Doula de luxo
Valdemar Costa Neto vira o coisinha de Jesus do mito
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emPolítico das metáforas – ele próprio é uma delas -, o dono do Partido das Lágrimas (PL), Valdemar Costa Neto, será eternamente refém da minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres e que ele disse tratar-se de algo encontrável “na casa de todo o mundo”. Tão rápido como a idiotice dita para defender Jair Messias foi a desculpa dada à Polícia Federal, onde ele optou por adjetivar a baboseira acertada com o clã Bolsonaro de “uma fala metafórica”. Partindo de quem partiu, acho que está mais para ejaculação precoce do que para uma transa sexual sem compromisso. Para quem já sentou com Lula, Jair Messias, Michel Temer, Dima Rousseff e adjacências, dizer que este ou aquele não é um ser humano normal é, no mínimo, a repetição de uma ideia contida em sua própria definição.
A priori, dificilmente repito em minhas narrativas personagens com valores desinteressantes. Em minha regra de três, as grandezas são pra lá de diferentes. Por isso, volto à Valdemar Costa Neto, considerando que, entre os supostamente anormais, ele exerce uma liderança acima do normal. Se é que me entendem, Valdemar representa a natureza sadia, não apresenta defeitos ou particularidades. É um exemplo vivo do que podemos chamar de estado de normalidade. Por isso, não foi difícil descobrir sua nova função junto ao clã Bolsonaro. Não sei se por diletantismo, pecúnia, vocação ou dívida política, o falastrão do Mensalão é a nova doula de luxo do coitadinho Jair Messias, o ex-presidente que, recolhido e resguardado em sua residença (assim mesmo), está morrendo de medo de ser preso.
Como as doulas não precisam ser da área de saúde, o dono do PL tem cumprido bem seu papel de protetor. Afinal, ele adora ser empoderado, “ama” Jair, gosta de apoiá-lo com informações descabidas, desconexas, desencontradas e positivas, embora absolutamente mentirosas. É assim que trabalham as doulas. Estimuladas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde, as assistentes de parto (ops) oferecem conforto, encorajamento, tranquilidade, suporte emocional, físico e informativo durante o período de intensas transformações pelo qual passam as gestantes. Não é bem o caso, mas que parece, parece. No Talkey show de Bolsonaro vale tudo, inclusive “mudar tudo isso que tá aí”. Uma pena, mas alterações no contexto as doulas não podem fazer.
No máximo, acompanhar o paciente na solidão e ser alguém para quem ele possa mentir. É pouco? Então, mostre a ele que “neste lugar não há pedacitos.Todo o tempo a partir de agora são eternidades”. Ou seja, Valdemar, não falte com a verdade nesse momento em que o mito está desmilinguido, abandonado, desmistificado, sem cartão corporativo, sem a bisteca dos índios e abusado pela inconsciência dos seguidores e patriotas do oportunismo. Crie coragem e tranquilize o homi. Diga-lhe, por exemplo: “Meu caro Jair, você será amanhã o que eu fui ontem”. Facilite as coisas e pare com essa baboseira de copiar Dilma Rousseff, sua ex-amada. Como doula do preclaro cidadão, é feio ir para a televisão dizer que ele “não é uma pessoa como nós”, que não é “uma pessoa normal”. Seja para ele o que ele quer que vossa senhoria seja: o coisinha de Jesus.
O Brasil inteiro sabe que o Bozo tem esses problemas, que o problema dele “é erro de comunicação”. Acima do normal é por sua conta e risco, talkey. Nada disso é piada pronta. Fã dos holofotes, Valdemar está em todas. Nos bastidores e a jornalistas com os quais trava contatos quase diários, Vavá não tem dó de afirmar que Bolsonaro não tem nenhuma chance no TSE, que se tornará inelegível e que a chance de ser preso é real. São duas caras, pois, em público ou junto dos associados do Partido das Lágrimas, jura que os processos na Justiça Eleitoral acabarão em pizza e que Jair Messias, o imbrochável, é “inatingível” “incassável”, “insaível”, “incaível” e “imprendível”.
Esses pequenos gestos de gentileza fora das câmeras são comuns e mais do que normais na vida do presidente do PL, isto é, não são anormais, pois são naturais, usuais, costumeiros, banais, triviais. Eita! Será que o camarada Valdemar tem medo de que o ex-queridinho fuja de novo e continue recebendo o suado din din do partido? Sei lá. O que sei é que, de frente, de lado, de cima ou de costa, o Valdemar, por razões óbvias, esqueceu de dizer que, durante quatro anos, Bolsonaro foi “incontrolável”, “imparável”, “insolúvel”, “insociável”, “insaciável”, “Instável”, “inviavel” e “imprestável”. Ex-toalha de felpo, Jair Messias hoje está mais para pano de prato de R$ 1.99 a dúzia. Isto quer dizer que, caso o futuro do mito seja mesmo a inelegibilidade e o provável recolhimento, a vida de Valdemar como doula não será tão breve como ele imagina. O estoque de fraldas geriátricas terá de ser renovado antes da decisão final do xerife Xandão. Sempre ele.