Curta nossa página


Tadeu pediu cabeça de Dilma

Flávio Dino pisa na bola de novo e chama antipetista para equipe

Publicado

Autor/Imagem:
José Seabra, Diretor-Editor - Foto Reprodução

O futuro ministro Flávio Dino (PSB), indicado para ocupar o Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo Lula, parece desconhecer a cultura de um bom nordestino. Maranhense que é – governou seu Estado e por ele foi eleito senador no pleito de outubro – tem andado muito avexado nos últimos dias. Açodado, Dino atravessa o carro na frente dos bois, tropeça nas próprias pernas e é obrigado a desconvidar supostos ocupantes de altos cargos no primeiro bloco da direita (sentido Planalto/Rodoviária) da Esplanada dos Ministérios.

Na escolha de nomes para atuarem como seus braço-direito, Dino tem sido mal assessorado e, pior, teoricamente não perde tempo em consultar seu futuro chefe sobre fulano ou sicrano. Erra e, com a gafe, recua. Foi assim nesta quarta-feira, 21, quando ‘desistiu’ de colocar no comando da Polícia Rodoviária Federal Edmar Moreira Camata, o inspetor que comemorou, como lavajatista, a condenação e a prisão de Lula. O senador precisa saber que errar é humano, mas insistir no erro é burrice.

Dino repete a analogia com a burrice ao chamar para a Secretaria Nacional de Segurança Pública Tadeu Alencar. Vem a ser um deputado de Pernambuco em fim de mandato, também do PSB, que não logrou votos suficientes para continuar na Câmara.  Nas urnas, ficou em 34º lugar, ou seja, bem atrás dos 25 federais em quem o povo pernambucano depositou sua confiança. É do ‘baixo clero’ e sente uma espinha na garganta quando a conversa gira em torno do PT e petistas.

O por enquanto somente indicado ministro Flávio Dino, precisa recuar no tempo e consultar arquivos. Se fizer isso, saberá que o homem que ele quer para comandar a segurança pública a nível nacional, votou, em 2016, pelo impeachment de Dilma Rousseff. Se Tadeu Alencar tem uma espinha na garganta quando se trata do PT, os petistas têm as arcadas superior e inferior de um tubarão, com dentes capazes de extirpar qualquer jugular.

Dino precisa ouvir mais e consultar Lula ainda mais. Sei das relações próximas do futuro ministro com o seu futuro presidente. Mas (isso é um segredo on, que guardei por muitos anos) também sei que Lula é carne de pescoço. Talvez possa dizer, sem medo de errar, que conheço o presidente há mais tempo que o próprio provável futuro ministro.

A título de recordação. Corria a metade da década de setenta do século passado. Foi quando conheci Luiz Inácio Lula da Silva. Ele, então, um corajoso sindicalista que decidiu enfrentar o poderoso regime militar, comandando greves históricas; eu, como diziam Haroldo Cerqueira ‘Leleco’ Leite, Cláudio Coletti e Rui Lopes, meus chefes imediatos na sucursal Brasília da Folha de S.Paulo, um ‘bagrinho’, não necessariamente em tom pejorativo para definir a figura de um quase ex-estagiário.

Lula viajou a Brasília para comunicar a Arnaldo Prieto, ministro do Trabalho de Ernesto Geisel de 1974 a 1979, que estava parando São Paulo com a primeira grande greve dos metalúrgicos do ABC Paulista. Prieto, cofiando tranquilamente os fios do seu bigode ralo, subestimou a força do sindicalista e recusou abrir espaço na agenda. Tomei o metalúrgico Lula – não o Lula constituinte, o Lula candidato, o Lula presidente – pelo braço e almoçamos, com mais três repórteres, em minha casa.  Era preciso ganhar tempo, sem que ninguém se avexasse, para que Alceu Collares, então líder da minoria na Câmara, demovesse Prieto da ideia de negar a audiência.

O almoço arrastou-se até meados da tarde. Lula falou da resistência sindical à ditadura militar; ilustrou um animado quadro de conquistas da classe trabalhadora; sustentou que as estratégias estavam bem definidas… Quando o agora presidente diplomado estava prestes a enfatizar que, sem diálogo, haveria conflito político que se estenderia às ruas, o telefone tocou. Era Collares. Prieto cedera.

O tempo passou. Lula, resistente, tem vencido as batalhas das muitas guerras de que participou. Acompanho a trajetória dele de longe, escrevendo e cantarolando uma música que fez sucesso na voz do pernambucano Jorge de Altinho. A letra mostra que a pressa é a inimiga da perfeição. Se avexe não/Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada/A lagarta rasteja até o dia em que cria asas/Se avexe não/Toda caminhada começa no primeiro passo/Observe quem vai subindo a ladeira/Pra ir mais alto, vai ter que suar.

Flávio Dino precisa avaliar sua condição de nordestino e aprender essa canção. E conversar com Lula. O presidente que conheci metalúrgico aceita tudo, menos mais uma pedra no sapato que joga com 12 milhões do Orçamento Secreto. E que serviu a cabeça de Dilma de bandeja.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.