Mistério da rua sem saída (III)*
Antes da cobra-cega, somem mais dois gatos
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emO sábado amanheceu ensolarado e logo a garotada estava na rua. A brincadeira já ia começar. A maioria escolheu brincar de cobra-cega, que alguns conhecem por cabra-cega. Só estavam faltando as gêmeas, que ainda não tinham saído de casa. Então, a Gabriela, que era mandona mesmo, falou pro Iago ir chamá-las.
– Poxa, sempre sobra pra mim!, resmungou o garoto de olhos de jabuticaba.
Antes mesmo que o Iago tocasse a campainha da casa da Ana Maria e da Mariana, elas apareceram e falaram ao mesmo tempo:
– Iago, você viu a Sonjinha e o Dunguinha?
– Não. Por quê? Não vão me dizer que eles sumiram também?
– Isso mesmo, respondeu Ana Maria antes da sua irmã.
Os três correram para contar a novidade para a galerinha. Então, a Gabriela dividiu a turma em dois grupos para procurar os dois gatinhos. Aliás, os quatro, pois o Virgulino e o Elvis continuavam desaparecidos. Procuraram, procuraram, procuraram e nada de encontrar os felinos. Onde eles poderiam estar?
Depois de mais de uma hora procurando os gatinhos, a Ana Maria veio conversar com a Gabriela.
– Gabi, estive pensando numa coisa.
– No quê, Aninha? – quis saber a Gabriela.
– Olha, já procuramos os nossos amigos gatinhos em vários lugares, mas até agora nem sinal deles. Então, tive uma ideia!
– Que ideia, Aninha? – quis outra vez saber a Gabriela, que além de mandona era muito curiosa.
– Precisamos da ajuda de mais alguém! – disse a Ana Maria fazendo um certo mistério.
– E de quem? – mais uma vez a mandona e curiosa da Gabriela quis saber.
– Ora bolas, da Cuca!, finalmente disse a Ana Maria.
– Da Cuca? Mas por que da Cuca?, a Gabriela não entendeu.
– Olha, a Cuca é uma cachorrinha e tem um ótimo faro. Ela conhece o cheiro de todos os gatinhos que sumiram. Então, ela vai achá-los! Tenho certeza de que ela irá encontrá-los! – falou a Ana Maria.
– Boa ideia! – disse o Diogo, que estava por perto e acabou ouvindo a conversa das duas.
– É, pode dar certo – concordou a Gabriela.
Depois de chamar toda a criançada da rua, a Gabriela falou para o Iago ir buscar a Cuca, que era a cachorrinha da Ana Maria.
– Iago, vai lá na casa da Ana Maria e traga a Cuca aqui.
– Ah, tudo eu, tudo eu!, resmungou o Iago, mas mesmo assim obedeceu à mandona da rua.
Em menos de cinco minutos o Iago estava de volta com a Cuca, que veio abanando o rabinho para a garotada. Ela gosta tanto das crianças que acabou por derrubar a Ana Maria e começou a lamber o seu rosto. A Mariana foi tirá-la de cima da irmã, mas a Cuca deu um pulo e a jogou no chão e também lambeu o seu rosto.
– Para, Cuca! Você está me fazendo cócegas, protestou a Mariana.
– Au, au, au!, a Cuca latia chamando todos para brincar.
– Quieta, Cuca!, ordenou a Gabriela.
Até a Cuca sabia que a Gabriela era mandona e, por isso mesmo, saiu de cima da Mariana e se sentou ao seu lado. A Mariana limpou seu rosto das lambidas da cachorrinha danada.
– Aninha, fala pra Cuca procurar os gatinhos, disse a Gabriela.
A Ana Maria se ajoelhou em frente à Cuca, pegou a cabeça da cachorrinha com as suas duas mãozinhas e olhou bem dentro dos olhos dela.
– Cuca, quero que você ache a Sonjinha, o Dunguinha, o Virgulino e o Elvis, que sumiram. Ninguém sabe onde eles estão. Você pode encontrá-los pra mim?, falou a Ana Maria.
– Au, au, au, respondeu a Cuca.
A cachorrinha, então, colocou o focinho no chão e saiu em busca de uma pista. Ela vinha e voltava, vinha e voltava com o focinho quase arrastando no chão e a cauda levantada. Até que ela foi seguindo para o final da rua, onde parou em frente à casa de um tal Ubaldo Canastra, que havia se mudado há poucas semanas para o bairro. A Cuca ficou de pé com as patinhas da frente apoiadas no muro da casa. Ela estava inquieta, o rabinho agitado, mas não latia para não chamar a atenção do dono da casa. A Cuca era danadinha, mas também não era boba.
A criançada correu até onde a Cuca estava. Jujuba foi a primeira a falar.
– Galera, os gatinhos estão aí dentro! Vamos entrar e pegá-los!
– Não podemos fazer isso, Jujuba. Quem mora aí é aquele homem estranho, o tal Ubaldo Canastra, disse a Taís.
– A Taís tem razão. Precisamos bolar um plano para salvar nossos amiguinhos, disse a Amanda.
Então, a Gabriela, que você já sabe que era mandona e curiosa, convocou toda a galerinha para uma reunião secreta. Só que quando todos já estavam na tal reunião secreta, a mãe da Gabriela a chamou para almoçar. Não demorou muito e todas a mães, pais, avós, avôs, tias e tios da criançada apareceram na rua para avisar que o almoço já estava na mesa.
*O capítulo IV será publicado na quinta-feira, 22