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Fora Jair, Neymar e Tite

Brasil ainda terá de volta a boa política e o velho futebol

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Hanna McKay

Depois de uma Copa do Mundo em que tudo conspirou contra o Brasil e a favor da Argentina de Lionel Messi, vimos um grupo de jogadores famintos por um título erguer a cobiçada taça em pleno deserto e a uma temperatura bem mais elevada do que a de Brasília, onde daqui a duas semanas ocorrerá a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de distante da festa portenha e longe de um título mundial há 20 anos, a ex-pátria de chuteiras ganhou um campeonato bem mais importante para pelo menos dois terços dos 214 milhões de brasileiros. A democracia desbancou o amor à ditadura e escanteou o ódio, um sentimento rancoroso, pernicioso e altamente contagioso.

Por puro prazer futebolístico, assisti a todos os 64 jogos da Copa. Paradoxalmente, vibrei com a derrota de Los Hermanos para a Arábia Saudita na primeira rodada, mas, na última, torci entusiasmadamente pela Argentina na vitória sobre a França de Kylian Mbappe. E foram três as razões para eu ter me enrolado com as cores azul celeste, branca e amarelo-ouro do vizinho: Messi merecia ser campeão, a arrogância dos franceses tinha de ser contida e, desde a ascensão de Luiz Inácio e o surgimento da patriotada, minha abstenção em vestir o verde e o amarelo em jogos da seleção brasileira. Enquanto o Pavilhão Nacional não for desobstruído, minhas nuances preferenciais serão o azul e o branco. O vermelho é só para momentos especiais. Tenho tido alguns.

Assim como o presidente brasileiro em fim de mandato, boa parte dos jogadores canarinhos está em transe. O mundo imaginou uma final entre os Le Bleus e uma turma de cabelos pintados, chuteiras coloridas, ostentações acima da média, comemorações dançantes a cada gol – felizmente foram poucos – e pouca vontade de jogar. Não deu. Os Le Bleus enfrentaram – e perderam – para um grupo de atletas focados, aguerridos e dispostos a vencer em nome do país que representavam no Catar. Hoje, feriado em toda a Argentina, é dia de juntarmos literalmente os cacos, tentar comprar um regalo (souvenir) com a estampa de Messi, lamentar por mais uma Copa perdida e, ao mesmo tempo, dar pulos de alegria, pois em poucos dias começaremos a respirar ares de renovação. O ciclo de erros infantis e de gestos amadores está por um fio.

Embora justo e festejadíssimo, é claro que muitos brazucas torceram o nariz para o terceiro mundial da Argentina. Do mesmo modo, faz parte do jogo a insistência de alguns brasileiros em não gostar do resultado da eleição que desalojou um pseudo líder de uma falsa liderança e que (melhor do que tudo) alijou do cenário político um mito forjado em um incidente até hoje por demais nebuloso. Tudo bem que derrotas geram choros, lamentações e, em alguns casos, infartos. Inadmissível e fora das quatro linhas é permanecer no gramado, tentando obrigar o juiz a estender a partida e incitar a torcida a xingar o juiz e a mãe dos assistentes somente porque eles se recusaram a criar um placar diferente do anotado no tempo regulamentar.

Talvez alguns de nós tenha pensado algo parecido na derrota para a Croácia do vovô Modric. Errado, porque os medianos atletas croatas nada têm a ver com a tábua filosofal cheia de emendas de Tite, tampouco com a soberba pessoal (apenas pessoal) de Neymar. Eles venceram porque foram melhores do que nós. Simples assim. Para encerrar os temas farsa e Copa do Mundo, em 2026 estaremos livres de um dos maiores engodos futebolísticos dos últimos tempos: Tite. Nada pessoal, mas oxalá também estejamos livres de Neymar Júnior, um dos três astros do Paris Saint Germain, mas o único sem mundial. Messi e Mbappe o deixaram para trás e com a preocupação maior de cuidar de seus jatos, do helicóptero, do iate, dos contratos milionários com os fabricantes de chuteiras e dos parças. A Seleção Brasileira só se sobrar tempo.

Lionel Messi tem tudo isso. No entanto, vibra com a Argentina e com os argentinos. A moda atual é postar imagens e vídeos com mensagens cifradas. Prefiro a clareza. Para 2026, minha torcida é mais ampla. Antes disso, que deixemos de ser o país da piada pronta. Nesses próximos quatro anos certamente teremos um Brasil mais pujante, sereno, respeitado, vibrante, compenetrado e disposto a vencer tanto no futebol quanto na política. Que tenhamos um povo mais feliz e consciente de que quem não vive para servir, não serve para viver. Neymar, Tite e afins já vão tarde. E que levem Jair Messias e sua tropa juntos. É hora de virar a página. A política e o futebol brasileiros estão com saudades da velha política e do velho futebol brasileiros. O golpismo, o terrorismo e a empresarialização de nosso futebol devem dar lugar à inspiração renovadora a ser iniciada por Lula da Silva em 1º. de janeiro. O Brasil ainda tem solução.

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