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Não vale Alvorada nem Esplanada

Gado órfão de Bolsonaro procura pasto para afogar suas mágoas

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Valter Campanato

Último dia de 2022,data festiva para cerca de 7,5 bilhões de viventes, particularmente para 60,3 milhões de brasileiros que, de olhos fechados, escolheram um novo presidente. O número divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral está defasado, pois certamente há uma expressiva quantidade não contabilizada de arrependidos, super arrependidos e os que, de tão arrependidos, estão bem próximos do suicíidio. Por isso, se mantêm nas portas dos quartéis, com vergonha de enfrentar os vizinhos ou os familiares de cepas diferentes. Aí é que mora a tristeza de alguns. Afinal, é o fim de um mito forjado na alcova de meia dúzia de abastados sem medo, sem nexo, sem sexo e consolidado apenas na mente doentia de duas dúzias e meia de fanáticos.

Não é somente o fim de uma era, mas de um equívoco, de um pesadelo, de uma farsa política, de uma fantasia mitológica, de um golpe mal planejado por arquitetos fakes. Enfim, é o fim de uma ideologia sem ideais. Tanto que, na eleição passada, a principal proposta partiu da lâmina de uma faca. A facada que garantiu a vitória do Jair partiu do nada e, até hoje, continua no nada, ou seja, ficou no zero a zero. Explicações e apurações só daqui a 100 anos, quando o Messias ressuscitar. A verdade é que um não sabe porque esfaqueou e o outro finge não saber porque foi esfaqueado em 6 de setembro de 2018. Quanto a nós, temos a certeza de que a facada de Adélio Bispo de Oliveira gerou uma carrada de votos.

Em sua derradeira live dirigida aos membros da seita bozolítica, Bolsonaro perguntou como estaria o Brasil atualmente caso a facada tivesse sido fatal. Sei que não é justo chutar cachorro morto em Orlando, mas aproveito a oportunidade para respondê-lo: o país e nós estaríamos bem melhores. Por exemplo, não lamentaríamos quatro anos perdidos, a morte de quase 780 mil brasileiros em decorrência daquela maldita “gripezinha”, tampouco teríamos conhecido personagens desagregadoras e desaculturadas politicamente, mas que, exclusivamente por causa da seita desinformada e calçada nas desinformações, conquistaram pedestais imerecidos. Representarão uma direita esfacelada, sem rumo, sem pai nem mãe.

Graças a Deus, nada é tão ruim que dure para sempre. E não durou mesmo. Acabou antes da primeira curva do Cerrado. Como na canção Telegrama, de Zeca Baleiro, confesso que andei triste, bem tristinho, “mas sem graça que a top model magrela na passarela”. Lembrando do voto dado em 30 de outubro, acordei esta manhã “com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia e de beijar o português da padaria”. Estava mais bobo do que “um palhaço do Circo Vostok”. A alegria começou na véspera. Após ouvir o velho e bom Wilson Simonal, vesti azul e minha sorte realmente mudou. O mais difícil foi me conter quando, às 14h02, vi o céu de Brasília ser rompido pelo jato da FAB para a última viagem sem custo do Jair. Silenciosamente, batizei a viagem de voo da serpente. E acho que não exagerei.

Claro que ele não me ouviu, mas gritei a plenos pulmões: Partiu o fujão! Tchau, querido! Aproveitarei o último dia do ano para lançar a campanha do janeiro lilás, isto é, o Brasil livre do incapaz. Jair fugiu. Partiu para os braços de Morfeu, também conhecido por Donald Trump, o mestre que não teve tempo de ensinar determinados tipos de invasão ao discípulo metido a mito. Talvez tenha ensinado, mas o buraco do Capitólio tupiniquim é mais embaixo. O amor entre mestre e aprendiz de ditador é antigo. Entretanto, nenhum dos dois chegou a lugar algum. Ficaram pelo meio do caminho da eternidade política. Resta-nos recuperar o sorriso, pois as criaturas – a nossa e dos norte-americanos – já estão perdidas. Mais inteligentes e infinitamente mais politizados, Joe Biden e Luiz Inácio engoliram o Diabo e seu coroinha dos trópicos. A exemplo de Biden em 2020, Lula está sem dormir desde a última sexta-feira, quando teve a certeza de que não receberia a faixa presidencial das mãos do Jair.

Nenhuma surpresa para quem cagou para o país desde o primeiro dia da gestão. Derrotado em outubro, Bolsonaro será novamente derrotado amanhã. Ao não passar a faixa para o sucessor, ele deixará a cadeira da extrema-direita vazia. Pior será convencer seus seguidores de que, apesar da alcunha de mito, ele jogou a toalha e fugiu como medo de ter medo. A bem da verdade, percebeu que a esquerda que ele apelidava de “comunista” ganhou bonito de sua seita golpista, cujas lideranças conseguiram confundir o luto por Pelé como mais um sinal das Forças Armadas em direção à intervenção. E sabem a razão da confusão? Porque as bandeiras do Brasil estavam a meio pau no QG do Exército, no Palácio do Planalto e nos quartéis onde os patriotas ainda estão acampados. É esse povo que queria mais um mandato para o monstro que criaram e agora estão procurado pasto para afogarem suas mágoas.

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