Passaporte para o poder
Ciro, matreiro, deixa Bolsonaro para colar de novo em Lula
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emComo eleitor e contribuinte, tenho numerosas restrições à conduta política do senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-colaborador de Luiz Inácio e de Dilma Rousseff e ex-ministro de Jair Bolsonaro. Conheço pouco do cidadão, mas sua relação híbrida com governos pra lá de antagônicos deixa clara a intenção de trabalhar para se garantir no Olimpo, não importando que seja obrigado a dar as mãos a Deus e a alma ao Diabo. E se precisar abraçar, elogiar, pousar ao lado e até dar entrevistas bajulatórias, contem com ele. Também não é problema o titular momentâneo do governo ser um dos “companheiros” que ele diz odiar. Portanto, eu seria injusto se não dissesse que o cidadão em questão é daqueles que está sempre à disposição de quem lhe oferecer um passaporte para o poder, mesmo que, conforme avaliação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), ele tenha sido o pior ministro do governo anterior.
Obviamente que o preço são os cargos, a importância deles, a influência, a visibilidade e o consequente retorno político. É o que chamam na seara política de locupletação. Que venham mais governantes. Seguindo a estratégia dos políticos de coxia, ele aguarda um convite formal de Lula para reingressar no governo petista. Não sei se isso ocorrerá. Enquanto seu príncipe não chama, o lobo mau, que deixou de querer comer gratuitamente a vovozinha, faz o que mais gosta: criticar e menosprezar quem não gosta temporariamente. Fora do poder e louco pelos holofotes de antes, sofregamente procura a imprensa ou usa o Twitter para balbuciar entre os dentes que descarta uma aliança com o PT. “Acredito que até o fim dos meus dias jamais irei me aliar ao PT”.
Para quem já foi quase tudo em diferentes governos, é difícil sobreviver como líder da minoria no Senado. Daí, a necessidade de aparecer a qualquer preço. É claro que a mídia simpática ao governante que deixou o Planalto pela porta dos fundos lhe dará espaço, principalmente quando, sabendo que vai da ibope, afirma que a articulação do governo Lula no Congresso é pífia. Tenho a impressão de que ele está claramente se oferecendo para melhorar a caótica situação. Na dúvida, melhor criticar o óbvio, jogar verde e, quem sabe, colher maduro. Não há dúvida de que a distância do poder tem feito Ciro Nogueira cutucar a onça com vara curta. Está aí a razão de seus delírios sobre um problema que o Brasil e o mundo inteiro já conhecem.
É o jeito Ciro Nogueira de ser. Nada de novo na forma de fazer política de um parlamentar que não consegue viver fora das quatro linhas do poder. Melhor ainda se tiver um cercadinho. Sem tirar e nem por, ele é o protótipo do homem público desenhado por Friedrich Nietzsche: “Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos”. Dito isto, acrescento que, quando a política servir ao povo e não ao interesse de algumas pessoas ou classes, aí ela se tornará a salvação do mundo. Considerando a máxima de que políticos e fraldas têm de ser trocados de tempos em tempos, provavelmente teremos de nascer de novo, inclusive e principalmente o senador Ciro Nogueira.
Secretário de Estado dos governos Richard Nixon e Gerald Ford, o norte-americano Henry Kissinger disse certa vez que “90% dos políticos dão aos 10% restantes uma péssima reputação”. Acho que não preciso dizer mais nada, apenas lembrar ao nobre senador, conhecido por “Helicóptero do Cerrado”, que, mais cedo ou mais tarde – talvez rapidamente -, a cusparada cairá em cheio sobre sua cabeça. Critique o quanto puder, mas saiba que poucos acreditam em uma vírgula de suas críticas. Luiz Inácio faz parte da lista dos que não creem. Em outras palavras, para quem já disse que Lula era o maior do mundo, é só uma questão de tempo ele (Lula) deixar de ser “o Robin Hood às avessas” e voltar à condição de “melhor presidente do Brasil”. Assim são as criaturas, assim são os políticos que não atam e nem desatam. Esperando somente o estalar de dedos (?) de Lula, Ciro Nogueira é um deles. A deputada Carla Zambelli, chamada de louca por Ciro, que o diga.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978