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Superstar do crime

Diplomado na cadeia, Marcola tem solução para problemas do Brasil

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Fernando Frazão

Entre estarrecido, preocupado e consciente de que chegamos à beira do Inferno de Dante, li semana passada uma assustadora, mas imperdível entrevista com o cidadão Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, o respeitado líder do PCC, um dos maiores representantes do crime organizado no Brasil. Sem papas na afiada língua, o emérito brasileiro foi claríssimo ao afirmar que não há solução para os problemas do Brasil, principalmente os da miséria e da segurança. E não há solução porque ninguém, incluindo nossos governantes e parlamentares, conhecem o problema. Difícil assim. Espécie dos novos tempos, Marcola, a exemplo de boa parte do povo das comunidades, deixou de ser invisível.

Se antes eram lembrados apenas por ocasião de desabamentos nas encostas ou em músicas sobre a beleza dos morros ao amanhecer, hoje são reconhecidos como CEO de multinacionais do pó e ricos compradores e repassadores de armas pesadas. Preciso nas respostas, o nobre e romântico contribuinte da insegurança nacional não nos poupa. Afirmando que, após décadas de invisibilidade deliberada, nós hoje morremos de medo da periferia que abandonamos sem piedade alguma. Em outras palavras, “somos o início tardio de nossa consciência social”. Alguém já avaliou o tamanho das 1.715 ocupações de São Paulo? E das 560 favelas do Rio de Janeiro? E dos guetos de Brasília e das demais metrópoles do país?

Paralisadas burocraticamente e com pouco esclarecimento, as autoridades brasileiras, notadamente as do Legislativo, nunca se preocuparam com elas. Agindo como sanguessugas, preferem explorar seus habitantes. Estudioso das mazelas nacionais, Marcola tem todas na ponta da língua. Talvez tenha endereços e telefone de cada um dos invisíveis. Daí seu comando quase absoluto. Homem-bomba e líder de aproximadamente 100 mil homens-bomba espalhados pelas comunidades, Marcola também lidera virtualmente uma legião de homens e mulheres que cresceram na lama, no analfabetismo e nas brechas das cidades. Considerados seres do pós-miséria, eles e elas são diplomados nas cadeias. Infelizmente, a maioria opera uma nova e monstruosa linguagem: a dos “guerreiros do pó”.

Como disse o falecido compositor Dicró, como controlar os homi no trato com Fernandinho Beira-Mar, um portento de US$ 40 milhões? Parafraseando Marcola, qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro? Ao contrário do Estado lento, burocrático, quebrado e dominado por uma maioria de incompetentes, ambos representam a modernidade, a riqueza e o poder de uma empresa dos novos tempos brasileiros. Mesmo contra a vontade dos homens de bem (?), transformamos Marcola, Beira-Mar e similares em superstars do crime. Por isso, estamos à mercê deles. Embora odiados, caçados e engaiolados em nome do controle da violência, são eles que nos fazem diariamente de palhaços.

Toda essa triste narrativa me faz pensar que, se o crime não compensa, então meu emprego é um crime. O fato é que a luta contra a criminalidade organizada é muito difícil, porque a criminalidade é organizada, mas nós não. Na luta contra o mal, realmente somos provincianos, regionais e limitados. Via de regra, nós os odiamos somente quando somos informados de mais um arrastão ou tiroteio nas ruas e avenidas das grandes cidades. Presos cinco ou dez meliantes e mortos 20 ou 30 supostos bandidos (ou não), retornamos à nossa vidinha de humanistas ocasionais tão logo o surto de violência é contido. Eles, ao contrário, não nos esquecem. E não importa que sejamos ou não clientes das bocas.

Seremos eternamente odiados, pois, quando podíamos, viramos as costas sem ao menos lhes dar oportunidade de fugir da morte. Na cabeça deles, não vale a pena esperar que a justiça seja feita. Preferem fugir, furtar, roubar e, eventualmente, matar novamente. Trabalhar para quê? Para pés de chinelo ou ases do crime, o princípio é sempre o mesmo: “Se eu não delinquir vocês estarão todos sem trabalho”. Tem a ver. Ou não? Sei lá. O que sei é que, com tanta gente armada, se eu não for engraçado estarei em sérios apuros. Dr. Marcola que me perdoe, mas nem ele, com todo conhecimento adquirido, acha que delinquiu mais do que o permitido. Com a palavra nossos parlamentares.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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