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Prontidão de fanáticos

Medo do comunismo esconde até desvios de conduta

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Mathuzalém Júnior* - Foto Marcello Casal Jr

Politizado, esculhambado e desprezado como uma festa cívica, alegre e com presença maciça do povo, o Dia da Independência talvez nunca mais seja o mesmo. Uma das datas nacionais mais importantes, o dia 7 de setembro de 1822 deu início a nossa trajetória como nação independente. A partir de então, cortamos os laços coloniais com Portugal e iniciamos um novo período cultural, sociológico e histórico. No entanto, após o grito de Dom Pedro às margens do Ipiranga, acordamos em 2022, 200 anos depois, com um outro imperador querendo mandar tudo às favas. Refiro-me ao mito Dom Narciso I, cuja proposta é golpear o Brasil e seu povo simultaneamente às margens da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, e nas avenidas largas da Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Embandeirados e enlouquecidos, os fanáticos estão de prontidão desde 7 de setembro de 2021. Todavia, “corre um boato aqui donde eu moro” e por toda a Esplanada que, novamente, sua majestade esbarrará no resmungo das leis e na ruminação de autoridades tão ou mais marvadas do que ele. Excelência por excelência, com toda certeza a sociedade ordeira já sabe de que lado ficará. E a resposta virá definitivamente em 2 de outubro, isto é, daqui a exatos 26 dias. Deixando os finalmente para as urnas, vale a pena dar uma passada pelos entretantos. Entre os fatores que causaram a Independência do Brasil, a maioria dos historiadores destaca a crise do sistema colonial, as ideias iluministas e as independências ocorridas nas Américas inglesa e e espanhola.

Como Dom Pedro já governava desde a volta de D. João VI para Portugal, a libertação do jugo colonial não resultou em transformações políticas e sociais profundas. No entanto, serviu para que o país se tornasse soberano e se organizasse como monarquia. Sucederam-se as crises até a destituição e exílio de D. Pedro II, destronado pelo golpe republicano de 15 de novembro de 1889. Duas das principais causas da Proclamação da República – disputas políticas e a consolidação do Exército como instituição profissional – voltam à berlinda agora. A exigência pela modernização nacional fez com que muitos civis e militares enxergassem na república a solução para o império, uma vez que a monarquia começou a ser considerada como incapaz para as demandas da época.

Com o governo provisório comandado por Manuel Deodoro da Fonseca, Quintino Bocaiúva, Benjamin Constant, Ruy Barbosa, Campos Sales e Floriano Peixoto, foram trocados alguns símbolos nacionais e surgiram novos heróis, entre eles Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Foi um período complicado. Escritores de então tinham certeza de que a proclamação significaria o fim do Brasil como nação. Erraram redondamente. Passados dois séculos da Independência e 133 depois da instalação da República, estamos novamente com uma oportunidade de ouro para mostrar ao mundo que a libertação de Portugal nos fez grandes e capazes de superar adversidades inventadas por incapazes. A retórica beligerante de um dos presidenciáveis para este 7 de Setembro não tem a menor condição de prosperar. Da mesma forma, não há hipótese de apoio popular às manifestações políticas articuladas pelo representante do radicalismo e do retrocesso.

Com pretextos exclusivamente eleitoreiros, sua excelência Narciso I quer transformar o Dia da Independência em demonstração de força militar para garantir sua permanência na Presidência da República, mesmo em caso de derrota. O jogo de cena jamais foi imaginado no Brasil pós-Deodoro. Nem os generais mais autoritários usaram as Forças Armadas em benefício próprio. Utilizaram-nas para salvaguarda de “mandatos”, controle de liberdades e até para manipular emoções da população. Nunca um desfile militar foi usado como cabo eleitoral. Triste do país em que o povo admite se desfazer de um voto para atender pedidos narcisistas. Triste, mas provável. Os bolsonaristas raiz – os mesmos que apostam no quanto pior, melhor -, certamente estão de prontidão e secos para vincular a escolha ao medo do comunismo.

Não sabem sequer o significado do termo, mas hipocritamente o escolheram para justificar suas falhas de conduta. Poderiam, pelo menos, propor ao tenente presidente um desfile em homenagem ao povo sofrido com os níveis de desemprego, oprimido pela fome e enclausurado em suas próprias casas pela violência urbana. Não farão porque não sabem como fazer. Na verdade, não sabem do que estão falando. E ainda se dizem patriotas, daqueles que se enrolam na Bandeira Nacional, mas desconhecem seus simbolismos. Provavelmente nunca estudaram a razão das 27 estrelas de cinco pontas ou do lema Ordem e Progresso. Desnecessário para quem nada representa para o Brasil, embora se ache suficiente como cidadão abstrato e invisível.

Na ausência de tutano, demonizar candidaturas alheias é muito mais fácil do que apresentar propostas e discutir ideias. Graças a Deus não conheci ou convivi com D. Pedro I, tampouco com o marechal Deodoro. Tenho vergonha de imaginar o que eles estão “vivendo” no túmulo. Triste do país que acredita em déspotas como messias capazes de usar o branco da paz e o verde da esperança para solucionar mazelas, boa parte delas criada pela incapacidade de governar. Triste do povo que divide um país com eleitores que sonham com a volta do autoritarismo e da tirania. Parafraseando Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, “a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor do que ela”.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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