Zumbis
Discípulos do mal já chafurdam na lama do mito de pouco valor
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emVista a olho nu, a deterioração do bolsonarismo é proporcional à queda do grupo lavajatista, incluindo alguns deputados e senadores de primeira encarnação. O ex-procurador Deltan Dallagnol foi o primeiro a experimentar a maldição da 13ª Vara Federal, em Curitiba. Perdeu o mandato por votação unânime no Tribunal Superior Eleitoral e agora, se tudo der certo, terá de se submeter ao teste da Ordem dos Advogados do Brasil se quiser sobreviver como profissional liberal. Atirou no que não viu e acabou atingido pelo raio da verdade, aquele que demora, mas não falha. DesMOROnado politicamente, o próximo da lista aguarda apenas a vontade dos deuses.
Terreno fértil para uma série de desmandos até dezembro de 2022, o solo irrigado de ódio e de maledicências pelo mito de barro se transformou em um vale extenso e repleto de almas agoniadas e bem próximas do cadafalso. Dallagnol já virou alma penada. Sérgio Moro está na fila dos zumbis. Líder da massa falida, desencarnada e desorientada, Jair Messias bate às portas que ele mesmo fechou. Entre desprestigiado e assustado com a condenação, o que ouve com relativa frequência é um pedido para voltar no dia seguinte. É fácil entender que, para seus atuais interlocutores do plano judicial, sem excelência não há complacência.
Melhor dizendo, o sepulcro de quem se acha acima do bem e do mal nada mais é do que a passagem de uma seara para outra. No caso em questão, o protagonista deixou a esfera superior e adentrou na penumbra do umbral, apelido dado pela espiritualidade ao purgatório. Exatamente como se encontram hoje os mais de mil golpistas de 8 de janeiro albergados na Papuda. Minudências à parte, a involução do homem que um dia se achou mais importante do que o rei é a prova de que, perdido o fio da inspiração, resta-lhe tão somente a melancolia dos deliberadamente azarados. Não afirmo que seja o caso dele, mas estes podem – e devem – ser incluídos na lista de pessoas inidentificáveis e distantes, para não dizer idiotas e pueris.
Para quem se esmerou na plantação de ideias e propostas conservadoras, tirânicas, desrespeitosas e desanimadoras, a colheita não podia ser outra. Pouco a pouco, o que era um paraíso santificado pelos “deuses” da Igreja Universal virou um estreito recinto dominado por figuras vampirizadas, hostis e tóxicas àqueles que delas se aproximam. Recém-chegados ao Congresso Nacional, deputados e senadores vinculados narcisicamente ao líder sinistro e obsessor vagam pelo Legislativo sem saber o que fazer, dizer, propor e votar.
Na ausência de trabalho nobre, a maioria entrega-se ao perturbador vício de atacar e ameaçar adversários mais inteligentes. Os ministros da Justiça e dos Direitos Humanos, respectivamente Flávio Dino e Silvio Almeida, que o digam. Superiores à ignorância dos estúpidos, ambos deveriam ser santificados, pois, apesar dos achincalhes, optaram por combater a alienação com sensatez e trabalho. Fora da sintonia exigida pelos colegas congressistas, os desventurados parlamentares bolsonaristas, como discípulos do mal, ora se exercitam no fio da navalha cega e carregada de simbolismos nocivos, ora chafurdam na própria insignificância em busca absurda do desafortunado e desditoso poder.
Digo isso porque, como indicam os fatos, todos os que penetraram na essência dos ideais do mito acabaram bem distantes das regalias e dos privilégios sociais que, imerecidamente, desfrutavam. Do banditismo dourado sobrou pouco. Hoje viúvas desamparadas ou órfãos insensíveis, os devotados seguidores de Jair Messias estão entregues ao próprio destino. Uns talvez consigam se safar das barras dos tribunais. No entanto, em algum momento, a maioria, inclusive o mito, certamente será convidada a se retirar do convívio social. Aí, o repouso forçado poderá ser seguido de doses cavalares de torturas mentais e/ou magnéticas. E tudo sem anestesia, exatamente como propuseram em um passado muito recente.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978