflação e juros bem menores.
Não sou turco, russo, portenho, espanhol ou sul-africano. Portanto, os comparativos são apenas ilustrativos, embora sirvam para mostrar que, depois do encantamento com nossa inclusão entre as oito maiores economias mundiais, hoje temos de nos contentar com uma inferioridade econômica que assusta até nações emergentes. Em resumo, estamos bem mais próximos da venezuelização do que imaginavam os críticos ferrenhos e fanáticos da esquerda e do petismo. Na verdade, estamos a um passo disso.
Basta que se confirme a reeleição do candidato que avalia o Brasil como um prédio de dois andares, sem elevador e habitado exclusivamente por senhores de farda. Afora a falta de valores, o retrocesso em questões muito caras para o povo brasileiro e a irresponsabilidade como as coisas públicas são tratadas contribuíram para que chegássemos onde chegamos. E alcançamos esse terrível patamar por nossa máxima culpa. A deterioração do Estado brasileiro não é um fenômeno sobrenatural, tampouco surgiu do nada. Não foi um movimento solo. Nós votamos. Nós escolhemos. Na verdade, parte do eleitorado escolheu.
A conta chegou com a rapidez de um raio. Infelizmente, salgada para todos. Mesmo assim, nem todos assimilaram uma das máximas da filosofia materna: viver é se equilibrar o tempo todo entre as escolhas e as consequências. Lembro que o maior líder da história nos ensinou que é a humildade que nos faz grande. Tudo bem, mas difícil é, após 25 anos de estabilidade, ter grandeza com uma espantosa inflação de 12,13% em 12 meses (1,06% ao mês). Ainda mais difícil é concluir que pago um alto preço, mesmo não tendo participado dessa folia animada, divertida, barulhenta e violenta em que se transformou o governo e da qual o povo não participa.
Desemprego, inflação e juros escorchantes são apenas alguns dos atos da pantomima. Viveremos cenas piores no teatro em que o astro da companhia se esconde, aparece somente para meia dúzia e, quando sai de sua masmorra palaciana para atear fogo no país, ou está de capacete ou se exprime unicamente por meio de gestos. Ou seja, foge das responsabilidades do cargo como o vampiro da cruz. Fácil ser artista sem texto. Muito mais fácil é se fazer de desentendido quando se é obrigado a analisar planilhas fundamentais com dois dígitos e avaliá-las como fakes. Não precisamos de ninguém parecido com Pompeia, a mulher do imperador César.
No entanto, temos de nos aculturar politicamente. Nada de cursos longos e desnecessários. Qualquer intensivo sério nos mostrará que, antes de defender publicamente a subversão, um governante tem de ser, parecer e mostrar conhecimento. O mundo precisa de pessoas felizes e não perfeitas. Está na hora de seguirmos em frente, esquecendo o tenebroso presente e deixando o passado no lugar dele.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978