O rei negro
Brasil fica mais triste sem Edson e mais pobre sem Pelé
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emMorreu o cidadão Edson Arantes do Nascimento, o brasileiro que mais encantou o mundo, o homem que se enfeitava de atleta para lotar estádios, fazer a sisuda rainha Elizabeth sorrir e até paralisar guerras. Morreu o rei do futebol, o gênio da bola, o Atleta do Século, o jogador que fez da pelota o que bem quis. Aos 82 anos, partiu um dos maiores craques da história futebolística mundial. Edson, o que morreu, era filho de Dondinho, o guri de Três Corações, o menino de Bauru e o moleque mágico formado na escola do Santos, sua casa durante 18 anos. Chamar de rei quem ajudou a transformar o esporte em arte é muito pouco. Ele foi apenas o maior de todos. Foi o único, o verdadeiro mito.
Igual a ele, só Pelé, o brazuca que cristalizou sua imagem em todos os cantos do planeta. Mais importante do que Edson, a criatura Pelé não inventou o futebol, mas conseguiu ser 10 em tudo que fez nos gramados. Por isso, foi camisa 10 por onde passou. Faltou-lhe o Nobel do futebol, mas Sua Majestade negra será eterna. Além dos seis filhos, seu legado e sua genialidade jamais serão esquecidos. Prova disso é que, sozinho, ele protagonizou um vídeo com lances que, para fazer igual, Maradona precisou se juntar a Messi, Cruyff, Ronaldo Fenômeno, Romário, Cristiano Ronaldo, Ronaldinnho Gaúcho, Roberto Carlos, Zidane e Iniesta, entre outros. Ao longo da vida, talvez tenhamos outros Edsons. Pelé, nunca mais.
Edson e Pelé fizeram com os pés o que uma fada faz com as mãos. Tentáculos silenciosos e perfeitos da natureza humana, pés e mãos foram feitos para acariciar, afagar, amenizar dores físicas e emocionais, para alegrar multidões, mas também para provocar insolúveis e intermináveis guerras internas. São as guerras de nervos, exacerbadas pelo carinho exagerado do toque e, às vezes, resolvidas pelo perfume que exalam ou pela potência do chute que produzem. Do tipo Midas, as mãos e os pés de Pelé pareciam plumas naturalmente petrificadas, pois transformavam em ouro tudo que tocassem.
Desde menino, nos campos de pelada do subúrbio do Rio de Janeiro, recebi apoio de Edson e de Pelé para minha viagem por esse inebriante, efervescente e fantástico mundo do futebol. Lamento apenas que eles sejam somente duas pessoas: uma física e outra espiritual, daquelas imortais. Poderiam ser duas mil. Talvez mil, 100 ou o 10 do rei negro que nunca precisou das mãos de Deus para gritar um gol. Edson era apenas um. E bastava. Ao representar 90 milhões em ação, Pelé conseguiu ser maior do que Edson. Foi ídolo de todos. Por isso, é imorrível. Apesar de um novo governo para nos acalentar, sem Edson e sem Pelé o Brasil fica mais triste e o futebol mais pobre. Adios, Pelé. Adios, Edson. O paraíso os espera.