Lei do retorno
Governo do ‘mito’ chega ao fim com gosto de café requentado
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emAssociados aos pífios, ínfimos e temidos índices econômicos e sociais do governo, os números das últimas pesquisas de intenção de votos demonstram que a toada de grilo está por uma única nota. Talvez um dó sustenido. Quem sabe um ré médio, um fá minguado ou um si natimorto. Nessa altura do campeonato eleitoral, pouco importa. Relevante é perceber que o caranguejal bolsonarista está apavorantemente enlouquecido. E não é para menos. O risco de repetir a performance do mestre Donald Trump e perder ainda no primeiro turno realmente apavora aqueles que sempre se acharam superiores a tudo e a todos.
Pensavam como robocops sem armaduras até que descobriram que estão mais para siris na lata, isto é, esperneiam, gritam, xingam, ameaçam, atacam, matam em festa de aniversário, mas não saem da mesmice, não conseguem se movimentar além do próprio nariz. A preocupação maior é dos caranguejos mais robustos. Estes temem ter seus nomes limitados a registros em lápides frias do cercadinho palaciano. Com todo respeito, não merecem mais do que isso. E não foi por falta de aviso. A pedra foi cantada lá atrás por integrantes sérios do governo, defenestrados sem abraços e agradecimentos por dizerem a verdade a quem está acostumado a somente pronunciar e ouvir mentiras.
Esse povo mais fanático, o que fecha com a divindade governante, esquece que a lei do retorno foi criada para estabelecer um equilíbrio no mundo. Por exemplo, não tiveram o devido cuidado com o que fariam. E fizeram. Também esqueceram que sabidamente a mesma energia que se emana retorna em dobro. Longe da filosofia dos pensadores, é dizer que todos somos livres para termos nossas próprias escolhas. Todavia, essa mesma liberdade será aplicada quando nos sentirmos prisioneiros das consequências dessas preferências. Perdoem-me o clichê, mas qualquer semelhança com o momento atual é mera coincidência.
Apesar da truculência contra tudo e todos que fecham com as ranhetices, o resultado está aí. A superioridade temporária parece que foi mesmo apenas uma pá de cal. Para a maioria, a magia acabou para sempre. Hoje, o governo do mito tem um gostinho de café requentado ou de vulcão extinto, algo parecido com uma frase capitular de Mário Quintana, para quem a “eternidade é um relógio sem ponteiros”. Do outro lado, onde reside boa parte dos brasileiros enojados com a tal cantiga, está a Pasárgada, tal e qual o poema do modernista Manuel Bandeira. Pode ser que acabemos com os burros na água, mas vamos votar com a esperança de recuperarmos o país.
Temos o direito de novamente idealizá-lo com o perfil de nação inventada para a solução de nossos problemas. Não esperemos, como o poeta, um local maravilhoso, no qual só haja espaço para os prazeres das vida. Devemos sonhar acordados, preferencialmente com os dois pés no chão preto da Terra Brasilis. No entanto, ainda que o novo rei desaponte, pelo menos poderemos montar livremente em burro brabo, andar solto de bicicleta, subir sem preocupações no pau-de-sebo e tomar banho de mar sem ser vigiado por maluquetes fundamentalistas. Em síntese, mil vezes a roubalheira à tirania, dez mil vezes os supostos ladrões aos ditadores assumidos. Não há hipótese de abrir mão de um governo democrata, venha ele de onde vier.
Temos a obrigação de respeitar o direito dos seres humanos anacrônicos, fanáticos e manipuláveis. Como eles preferem o rótulo de marionetes sem limites, opto por aqueles que merecem meu esforço. Infelizmente, no mundo de hoje as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, enquanto os estultos destilam certezas das quais eles mesmos duvidam. Resta saber em que grupo nós nos alinhamos. Decidi que não discutirei mais com os parvos. Temo que os outros não consigam diferenciar. A lógica é simples. Ganha quem tiver mais votos em outubro. Hoje, conforme as últimas pesquisas, a diferença entre um e outro se mantém em cerca de dez pontos percentuais. Ainda que pequena, a vantagem é sinônimo de fé. Mesmo que não nos preparemos para a guerra, precisaremos dessa fé no momento de convencer o perdedor da derrota.