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Bolsonaro inelegível

TSE restabelece ordem e tira o pescador de ilusões do barco

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Mathuzalém Júnior - Foto Tânia Rêgo/ABr

Mesmo longe do poder há seis meses, lorde water close continua dando despesas para o Erário. Por causa de seus desvarios, desmandos e loucuras políticas, o Tribunal Superior Eleitoral foi obrigado a reunir seus ministros pela quarta vez em uma semana para julgar um dos maiores crimes já cometidos por um presidente da República contra seu próprio país. Reunir embaixadores, usar o Palácio da Alvorada, residência oficial, e a TV estatal para achincalhar, pública e externamente, o inviolável sistema nacional de votação não é apenas o fim do mundo. É a prova cabal de que, além de nada entender sobre o cargo que exercia, Jair Bolsonaro ultrapassou todas as normas e lógicas da psiquiatria.

Por isso, mais do que a merecida camisa de força da inelegibilidade, o ex-mandatário certamente terá de se explicar criminalmente à Procuradoria-Geral da República e financeiramente ao Tribunal de Contas da União. Afinal, é crime usar o dinheiro público para atentar contra a democracia. Do mesmo modo, trata-se de conduta facciosa, tendenciosa e bandida fazer proselitismo político como tentativa de macular um processo pelo qual ele se elegeu por sete vezes seguidas. E falar mal da urna eletrônica não era somente causa ideológica ou doutrinária. Se fi-lo por que qui-lo, terá de devolver o que gastou leviana e criminosamente.

Apesar dos esperneios dos apaniguados do Congresso ou dos loucos babões, desqualificar o sistema eleitoral do Brasil era a ponta do golpe que se desenhava e que, por pouco, não se configurou em 8 de janeiro. Nessa data, o terrorismo bolsonarista, com a conivência de tresloucados agentes de segurança, destruiu simbólica e fisicamente os três poderes da República. Todo o trabalho golpista ocorreu a olho nu e com o conhecimento do presidente da nação, de seus ministros e de seus principais colaboradores, inclusive do ministro da Justiça, supostamente autor de uma minuta que sacramentaria a legalidade do levante antidemocrático. O Brasil e o mundo viram e perceberam a gravidade dos episódios que contribuíram para a acachapante derrota de Bolsonaro na eleição de 30 de outubro.

Talvez preocupado com sua moqueca de graúdos camarões em frente à Praia do Mucuripe, onde mora, somente o ministro Raul Araújo não entendeu o viés tirânico de toda a ilícita confusão produzida pelo mito. Perdendo a grande chance de ficar calado, ele abriu a divergência, que foi seguida quase ipsis litteris pelo ministro Nunes Marques. Nenhuma novidade para quem não consegue se soltar das amarras do “chefe” e acaba sendo atingido pelo azedume e pela mesmice política do capetão. Seguindo a máxima do moleiro de Sans-Souci (um dia conto a história), surgida na Prússia, em 1945, ainda há juízes no Brasil, como havia àquela época em Berlim. Na sessão de quinta-feira (29), os ministros Floriano Marques e André Ramos Tavares corrigiram os bajulatórios atropelos de Raul Araújo e acompanharam o eloquente voto do relator Benedito Gonçalves.

Os números finais foram dados na sessão extraordinária desta sexta-feira (30) pelos ministros Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes, cuja acidez deve ter incomodado o combalido fígado do ex-presidente. Sem qualquer apreço pelos valores da democracia, Jair Bolsonaro ainda se acha perseguido e discriminado. Interessante é que, além de ausência quase absoluta de manifestações favoráveis, os principais aliados do mito assistiram ao seu funeral político no exterior. É o caso de Valdemar Costa Neto, em férias em Las Vegas. Por enquanto, resta a Bolsonaro o Supremo Tribunal, onde Dom Xandão também tem maioria e deverá repetir o chutaço. A síntese é que, tantas o Bozo fez, que achou seu novo caminho: pescador de ilusão no Lago Paranoá. E foi por goleada: 5 a 2 em favor dos peixes. E tinha de ser em uma sexta-feira. Dizem as más línguas que ele vai abandonar a política e se dedicar ao xadrez. Mais uma vez, tchau, querido, tchau.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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