Desejamos ser Elza
‘Essa moça tão diferente que reinventou o som’
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emNão há como negar que a Elza Soares nos incomoda! Ela tem aquela mania de atacar justamente os nossos preconceitos mais arraigados, aqueles mesmos que cismamos em gritar aos quatro cantos que não os possuímos. E essa mulher sempre foi assim, como se sentisse prazer em nos desconcertar.
Queremos nos libertar quando a vemos. Queremos soltar a nossa voz, quando apreciamos sua arte. Apesar disso, ela nos incomoda! Ah, como podemos dar espaço para uma mulher daquelas? Mulher preta! Será que ela não sabe o seu lugar?
A Elza já era para ter sido eliminada da nossa memória há tempos! Mas lá está ela, com aquele olhar que nos persegue, que não nos deixa escapar. Somos presas fáceis, pois nos encantamos como Garrinchas que somos, hipnotizados por essa voz rascante, que nos rasga por completo.
Lá estamos nós, diante dessa preta favelada! Queremos nos libertar das amarras dessa sociedade hipócrita, que tenta empurrar nossos olhos para alguma recatada. Todavia, desejamos dar vazão ao que sentimos lá no fundo e, por isso, buscamos sempre essa tal Elza Soares, mulher despojada de vergonhas, num país repleto de desejos reprimidos.
Elza, tão calejada das pauladas da vida, não se intimida com nada. Que venham brucutus em grupo! Aliás, ela bem sabe que esses tipos só são o que são quando estão juntos. Elza ri de todos eles, pois, para quem já enfrentou bala de canhão, isso é como mais um passeio na praça ou na esquina. Qualquer esquina! Ela conhece todas!
Não há como negar que a matéria pereceu, como foi noticiado para o mundo no dia 20 de janeiro de 2022. No entanto, a imensurável contribuição dessa tal Elza permanecerá por aqui por gerações e gerações, que, caso sejam sábias, beberão dessa fonte inesgotável de teimosia. Teimosia de viver, pois a Elza Soares nada mais é que a própria teimosia, a mais pura teimosia de persistência em continuar viva, apesar das infrutíferas tentativas de apagar essa luz, que emana da sua voz: Rrrrrrrrrrrrrrrrr!!!