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Luzia, a baixinha

Saindo do Maranhão para Brasília, via Rio de Janeiro

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução das Redes Sociais/Getty Images

Luzia nasceu pequena, cresceu menos que a maioria, tornou-se uma mulher de pouco mais de 1,50 m. Parecia não se incomodar com as diversas piadas da família e dos amigos, mesmo que boa parte deles nem chegasse a 1,60 m. Até ria da situação, e acabou gostando quando alguém lhe disse que os melhores perfumes vinham sempre em frascos menores.

Da sua pequena cidade natal no Maranhão, foi ainda bem jovem tentar a sorte no Rio de Janeiro. Arrumou um emprego em uma loja de couros ali na rua da Passagem, em Botafogo. Toda sorriso, logo conquistou os clientes, que só queriam ser atendidos por ela. O patrão, obviamente, gostou, já que os lucros aumentaram substancialmente.

Não demorou, a maranhense passou a ser conhecida naquela parte do bairro. Dessa forma, toda vez que saía para fazer algo na rua, era parada para uma conversa, mesmo que fugaz, com alguém, seja o porteiro de um dos edifícios, seja o atendente da lanchonete na esquina, seja até mesmo um dos ambulantes ali pertinho do metrô. De tão enturmada, Luzia já se sentia parte daquele lugar, apesar da saudade da sua terra ainda lhe fazer companhia, especialmente nas noites solitárias.

Naquela manhã, tudo parecia como nos dias anteriores. Calçou a sua rasteirinha e foi trabalhar. Já na loja, Luzia andava de um lado para o outro, tentava dar atenção a toda aquela gente, que parecia só querer ser atendida por ela. Que correria! Todavia, pareceu valer a pena, pois, quase no final do expediente, eis que a maranhense recebeu uma polpuda gorjeta de um senhor, que nem era freguês de longa data, mas que de cara se simpatizou pelo largo sorriso da jovem mulher.

Final de expediente, Luzia foi caminhar pela calçada da rua Voluntários da Pátria, quando se deparou com uma vitrine cheia de manequins usando vestidos, saias e blusinhas. Diante do vidro, bem que se imaginou com aquelas roupas. Com certeza algumas lhe cairiam muito bem, pois formosura era o que não faltava naquele corpo trigueiro.

Quase decidida a gastar a sua pequena loteria, eis que ela desviou o olhar para o canto. Ficou encantada por aquele sapato de salto alto. Vermelho! Totalmente vermelho, caso não fossem pelas pequenas fivelas prateadas que lhe conferiam um ar de sofisticação ainda maior. Não teve dúvida! Comprou aquele mimo!

Mal chegou ao seu pequeno apartamento, jogou a rasteirinha para debaixo do sofá. Seus pés deslizaram por aquela forma delicada, como se fosse uma criança brincando no escorrega de um parquinho qualquer. Ergueu-se de tal forma, que todas as vértebras de sua coluna pareceram estalar. Caminhou até o enorme espelho do seu quarto. No entanto, antes que pudesse se apreciar, a campainha tocou.

Era Josivaldo, o porteiro. Ele, que até era alguns milímetros mais alto que Luzia, se surpreendeu quando ela o atendeu. Graças aos quase 15 centímetros de salto, a maranhense o olhava de cima para baixo. Luzia se sentiu poderosa!

O cliente da gorjeta voltou mais vezes. Ela foi mudando para melhor. E os dois se mudaram para Brasília, onde a prole cresce todo ano.

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