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Espumas ao vento

Modus operandi das campanhas eleitorais é que forja o perdedor

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Chegamos a uma situação de caos político quase absoluto. Teremos de votar e ponto. Não tenho como bater martelo, mas acredito que boa parte dos brasileiros votará mais por obrigação constitucional do que por vontade cívica. Tomara que esteja errado. Talvez exclua dessa afirmação os nordestinos, cuja maioria de votos, de acordo com as últimas pesquisas, já tem dono. É algo como uma encruzilhada política. Ou é simpático àquele povo sofrido ou experimentará um sonoro não nas urnas eletrônicas. E não adianta simpatia de última hora, tampouco migalhas extemporâneas e com data de validade. A performance dos baianos nesse fim de semana foi uma espécie de ensaio geral do Nordeste para o dia 2 de outubro.

Com a baianidade e o axé que lhes é peculiar, eles receberam pelo menos quatro potenciais presidenciáveis. Entretanto, os tambores rufaram de forma mais barulhenta para um ou dois. Mais objetivamente para o 13 e para o 22. Natural que seja assim, pois são os que dispõem de mais espaço na mídia. O que chamou atenção foi a forma como ambos participaram da celebração da Independência da Bahia. De forma mais entusiasmada e mais próximo do povão, o 13 preferiu um cortejo cívico ao lado de militantes. Entusiasta da elite, o 22 optou pela chata, cara e enfadonha motociata, da qual somente participam os que adoram ouvir mais do mesmo. Não é sob duas rodas que alguém conseguirá reverter uma desvantagem de quase 60%.

Talvez um marqueteiro mágico. Em resumo, parece claro que o modo como participaram da festividade mostrou de que lado os dois candidatos estão. Nada muito diferente de uma encruzilhada política. É um cruzamento de esquinas, ruas e avenidas que, obrigatoriamente, passará pelos jovens e pobres do Nordeste. Curioso é que nem o Auxílio Brasil alterou o perfil dos votantes da região. Galinha com farofa não faz mais cabeça de ninguém. Agora, a Inês está morta. O modus operandi da campanha é que forja o perdedor. Claro que ainda há tempo para reviravoltas, mas como diz um trecho de uma bela canção escrita pelo falecido poeta pernambucano Accioly Neto, “amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada… Se avexe não”.

Denominada A Natureza das Coisas, a canção antecipa metaforicamente situações bem próximas da razão do eleitorado nacional: “Se avexe não…A lagarta rasteja até o dia em que cria asas. Se avexe não…Que a burrinha da felicidade nunca se atrasa…Se avexe não…Amanhã ela para na porta da tua casa”. Portanto, atendendo aos apelos do também autor de Espumas ao Vento, esqueçamos o avexamento e lembremos que tudo depende de nós, inclusive um amanhã diferenciado.

Nada está tão ruim no Brasil que não possa piorar. Para isso, basta ocorrer aquilo que pelo menos dois terços da população não desejam. Desnecessário repetir a ladainha contra o mito de barro. O desejo é público e notório. Necessário é que a escolha não seja a mesma. Afinal, além de Deus, ninguém pode ser perfeito, mas todos podemos ser melhores. Só depende de nossas escolhas.

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