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Quem é o mentiroso?

Eleitor deve usar inteligência e razão para derrotar fake news

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Reprodução/Agência Sindical

No auge da guerra fraticida do déspota Bashar al-Assad contra seu próprio país, a Síria, um dia recebi – acho que pelo zap – a informação de que 1,8 milhão de sírios estavam em deslocamento para o Brasil. Obviamente que era alguma coisa alarmista, mas, pelo tamanho do texto, resolvi consultar, além de sites sérios, a inteligência de minha alma antes mesmo de concluir a leitura. Como havia imaginado, era apenas uma dessas maldosas, irresponsáveis e sacanas fake news. Lendo o restante da suposta matéria, soube que os sírios estariam a bordo de algo próximo de 100 embarcações, com atracamento previsto para Goiânia. Ora, qualquer menino de quinta série sabe que 1,8 milhão de pessoas não cabem em apenas 100 barcos. Como os maiores transatlânticos carregam no máximo dez mil passageiros e tripulantes, precisariam de pelo menos mais 80 desses.

O pior dos absurdos é que Goiânia, em pleno cerrado, fica a cerca de mil quilômetros do mar. Esse exemplo de imbecilidade e de sacanagem com a boa fé alheia não é muito diferente do que fez recentemente a senadora eleita pelo Distrito Federal Damares Alves. Segundo ela, crianças da Ilha de Marajó estavam sendo traficadas para o exterior para serem usadas sexualmente e em sacrifícios. Mais uma deslavada mentira dos que pregam o ódio em nome do poder a qualquer preço. Não tenho estômago para assistir a propaganda eleitoral dos presidenciáveis, mas é público e notório que o entorno de um dos candidatos – com sua aquiescência, é claro – tem usado de todos os argumentos possíveis e imagináveis para desqualificar o adversário.

Dando nome aos bois, as fake  produzidas a pedido de Jair Bolsonaro colocam Luiz Inácio como um ladrão de péssima reputação, talvez de quinta categoria. E ele não é tudo isso. É bem verdade que teve seus dias de comando nefasto, pagou caro, mas não é o diabo que o bolsonarismo teima em pintar de vermelho-inferno. Lula da Silva esteve preso e, por conta disso, acabou gerando um anti-herói transformado em político subserviente de um esquema do qual foi expulso em rede nacional e sem tapinhas nas costas. Coisas da famigerada política brasileira. Coisas do povo, que, por razões diversas, elege qualquer um para cargos honrosos, inclusive magistrados que usaram a toga como trampolim para o poder eterno.

Os eleitores letrados, crédulos e mais distantes do fundamentalismo criminoso jamais ouviram Lula dizer que fecharia igrejas, hospitais, postos de saúde ou escolas. A criminalidade no Brasil está pela hora da morte, mas não é culpa do petismo ou de seu líder. E falo isso sem recibo, porque deles nunca tive e não tenho qualquer aproximação. A fome e o desemprego também são questões antigas e, se cresceram, foi agora, quase seis anos após o fim da administração vinculada ao PT. Ao contrário do que dizem, Lula não sataniza as igrejas evangélicas e nunca ousou invadir as católicas ou ortodoxas. Argumentações contra o petismo e seu mentor são numerosas. Ocorre que, como diz o velho e sábio bioditado, pau que dá em Chico dá em Francisco. Em outras palavras, argumentos contra o cidadão, o presidente e o candidato Jair Bolsonaro, o Brasil e o mundo têm de sobra. Ou seja, contra as fake do ódio o melhor antídoto devem ser a inteligência e a razão, dois dos maiores investimentos do ser humano de bem.

Mas, de que servem tantos argumentos se quem precisa mostrá-los à exaustão não quer ou não sabe usá-los? Luiz Inácio não diz, mas poderia dizer que não foi ele quem atrasou a compra da vacina contra a Covid-19, quem fez pouco caso da pandemia, debochou de quase 700 mil mortos, cortou 60% dos recursos do programa Farmácia Popular, sucateou o Ibama para evitar fiscalização sobre o desmatamento ilegal da Amazônia, nada fez contra a criação do orçamento secreto ou contra a compra de viagra superfaturado, negligenciou do esquema das barras de ouro no MEC, decretou sigilo de 100 anos contra denúncias de corrupção envolvendo seu nome, facilitou a venda de armas, especialmente para o crime organizado, produziu uma das maiores inflações do mundo e recolocou o Brasil no mapa da fome. Na verdade, nem precisa narrar, pois, embora incômodos, todos são fatos públicos e notórios.

Portanto, quem é o mentiroso? Por isso, para a turma do atraso e que propaga gratuitamente o ódio, as fake news são o que de melhor ocorreu no Brasil moderno. E o que dizer das pesquisas? Para o agrupamento que torce pelo caos, as malditas pesquisas devem ser banidas do país. Elas são avaliadas como mentirosas, principalmente quando mostram o verdadeiro desejo da maioria do eleitorado. Boas são as que maquiam números e induzem os despreparados ao erro. Ainda bem que, como prevê a Bíblia, certamente o bem vencerá o mal, que é exatamente representado por quem diz querer combatê-lo. Pois bem. Que em 30 de outubro vença o que melhor convencer o povo brasileiro. O que posso assegurar é que a política é nojenta. E onde há nojeira nem sempre ganha o mais preparado. Conforme o resultado, que estejamos preparados para mais quatro anos de um nauseante e repulsivo abandono.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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