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O tresloucado

Bolsonaro vai virar miliciano virtual para tentar minar Lula

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Autor/Imagem:
Fernando Tolentino - Foto Valter Campanato

Durante praticamente um mês e meio o ainda presidente teve raríssimos compromissos públicos e praticamente nenhuma agenda. Estranho para qualquer trabalhador, que acorda na madrugada, enfrenta o batente e só chega em casa tarde da noite.

Só se tinha claro o seu inconformismo com a derrota eleitoral. Timidamente, chegou a desestimular, em uma fala, os violentos bloqueios de estradas de seus adeptos, mas demonstrou simpatia pela ocupação das vizinhanças de quartéis do Exército, com insistentes apelos a um golpe militar.

Escondeu-se tanto que Lula passou a ocupar o espaço vazio e quase a governar por antecipação. Mas a partir da diplomação de Lula, ficou claro o que Bolsonaro maquinava.

Se Lula praticamente já se comportava e passou a ser visto como presidente mesmo antes da posse, ele como que aceitou o jogo. Partiu para tentar ocupar o espaço da oposição antes mesmo do término do mandato. E faz isso bem ao seu estilo. Falta coragem para já assumir a linha de frente, mas fica claro que fará oposição ocupando as ruas com milicianos armados e determinado a criar um estado de instabilidade política.

As ruas de Brasília viram isso com toda clareza na noite de segunda-feira, 12, e madrugada de terça-feira, 13 de dezembro. Havia um pretexto, a revolta com a prisão de José Acácio Serere Xavante. Quem? Um pastor que se passa por cacique do povo Xavante. Apoiador de Bolsonaro, notabilizou-se por manifestações acaloradas contra a vitória de Lula, reclamando que as Forças Armadas impedissem a sua diplomação e posse.

Não faltou um gesto de evidente estímulo para levar a revolta às ruas. O presidente atraiu para o Palácio da Alvorada parte dos golpistas até então instalados nos jardins do QG do Exército, sua esposa passou a distribuir lanches e foi acolhido no interior da residência presidencial o blogueiro e agitador Oswaldo Eustáquio, receoso de ser também preso, dadas as suas falas explosivas, inclusive com ameaças a Lula e ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.

De um lado, um rastro de destruição: cinco ônibus e dez carros incendiados, um deles junto a um posto de combustíveis, depredação de lojas, de uma delegacia da Polícia Civil e da Polícia Federal, que sofreu tentativa de invasão.

Além disso, centenas de brasilienses que não tiveram como voltar para casa, pois as empresas recolheram os ônibus. Eu e uma amiga resolvemos acudir estudantes do turno da noite, ilhados na UnB. Por volta de meia noite, conseguimos resgatar oito deles em dois carros. Para quem conhece as distâncias de Brasília, levei os que moram no Riacho Fundo I, Riacho Fundo II e em Samambaia. Ela transportou outro grupo para diferentes pontos da Ceilândia.

Do outro lado, policiais militares praticamente dóceis, testemunhas inertes daquele terror em pleno centro de Brasília, sem uma só prisão. O ministro da Justiça não se afastou do seu jantar em um elegante restaurante da cidade. E o ainda presidente não interrompeu o seu silêncio, mesmo no dia seguinte.

Tudo indica que esta vai ser a toada até o dia da posse do seu sucessor. A partir daí, ninguém espere um governo omisso, negligente diante de atos incendiários que busquem desestabilizá-lo.

Mas como reagirão os manifestantes que, hoje, ainda acreditam que uma intervenção militar impedirá a posse de Lula? A partir daí, quantos continuarão à sua disposição, até para desencadear ações terroristas em Brasília e nos estados?

Quantos dos milhões de brasileiros que optaram por sua candidatura verão com simpatia esse modo de fazer oposição?

Além disso, quantos parlamentares da sua base atual, quantos governadores ele conseguirá arrastar para essa atitude tresloucada de enfrentar o novo governo?

Bolsonaro conseguirá esvaziar a oposição formal e assegurar o centro das atenções, atraindo parte substancial da opinião pública para si? Ou se isolará, dirigindo-se a uma seita, um grupo cada vez menor de súditos perambulando pelas ruas e destruindo não mais o Estado, como fez no governo, mas os patrimônios individual e coletivos?

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