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Derrota dos bolsominions

História mostra que quem não sabe perder, não pode jogar

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

Respeitar o prato em que se come ou em que se comeu deveria ser um dos principais fundamentos do ser humano. Deveria, mas faz décadas é o último. No Brasil, de uns tempos para cá, provavelmente esse conceito foi banido do pensamento e, principalmente, do coração de boa parte do povo. Quebrar, vandalizar e literalmente cagar onde todos deveriam preservar é o sinal de que estamos bem próximos do fim dos tempos. Das mais cruéis, a fase é complicada, mas nada que um choque de realidade na estultice da minoria não recoloque o país nos eixos da normalidade político-social. A depredação das sedes dos três poderes da República, símbolos maiores de nossa democracia, é o mais catastrófico exemplo de que perdemos a razão. Foi um verdadeiro show de imbecilidades.

Não falo de mim, tampouco de você. Por isso, a opção em generalizar um posicionamento, escrevendo temporariamente na terceira pessoa. A quadra vivida nos faz lembrar uma máxima do filósofo e ensaísta Voltaire, para quem nos aproximamos suavemente do momento em que os filósofos e os imbecis terão o mesmo destino. Voltando rapidamente à primeira pessoa, não sei se me incluo, mas também hesito em me excluir. Digo isso porque, ao mesmo tempo em que denominamos de terroristas os bandidos que vandalizaram o Congresso, o Supremo e o Planalto, não aceitamos que eles sejam punidos com a pena máxima, seja ela qual for. Preferencialmente o esquecimento na cadeia.

Claro que é terrivelmente linda a tese de trabalharmos com o perdão a qualquer preço. O problema é que raramente pesamos os valores e o merecimento de quem tentamos perdoar. Em verdade, não sabemos como mensurá-los. É aquela história de não concordamos com uma palavra do que os outros dizem, mas defendermos até a morte o direito deles dizerem. Não estamos julgando, mas não temos o condão de absolver, antes do julgamento, quem nos faz mal com parcialidade, insistência, desnecessidade e sempre em nome de Deus. Tudo bem que não devemos agir sem a inspiração da razão. Não é justo com os imbecis superficiais, embora saibamos que a coerência ainda é a principal virtude dos estultos profundos. É sobre esses que temos de mirar nossos olhares de complacência duvidosa.

Como hoje existem 500, mil, dois mil, cinco mil idiotas que dizem o que querem a alguns milhões de imbecis, é um olho no padre e outro na missa. Não devemos sequer esquecer dos passos da madre superiora. Como diz o bom e velho ditado, cada cabeça uma sentença. Daí, a obrigação de usarmos a consciência, que nada mais é do que o eco da voz de Deus dentro da alma. De volta à primeira pessoa, afirmo que, como cristão, não venderia a alma contra um semelhante. No entanto, não me imagino sendo condescendente com o cidadão que, ao desrespeitar a Pátria que lhe serve de berço e não aceitar que eu o condene, me põem no mesmo balaio dos loucos.

Não tenho culpa se o cidadão que optou pelo terrorismo ideológico não consiga erguer os olhos para os céus de modo a captar as transmissões divinas. Azar o dele. Muito ou pouco, que ele pague aqui mesmo pelo tamanho de sua imbecilidade. Relembrando o escritor Oscar Wilde, os loucos às vezes se curam, os imbecis nunca. Portanto, se eles (os imbecis) não sabem perder, melhor seria não terem entrado no jogo. Se entraram e não aceitam a derrota, que pelo menos tenham coragem de respeitar suas punições. Por mim, elas seriam do tamanho das neuroses mostradas no domingo da destruição. Que virem sementes aproveitáveis onde estão e onde deveriam ficar até que pudessem entender que a razão é o sinal mais evidente da evolução espiritual.

Jamais apagarei minha luz para permitir que a dos outros seja percebida. Em síntese, assumo que ainda não tenho plena razão. Aliás, parafraseando o escritor russo Leon Tolstoi, a razão não me ensinou nada. “Tudo o que sei me foi dado pelo coração”. E este, infelizmente, falha sempre nos momentos em que preciso tê-lo à frente da sapiência, do intelecto, do entendimento e da compreensão. Absolutamente desvinculado da ideologia, também acho que não deve haver anistia.

Os terroristas bolsonaristas não me poupariam se estivesse em um dos recintos vandalizados. Por isso, embora ande preferindo a paz à razão, desejo a todos um longo sol quadrado. A escolha foi deles. Quem sabe aprendam que esperto é o mar, que, em vez da briga, prefere abraçar o rochedo. Teria sido mais fácil se os ditos patriotas tivessem esperado 2026. Perderiam de novo, mas talvez descobrissem que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. O mito fugiu sem se aperceber disso. Enganou, perdeu, fugiu, sumiu e, em breve, seará esquecido pelo Brasil.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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