Direito à vida
Saúde mental deve ser tratada longe dos manicômios
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emQuem vê Patrícia Ruth pintando calmamente seus quadros nem imagina os horrores que ela já sofreu. Encarcerada em reformatórios e manicômios desde a infância, recebeu castigos físicos, contenções e chegou a passar por eletrochoques. Ao longo de décadas isolada em hospitais psiquiátricos, perdeu os laços familiares e até a identidade.
Os avanços da luta antimanicomial no país foram aboredados no programa Caminhos da Reportagem, que foi ao ar neste domingo (21) na TV Brasil. A matéria acvompanhou pacientes psiquiátricos que passaram por internações de longa duração e retornaram à vida fora dos muros das instituições.
Foi com o início da luta antimanicomial no Brasil que, aos poucos, trajetórias como a de Patrícia ganharam novos rumos. Ela, que foi uma das pacientes da antiga Colônia Juliano Moreira, último manicômio a ser fechado no Rio de Janeiro, hoje é uma artista plástica reconhecida. “Mudou muita coisa para mim. Coisa que não tinha e nunca esperava ter, minha casa. Esses trabalhos que faço hoje são o meu ouro porque vendo e faço exposição para fora”, comemora Patrícia.
O movimento da sociedade civil, lançado no fim dos anos 70, critica os métodos tradicionais da psiquiatria e defende os direitos das pessoas em sofrimento psíquico. “A luta contra os manicômios é uma luta pela cidadania, uma luta pelo reconhecimento das pessoas com fragilidade, a superação da ideia de que existem pessoas com menor valor. Então, tudo entra nesse jogo: racismo, LGBTfobia e qualquer forma de discriminação”, afirma Hugo Fagundes, superintendente de Saúde Mental do município do Rio de Janeiro.
Com a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica, em 2001, houve uma redução programada de leitos psiquiátricos no Brasil. De acordo com a organização não governamental (ONG) Desinstitute, o número de pacientes internados em longa duração caiu de 50 mil, em 2002, para menos de 14 mil, em 2020. Evitar retrocessos ainda é um desafio para os defensores da luta antimanicomial, segundo a presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, Ana Paula Guljor.
O fechamento de manicômios não é sinônimo de falta de atendimento aos pacientes e seus familiares. O cuidado em liberdade, mantendo o paciente integrado ao seu território de origem, seu círculo social, é o mais eficaz, garante Guljor.
Entre os mecanismos de apoio aos pacientes, além dos centros de Assistência Psicossocial (CAPs) que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), estão as Residências Terapêuticas, uma espécie de república – para no máximo seis pessoas – oferecida aos egressos dos hospitais psiquiátricos que ainda necessitam de algum suporte para retornar à vivência comunitária. A equipe do Caminhos da Reportagem foi conhecer a rotina de uma dessas casas.
“Existem mil outras formas de cuidar, de tratar a loucura, o sujeito em sofrimento psíquico”, defende Erika Pontes e Silva, diretora do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira. Oficinas de arte e atividades em hortas comunitárias são exemplos de terapias adotadas nas antigas instituições psiquiátricas que foram remodeladas.