Ratos abandonam o barco
Ameaças e medo do PCC fazem PF garantir seu pirão primeiro
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emParece HQ, romance e literatura policial com pinceladas maquiavélicas, mas é verdade. Como diria Shakespeare, há algo de podre no reino. Do nada, a Comunicação Social da poderosa Polícia Federal anunciou por esses dias que a Instituição transferiu um dos seus integrantes para o exterior pelo simples fato de pairar no ar uma suposta ameaça do PCC, facção criminosa que, até então se acreditava, fazia medo apenas a bandidos de outras gangues.
Ah, meu caro Holmes (diz Watson, entrando em cena) que análise de risco fundamentou tal decisão? Meramente como garantia d vida? Difícil é acreditar nessa história. ‘Estória d cobertura’, lembra ele, é como a doutrina de inteligência denomina a técnica operacional que trata dos procedimentos usados para encobrir a realização de ações sigilosas, mais conhecida como mentira.
Sherlock responde a seu braço-direito, que ouve incrédulo: 1) a ameaça do Primeiro Comando da Capital seria de sequestrar autoridades da Polícia Federal. Logo, do que adianta enviar um ou poucos policiais ao exterior se o restante permanecerá no Brasil? 2) quem garante que um exílio seria suficiente para evitar uma retaliação do PCC? Seria uma confissão de que a Polícia Federal não consegue garantir sequer a integridade de suas próprias autoridades?
Um delegado integrante da Operação Alabama*, bem ao estilo Poirot, aguça os ouvidos, solta a língua e dá um pitaco, bem fundamentado, como quem diz estar preocupado com o excesso de teoria e a falta de praticidade: não é procedimento enviar alguém para fora do país em caso de ameaça pelo crime organizado, afirma, categórico.
Tanto, acrescenta o emissário de Aghata Christie, que existe na Polícia Federal uma coordenação de proteção a pessoa, que inclui a segurança das testemunhas ameaçadas. Não se envia ao exterior justamente porque não se pode garantir a segurança de alguém fora de sua circunscrição. Ou seja, como proteger alguém em outro país onde não se tem a prerrogativa de um órgão de Estado?
Outra coisa que não ficou clara nesse ‘exílio’ intempestivo: tal ameaça está sendo investigada em inquérito policial? Até porque, trata-se de um crime contra um policial, algo muito grave e que a polícia deveria saber como administrar, seja pedindo a prisão ou transferindo para um presídio federal, a depender de quem está ameaçando. E mais: será esta a primeira vez que um policial é ameaçado?
Batman, acionado por meio de vídeo conferência, iniciativa do seu fiel escudeiro Robin, apresenta a sua versão: os policiais federais, mesmo os mais altos dirigentes com cargos de confiança, já perceberam que no próximo mês será dado cartão vermelho ao chefe supremo.
Aliás – interfere Coringa, com uma carta na manga -, falando em cartão, existe (aí no Brasil) um coordenador de segurança de presidenciável mais bem colocado nas pesquisas dando cartão azul a torto e a direito. Sem papas na língua, o adversário de Batman sustenta que Andrei, que se intitula o próximo Diretor-Geral da Polícia Feral, tem avisado seus colegas que estão nos cargos em comissão que devem se arrumar que ele vai passar o rodo e trocar todo mundo
Ah, intervém Holmes, como quem elucida o caso. “É por esta razão que muitos policiais estão buscando os disputados postos no exterior, uma vez que a permanência mínima lá fora é de três anos, decorrente das altas indenizações pecuniárias pela movimentação internacional”.
Para matar o enigma, outro personagem entra em cena e encerra o assunto. Ninguém menos do que o Charada para esclarecer tudo: o que se quer com tal notícia de exílio por segurança é enganar o Planalto, que precisa autorizar a debandada para o exterior. Pelo que parece a estória tem colado.
Isso mesmo, concorda Super Man, fazendo as vezes de papagaio de pirata de óculos escuros por temer uma kriptonita infiltrada. “Não é muito difícil enganar os tolos. Mas, para cima de nós, não!”.
A turma do PCC, com seus equipamentos de segurança camuflados e com informações colhidas do Notebook levado do Park Way, faz seu próprio relatório. E espalha medo com ameaças que, se o pessoal do lado de cá fosse mais sério, deixaria que entrassem por um ouvido e saíssem pelo outro. Mas a PF, acuada, fecha as portas com travas de segurança para garantir a vida dos que ficam por aqui. Pelo visto, está faltando um Eliot Ness na corporação.
*Operação Alabama é o autointitulado grupo progressista de delegados da Polícia Federal, que age paralelamente em alternados momentos de folga, principalmente na segurança do presidenciável Lula, por temerem um atentado contra a vida do candidato. Na escala da própria PF, os riscos vão de 1 a 5. Para o caso de Lula, o nível é 6.