Exposição mostra que aids não tem cara, mas mata muita gente
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emPouco antes dos tratamentos para a aids se difundirem pelo Brasil, aos 50 anos, Beatriz Pacheco descobriu que estava contaminada pelo vírus HIV. “Minha infecção foi pelo meu marido, que fez transfusão de sangue em uma época em que o sangue não era controlado. Cinco anos depois da morte dele, casei de novo e pouco mais de um ano depois de casada recebi o diagnóstico de que era HIV positivo. Meu esposo não pegou o vírus e disse que o amor era maior que a aids e me deu uma força imensa para eu não me esconder”, relembra a advogada, hoje com 65 anos.
A gaúcha Beatriz é uma das pessoas fotografadas pelo fotógrafo Gabriel Mestrochirico para exposição Um Novo Olhar sobre a Aids no Brasil – Uma Realidade Aumentada, lançada hoje (1º), Dia Mundial da Luta contra a Aids, na Biblioteca Nacional de Brasília. A exposição retrata o dia a dia da vida de 25 pessoas de sete estados brasileiros que convivem com a aids, em uma tentativa de diminuir o preconceito e mostrar que quem tem o vírus pode ter uma vida comum como qualquer outra.
Na avaliação de Beatriz, que convive a 17 anos com o vírus, o preconceito já foi maior, mas a mulher que tem HIV ainda tem um rótulo de promíscua. “Além disso ainda há uma falta de informação. Muitos ainda pensam que eu posso passar a doença com um abraço ou bebendo no mesmo copo, quando na verdade precisa de muito mais que isso”. Ela estimula as pessoas a assumirem a doença porque “não é vergonha ter aids”.
Segundo Mestrochirico, foi difícil encontrar pessoas que aceitassem mostrar a cara em uma fotografia. “Muitos até toparam dar depoimento, falar sobre o preconceito, mas na hora de serem fotografados recuavam com medo de sofrerem preconceito”, diz o fotógrafo. Ele conta que os que aceitaram fazer parte do projeto, entendem que se mostrar é uma forma de dizer que a aids não tem cara.
Christiano Ramos, presidente da Ong Amigos da Vida, organizadora da exposição, constatou que ainda há quem pense que as pessoas com aids têm a aparência de doentes, frágeis. “Outro dia estavam me esperando para uma entrevista, eu cheguei, fiquei conversando de um lado e ouvi alguém perguntar cadê o aidético. Quando me manifestei a moça disse que se admirou porque eu era alto e bonito. Eles ainda acham que a aids tem uma cara, a pessoa debilitada, magrinha, verde que nem um abacate. Isso também é preconceito”.
Para Ramos, uma grande preocupação hoje éa aids entre os jovens homossexuais. “Há algum tempo a qualidade de vida e a sobrevida de quem tem aids é igual a de qualquer pessoa, mas as pessoas têm que saber que tomar um coquetel de remédios o resto da vida pode trazer efeitos colaterais. Os jovens não viram as pessoas morrerem como morriam na década de 80, quando em um mês do diagnóstico a pessoa morria. Agora é todo mundo bonito, saudável, mas isso não deve eliminar o medo de ser infectado”, ressalta Ramos.
A exposição Um Novo Olhar sobre a Aids no Brasil – Uma Realidade Aumentada fica aberta ao público de amanhã até o dia 15 de dezembro, na Biblioteca Nacional de Brasília.