Isto é uma cretinice. Mesmo porque, Jair caiu no ostracismo

Defensor feroz da democracia e crítico assíduo do radicalismo dos extremos, sinto-me à vontade para escrever contra ou a favor de quem merecer. Usando diariamente deste perfil, volto a esta tribuna para reiterar que não tenho – e nunca tive – recibo para defender este ou aquele governante. Portanto, repetir reprovação, discordância, rejeição ou desaprovação em relação a um determinado político (?) não significa mimar ou bajular um outro, principalmente quando o um passou 28 anos como deputado federal, quatro como presidente da República e certamente deixará a vida pública pela porta dos fundos. Quem acha o contrário que o defenda publicamente como fazia há seis meses. Difícil, pois quem tem fiofó tem medo.

Como digo costumeiramente, não sou vinculado a partidos, sobretudo os de esquerda, embora, exclusivamente por exclusão, tenha votado em Luiz Inácio em 2002 e em 2022. Lula pode ser o que for, mas sempre deixou clara sua posição em defesa do sistema democrático. Daí, sem passionalidade ou personalismo, ser esta a minha posição. Consequentemente, apesar do radicalismo, hoje minha configuração política é não tolerar Jair Messias Bolsonaro e sua inteligência artificial. Sobre Lula da Silva, a gente pode não gostar e questionar seus posicionamentos populistas e até os embromations. O que não se deve negar é que ele foi – e é – uma referência brasileira. Sem hipocrisia, diria que ele fez parte da trilha sonora política de boa parte das pessoas de minha geração.

Ainda que supostamente tendencioso, o nariz de cera acima é autoexplicativo. Precisei deste longo preâmbulo para justificar o carimbo da entrevista de Jair Messias à revista Veja desse fim de semana. Teoricamente antipática ao ex-presidente, a publicação, por razões de cofre, é historicamente inimiga de Luiz Inácio. Daí, não haver isenção para essa repentina mudança de rumo. Negociada, editada e veiculada com objetivos básicos, a entrevista talvez não alcance os resultados esperados pela turba da antipatia pelo Brasil. No texto, repetidas vezes o mito de barro se dirige ao oponente como figura senil e ultrapassada. Adjetivos requentados. Parece o roto falando mal do esfarrapado. Desde menino sempre soube que é feio tentar transferir para os outros o que acham de nós.

A intenção clara da revista e dos assessores (?) bolsonaristas que ainda restam de pé, é que, no fim e ao cabo, o ex-presidente do fim do mundo acabe como vítima de um complô articulado por todos os brasileiros que se opõem à tirania sanguinária e pandêmica de um arremedo de ditador. Não sei a que preço, mas a ideia é bastante clara: mostrar que a efígie em análise (?) tem fisionomia e estampa impolutas, cândidas, castas e puras, isto é, acima de qualquer suspeita. Para sorte das empresas jornalísticas concorrentes, o amontoado de fatos recentes revela exatamente o contrário. Enfim, as respostas de Jair à Veja estão de acordo com o esperado. Ou com o acertado.

Ele joga o jogo que tem de ser jogado. Ou seja, é o coitado e perseguido tendo um espaço para provar sua inocência. Vossa insolência foi vítima de que ou de que quem, cara pálida? Seu discurso, sua entrevista e a revista Veja não convencem nem a um menino de quinta série. Imagina os ministros do Supremo Tribunal, da Justiça Eleitoral e os milhões de eleitores que sua sanidade (assim mesmo) tentou impedir de votar em outubro passado. Mesmo conhecidos como inocentes úteis, acho que nem os vassalos do capetão e as viúvas da revista factóide acreditam em alguma coisa do que está escrito. Provavelmente eles ainda o vejam como “doutrinador” das Forças Armadas e de uma tropa de estultos, mas duvido que, apesar de velhos, continuem sonhando com duendes, bruxas, lobisomens e tiranos santificados pela Igreja Universal do Reino de Deus.

Para a maioria dos brasileiros não é novidade alguma a revista Veja se prestar ao cretino e ineficaz papel de ajudar o Bozo a se auto santificar. Está nítido que até o ataque aos articuladores e executores da depredação de 8 de janeiro é forjado. No texto publicado, ele classifica os terroristas da Praça dos Três Poderes como “marginais”. Qualquer um se lembra que, até a confirmação de derrota eleitoral, os mesmos vândalos, incluindo a elite esfarrapada e desgarrada de princípios democráticos e cristãos e os políticos boquirrotos, eram considerados parceiros e seguidores raiz. O resumo da ópera é que nem bufando Jair merece credibilidade. E, tudo indica, será assim até que a Justiça Eleitoral decida sobre seu futuro na inelegibilidade, o que, seguramente, o levará ao pior dos cenários políticos: o ostracismo. Quem viver, verá. Até a Veja.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978