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Mistério da rua sem saída (Final)

Ratoeiras ficam presas em Ubaldo, e gatos, livres

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução Freepik

Domingo! O primeiro a sair à rua foi o Diogo. Ele estava brincando de rodar pião. Logo chegou a Jujuba, que brincou um pouco também. Depois apareceram a Taís e a Gabriela quase ao mesmo tempo. A criançada foi chegando aos poucos, mas ainda faltava um. E você pode adivinhar quem era esse retardatário? Pois é, era o guloso do Iago, que não se contentava com um pão. Ele come pelo menos três! E olha que ele é magrinho que nem palito!

E brinca daqui, brinca dali… A meninada estava com todo gás esse dia. E o Iago, mesmo brincando, não desgrudava os olhos de jabuticaba madura da casa lá no final da rua, onde morava o tal Ubaldo Canastra.

Ih, agora me lembrei que não disse como era esse tal Ubaldo Canastra. Pois bem, ele é um homem de mais de 1,80 metro de altura, pelo menos uns cem quilos ou mais, mãos enormes com dedos grossos, as unhas são tão grandes e cheias de sujeira, é calvo e o pouco dos cabelos que lhe restam são quase pretos. Tem um enorme nariz de batata e sua pele é branca encardida de terra. Seus olhos são maiores do que os de uma coruja e sua boca mais fedorenta que um penico. Pois é assim mesmo esse Ubaldo Canastra!

De repente o Iago começou a pular e apontar para o final da rua. Mas ele não conseguia dizer coisa com coisa. Teve criança até que achou que o guloso da rua tinha pirado. Também teve uma menina, acho até que foi a Jujuba, que achou que o Iago estivesse com dor de barriga.

– O que foi, Iago?, perguntou a Gabriela.

– E…e… ele saiu!, gaguejou o guloso.

– Ele quem, Iago?, quis saber a Jujuba.

– O… o… Ubal… Ubaldo Canastra!, finalmente falou o Iago.

– Vamos turma! Temos de agir o mais rápido possível, disse a Gabriela.

Enquanto a criançada corria para frente da casa do Ubaldo Canastra, a Ana Maria e a Mariana correram para o lado oposto. A Gabriela não entendeu e as chamou.

– Ei, Ana Maria! Ei, Mariana! Aonde vocês estão indo?, falou a Gabriela.

– Vão indo na frente. A gente só vai pegar umas coisas lá em casa. Logo estaremos com vocês, respondeu a Mariana.

Então, a criançada ficou em frente à casa do Ubaldo Canastra. Em menos de cinco minutos apareceram as gêmeas carregando um balde e cinco ratoeiras.

– Pra que vocês trouxeram essas coisas?, quis saber a Gabriela.

– Depois a gente fala. Agora precisamos agir o mais rápido possível, disse a Ana Maria, já pulando o muro da casa do Ubaldo Canastra.

Então, a Mariana passou o balde e as ratoeiras para a sua irmã. Depois também pulou o muro. Vieram atrás dela a Gabriela, a Jujuba e a Taís. As outras crianças ficaram ajudando o Iago a ver se o Ubaldo estava voltando.

A porta da frente estava fechada. Então, as gêmeas tiveram a ideia de olharem se a porta dos fundos estava aberta. As cinco meninas deram a volta na casa. A porta de trás também estava trancada. Mas havia uma janela aberta, só que era um pouco alta para as meninas.

– Puxa, e agora?, falou uma desanimada Jujuba.

– Já sei! Já sei!, disse a Taís.

– O que você já sabe, Taís?, perguntou a Gabriela.

– Olha, a gente vai fazer uma pirâmide humana! Eu já vi isso no circo, respondeu a Taís.

– Pirâmide humana? Mas o que é isso?, quis saber a Jujuba.

– Pirâmide humana é o seguinte: a gente vai subindo uma em cima da outra até ficar bem alta. Entendeu?,  respondeu mais uma vez a Taís.

– E isso vai dar certo?, perguntou a Gabriela.

