Um Brasil de todos
Líder, mostra Lula, é quem indica o rumo onde o povo não iria só
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emO day after do Rei Momo deveria ser a ocasião ideal para que nos ajoelhássemos no milho e nos puséssemos em posição de reflexão. Acabou o Carnaval do fim do mundo, aquele em que colocamos para fora uma série de ressentimentos, mágoas, ódios, derrotas, perplexidades e até desejos incontidos de vingança. Passou. Agora, antes do desfile das campeãs, talvez fosse o momento de extremistas de lá e de cá se sentarem à mesma mesa para um início mais propositivo, menos radical e, quem sabe, emocional e essencialmente destinado a buscar soluções unificadas, controladas e definitivas para os numerosos problemas do Brasil. Do jeito que estamos, dificilmente conseguiremos chegar à próxima folia com o necessário fortalecimento social, o que, lamentavelmente, nos manterá na sofrível condição de habitantes de um país sem destino.
Depois do tsunami capitaneado pelo tenentismo personalizado por um clã insosso, inodoro e incolor, tirar o país do buraco negro não será tarefa fácil para Luiz Inácio. Também não seria para os militares que, supostamente, tenham aderido à fracassada tese golpista. Em síntese, fosse quem fosse o eleito em 2022, a perenidade da democracia passaria obrigatoriamente pela repavimentação dos caminhos percorridos até o momento. Não falemos demagogicamente em resolver os problemas da desigualdade. Como a seca no Nordeste, este tema é por demais desinteressante para a burguesia e para a maioria dos políticos. No entanto, esquecer dos malefícios causados pela divisão humana é, como diz na gíria popular, caixão e vela preta.
Enquanto a sociedade brasileira estiver partidária e ideologicamente fragmentada, nosso futuro será preocupantemente infeliz. Em pleno século XXI, não há mais razão para ódios ideológicos, de crenças, raça ou opção sexual. Sem utopias, o lado à esquerda precisa esquecer o oportunismo e evitar discursos contra esse ou aquele segmento apenas para marcar posição. Do outro lado, a descoberta tende a ser mais simples. Apesar de representada maciçamente pela elite, a direita não tem a primazia da ética, da moral, muito menos dos bons costumes. São tão falíveis como os jogadores tidos como pernas de pau na cara do gol. Chutam para fora com a mesma tranquilidade de uma onça no cio.
Ou seja, não pensam duas vezes quando desejam impor seus valores. Como os elitizados jamais conseguirão dominar o mundo sozinhos, suas energias bem que poderiam ser direcionadas para o bem de todos. O mesmo ocorre com a classe política, cujos representantes, logo após a garantia de pelo menos quatro anos de emprego com remuneração europeia, fogem das responsabilidades acertadas com o povo durante a eleição. Sob o argumento de que mentem para sobreviver, desrespeitam um bem (a promessa) que um dia a vida cobra. E normalmente a promissória chega acrescida de juros e correção monetária.
Aproveitemos a oportunidade que nos é dada. É chegada a hora de o cidadão ordeiro, patriota e, acima de tudo, preocupado com a consolidação da democracia, dar a volta por cima e, como se estivesse disputando uma peleja esportiva, gritar para a torcida: Me uni a vocês e si dei bem, si consagrei. É imprescindível não esquecermos que o Brasil é de todos, inclusive dos extremos. Todavia, a necessidade de respeito mútuo é indispensável para que consigamos nos reposicionar perante ao mundo e a nós mesmos. Temos de raciocinar como pluralistas até nas ações irracionais, sob pena de nossas cinzas permanecerem como provações amargas de nossas frustrações. Pensemos mais em soluções. Se o governo anterior fracassou, não podemos desejar o mesmo para o atual.
Afinal, o insucesso de um líder deve servir de ensejo para um recomeço com mais inteligência. Usemos a máxima de enumerar pelo menos dois de nossos defeitos antes de criticar os dos outros. A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Como, às vezes, construímos sonhos em cima de pessoas sem merecimento algum, que tal nos satisfazermos com o que temos até que chegue o próximo carnaval eleitoral? Gostando ou não, um líder é a pessoa que seguiremos para onde não iríamos sozinhos. Portanto, caminhemos sem medo até 2026. Conforme o mestre Mia Couto, quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares. Então, para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.