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O banco é dos réus

Prigozhão pode ver na Praça a ponte que partiu ou tomate cru

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Carlos Antunes - PR

As melhores casas do ramo informam que Yevgeny Prigozhin está de volta à Rússia. Já as piores noticiam que o Prigozhão brasileiro está se preparando para mudar de ramo. Dizem as boas e más línguas que ele está montando um espetáculo de artes cínicas e pretende viajar o Brasil com seu teatrinho mastodôntico, golpista e chauvinista. Talvez até aceite o convite do parça Carlos Alberto de Nóbrega para sentar-se no banco socioeducativo da Praça é Nossa e dali fazer campanha para timoneiro dos navios que fazem a rota Brasília-Rio de Janeiro, com escalas em Goiânia e Belo Horizonte.

Juiz de Fora não faz parte do trajeto por razões óbvias: sendo de fora ou de dentro, o termo juiz dá arrepios no robozão. Sei lá, mas ando pensando muito em pensar um pouco menos, principalmente quando os pensamentos convergem para os peçonhentos. Não é tarefa fácil. O primeiro passo me foi recomendado em um desses sonhos sem nexo, mas com sexo, daqueles que a gente dorme biritado, acorda feliz e suado de não fazer nada, embora tenha certeza de que fez tudo. Na imaginação noturna, fui proibido de fantasiar, escrever, cogitar ou meditar sobre os números 17 e 22.

Complicado, pois são as dezenas dos animais de minha preferência na contravenção penal aquecida e alentada ao extremo pelo mito Castor de Andrade, o dono de Bangu, Realengo, Padre Miguel e adjacências. O fato é que o macaco e o tigre não mereciam ter seus dígitos vinculados às sandices produzidas pelo jacaré do papo amarelo ou, se preferirem, pelo marido da cotia. Ambos surgiram e desapareceram no Cerrado da capital do país. Em meus devaneios, o 17 me chegou “como quem vem do florista/Trouxe um bicho de pelúcia, um broche de ametista”, me deu um banho de água quente e, quase à força, pedia para que eu o batizasse com a borracha de água benta.

Assustado, eu disse não. Tô fora. Graças a Deus, o 22 “não trouxe nada e também nada perguntou”. Desconheço como se chama, mas sei que novamente queria ser o que não conseguiu ser em quatro anos. Mais uma vez eu disse não. Sai pra lá, capetão. Antes de acordar, tive tempo de dizer que não faço parte da patriotada de acampamento, aquela que troca lubrificante por maionese e ketchup e fica tudo nos nove fora nada, raiz quadrada de cinco, mas de quatro. Deus me livre dessa posição. Minha história é outra. Mesmo não permitindo que indague sobre meu passado, que vasculhe minhas gavetas ou que me ofereça aguardente, estou fechado com o 13, que é galo macho na loteca dos bichos.

Era somente um sonho, mas, entre preocupado com o disse me disse da turma da pesada e os mexericos dos amigos de infância, entre um e outro ronco, achei tempo para me rebatizar. Buscando pela memória seletiva, lembrei-me das mulheres Melão, Melancia, Jaca e Pepita e decidi, por minha conta e risco, me autodenominar Homem Tinhorão. Mudei logo de nome ao ser informado de que o tinhorão é uma planta bulbosa, com folhas grandes, rajadas ou pintalgadas, com tonalidades de branco, verde, rosa ou vermelho. Também pulei fora da nau alaranjada. Sou rubro-negro e, como tal, não pinto e nem bordo.

Nada contra, nada contra mesmo, mas sou do grupo que prefere plantar a mandioca, fatiar o nabo, molhar o biscoito, descabelar o palhaço e desbravar florestas. Sou adepto da filosofia do conterrâneo Saint-Clair Mello, para quem pior do que um panarício no dedo só mesmo o medo de tudo isso. Enfim, simpático (não militante) ao 13, prego lealdade até debaixo d’água aos irmãos da bancada vermelhista ou vermelhenta. Por isso, além de optar pela alcunha de Homem Quiabo, o que escorrega de fora para dentro e de dentro para fora, acho que chegou a hora de os brasileiros de todas as numerações partidárias serem bem claros com o Prigozhão: ou a ponte que partiu ou o tomate cru. Escolha rápido, antes que encolha ainda mais.

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