– Só saberemos tentando, disse a Ana Maria.

Como a Gabriela era a mais velha e mais forte, ela ficou sendo a base da pirâmide. Então, ela encostou o corpo na parede da casa e falou para a Jujuba subir nos seus ombros. Ajudada pelas outras meninas, a Jujuba conseguiu ficar em cima da Gabriela. Depois foi a vez da Ana Maria subir nos ombros da Juliana. Ela foi ajudada pela Taís e pela Mariana. Com bastante esforço ela conseguiu.

– Vai logo, Ana Maria, pula logo a janela, pois não estou aguentando todo esse peso, disse a Gabriela.

A Ana Maria não perdeu tempo e entrou na casa através da janela. Ela estava no quarto do Ubaldo Canastra. Estava tudo escuro, apesar de ainda ser dia. É que as cortinas estavam todas fechadas. Tratou logo de descer a escada da casa de dois andares e foi abrir a porta de trás para a sua irmã e as suas amigas entrarem. Por sorte a chave estava na porta.

Assim que as meninas colocaram os pés na casa, ouviram um barulho…

– Miaaauuuuuu!

– É a Sonjinha!!!, explodiu de alegria a Mariana.

– Acho que o som veio dali, disse a Taís.

As meninas foram andando sempre de mãos dadas pela sinistra casa. Os miados continuaram, agora mais fortes, agora de todos os quatro gatinhos. Finalmente descobriram onde o malvado Ubaldo Canastra os havia escondido: presos numa gaiola dentro do banheiro.

Assim que os gatinhos viram as corajosas meninas, eles começaram a miar, principalmente a Sonjinha e o Dunguinha. As garotas soltaram os gatinhos. A Gabriela pegou o Elvis no colo, a Jujuba ficou com o Virgulino, a Taís carregou a Sonjinha e o Dunguinha.

– Meninas, vocês vão indo na frente. A gente tem de preparar uma surpresa pra esse malvado Ubaldo Canastra, disse a Ana Maria.

– O que vocês vão fazer?, quis saber a Gabriela.

– Depois você vai saber, disse a Mariana.

As amigas das gêmeas, então, saíram da casa carregando todos os gatinhos. Lá fora estavam as outras crianças esperando ansiosas pelas cinco meninas. Mas só apareceram três.

– Onde estão as gêmeas?, perguntaram todos quase ao mesmo tempo.

– Elas já estão vindo. Foram preparar uma surpresa pro Ubaldo Canastra, explicou a Gabriela.

O tempo foi passando, passando… Dez minutos! Quinze minutos! Vinte minutos!

– O Ubaldo Canastra está voltando, galera!, anunciou o Iago.

– Temos de avisar as gêmeas!, disse a Jujuba.

Mas não foi preciso chamá-las, pois antes mesmo do malvado raptor de gatinhos aparecer na rua, as duas irmãs saíram triunfantes da casa. Aí, todos correram para debaixo da amendoeira que ficava em frente à casa da Jujuba.

– O que vocês fizeram lá dentro?, perguntou o Iago.

– A gente colocou água no balde. Depois o pusemos em cima da porta do quarto do Ubaldo. E espalhamos as ratoeiras pelo chão, respondeu a Ana Maria.

– Ué, mas pra que vocês fizeram isso?, perguntou a Amanda.

Mas antes que uma das gêmeas respondesse, a criançada ouviu vários gritos vindos da casa do final da rua. Logo após surgiu o malvado Ubaldo Canastra todo molhado e com cinco ratoeiras penduradas pelo corpo: uma em cada mão, uma em cada orelha e uma pendurada no nariz de batata. A criançada caiu na gargalhada. E essa foi a última vez que todos naquela rua viram aquele homem malvado que, segundo as pessoas, pegava gatinhos para fazer churrasquinho e tamborim.

As duas irmãs continuam morando na mesma rua, uma rua sem saída, numa quadra bem distante, numa cidade bem grande, num país chamado Brasil. Talvez seja até uma rua bem parecida com a sua.

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