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Caranguejal de brucutus

Quem tiver mais votos leva eleição, não quem der tiros

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Parafraseando o ex-jogador Dario (o que parava no ar), não existe derrota feia. Feio é ganhar no tapetão, fora das quatro linhas. Pior ainda é perder e ameaçar não entregar o trono. Não estou tentando roteirizar uma narrativa de futebol, tampouco especular sobre o enredo de um daqueles dramalhões mexicanos. Falo de uma hipótese cada vez mais cristalina do futuro político do Brasil. Se avizinha uma das disputas presidenciais mais acirradas dos últimos tempos. E, ao contrário do que prega a democracia, o acirramento não será somente no voto. Em nome da honestidade e da reeleição a qualquer custo do 22, representantes do 13 começaram a morrer a tiros disparados pelas armas em poder dos loucos e desvairados.

Por essa razão, o resultado das urnas é imprevisível, mas há uma possibilidade concreta de o atual presidente não ser reeleito. Considerando as recentes pesquisas de intenção de votos, ela não é remota. Pode até não ocorrer, mas, caso ocorra, tem de ser aceita como decisão democrática. O problema é que, para determinado lado, o voto e a Constituição são meros detalhes. O primeiro nada vale se não for favorável; a outra embrulha o estômago quando tem de ser seguida. Em lugar algum do planeta esse tipo de prática deveria fazer parte do jogo. Na verdade, no mundo globalizado ela é observada somente em meia dúzia de países, entre eles os novos “irmãos” Rússia e Hungria.

Na corrida eleitoral, nada é definido antecipadamente. Como diz o ditado, tudo pode acontecer, inclusive nada. Vale lembrar que, por mais que se propague que o eleitor é ignorante, é ele quem decide intimamente suas escolhas. Ao longo de minha existência, conheci muitos presidentes, mas não conheci tudo de todos. Nessa vida, quem pode menos chora mais. De concreto, o que temos é um passivo político continental que ficará insustentável no caso de vitória do extremo ora mais radical. É uma preocupação mundial, mas, como prega o latim, alea jacta est. No politiquês mais ortodoxo, a sorte está lançada. Tudo bem. E que vença aquele que tiver mais votos. O que precisa ser rompido no Brasil é o muro da disputa entre a democracia e a autocracia.

Em pleno século XXI, esse tipo de conceito é muito mais do que anacrônico. É perverso, destrutivo e maquiavélico. Não cabe mais qualquer alusão ao regime em que um governante detenha poder ilimitado e absoluto. O Brasil é de todos e que assim permaneça. Conhecido o resultado da eleição presidencial, que o vencedor deixe de pensar no próprio umbigo. É necessário ativar o modo convergência, olhar adiante e esquecer de vez a opção retrocesso. Matar por ideologia em festa de aniversário era uma máxima usada pelos primatas e brucutus. Embora saibamos que, passados 400 mil anos, eles ainda estão entre nós, o modus operandi do homem de Neandertal ficou no período Pleistoceno Médio da Europa e do Oriente Médio. Felicidade e liberdade devem ser as novas palavras de ordem.

O Estado precisa voltar a funcionar plenamente. Com respeito aos direitos individuais e coletivos, certamente voltaremos a ter uma sociedade harmônica, com espaço para petistas, bolsonaristas e patriotas lunáticos. Por enquanto, foquemos no degrau à nossa frente e não na escada toda. O melhor dia de nossas vidas é sempre aquele que estamos vivendo.

Em um discurso de incentivo a mais violência política, o mito Jair Messias foi taxativo ao afirmar que “tudo que não presta está se juntando ao lado de Lula”. Pode ser. Todavia, esse povo talvez esteja se juntando para tentar derrotar tudo que não presta e que faz parte do caranguejal de brucutus do mito. Reclamar do assassino do guarda municipal Marcelo Arruda ser identificado como bolsonarista é puro esperneio.

Da mesma forma que o pacote de bondades não provocará os resultados esperados pela máquina do presidente. Os índices dessa segunda-feira (11) são tão eloquentes quanto os gritos dos apoiadores mais radicais e com força idêntica ao esquartejamento na Amazônia e ao tiro que interrompeu a comemoração de 50 anos de Marcelo Arruda. São 40% de intenção de votos a favor de Luiz Inácio e 30% para Bolsonaro. É a partir desses números que teremos chances de consertar erros do passado e a oportunidade de preparar um futuro melhor. Pensemos nisso. Permitir vitória no tapetão é o mesmo que dar um cheque em branco a quem não sabe onde assiná-lo.

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