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Inventário nas mãos

Lira empenha palavra, faz sua parte e espera o mesmo de Lula

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Diego Tinoco - Foto Marcelo Camargo/ABr

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anda chateado com ações supostamente lançadas do Palácio do Planalto diretamente contra ele. São matérias requentadas, como a denúncia de agressão, feita pela ex-esposa; e, investigações ligando um seu assessor a malfeitos com emendas destinadas ao kit robótica. O deputado não se abalou, como foi visto em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura. Mas ligou o sinal de alerta.

Nos corredores do Congresso, é sabido da importância de Lira em suas articulações nas vitoriosas votações de maior importância para o Governo nos primeiros seis meses. Foi justamente sua atuação que permitiu a aprovação da PEC da Transição, garantindo a Lula fôlego suficiente para iniciar essa sua terceira passagem pelo Palácio do Planalto.

Como política é uma via de mão dupla, o Governo, sem uma articulação que garantisse contrapartida aos congressistas, viu-se obrigado a recuar em algumas questões nas quais julgava essenciais, como o Decreto do Saneamento e a Medida Provisória de reorganização da Esplanada. Esse caso específico, embora a MP tenha sido aprovada, mostrou que Lula precisa suar para alcançar um meio-termo com Lira, que lidera não apenas o seu PP, mas um grande bloco suprapartidário.

Nos últimos dias, Arthur Lira começou a bailar no Congresso. Resolveu enfrentar de peito aberto o senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu rival estadual e cacique de renome nacional. Renan desfruta de grande prestígio com o presidente da República, a ponto de emplacar o filho no Ministério dos Transportes. Vem a ser o senador Renan Filho, emedebista eleito sob a bandeira petista no ano passado.

Ainda sem conseguir alterar a forma de destinação das emendas parlamentares, o atual RP2 passou a negociar com o Governo e começou a se mostrar mais afável, evitando pautas bombas. Conseguiu, assim, tirar cascas de banana do caminho de Lula, mas ao mesmo tempo elevou o tom de críticas à articulação política palaciana.

Em suas entrevistas beirando uma certa arrogância, Lira, para quem não o conhece, mostrou segurança no controle da pauta. Reforçou suas reuniões de líderes até que começou a mostrar ao Governo que não estava brincando ao conquistar como forte aliado o próprio líder do Planalto na Câmara.

O Governo já não tinha mais saída, a não ser negociar com Arthur Lira, uma vez que as pautas mais importantes do semestre, quiçá do mandato, estavam prestes a chegar na Casa Legislativa para apreciação. O deputado, honrando o acordo firmado com o Executivo, manteve-se firme na condução dos trabalhos, designou aliados de extrema confiança para relatar as matérias mais significativas e assegurou que não haveria nenhuma bomba para o Governo Federal. Tome-se como exemplos o novo Marco Fiscal, o PL do CARF e um gigantesco destaque para a Reforma Tributária, acordada com a Fazenda.

Agindo assim, Arthur Lira comprovava a fama de cumpridor de acordos, e ainda teve a grata surpresa do convívio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que acertadamente passou a frequentar com maior assiduidade a residência oficial da Câmara para alinhar as pautas e convencer os líderes a apoiá-las.

A partir daí, elogios recíprocos se espalharam por Brasília, chegando inclusive à Faria Lima, onde as repercussões foram positivas. Estava assegurada ao presidente Arthur Lira a fama de estadista. Com esse reconhecimento, foi fácil fazer chegar a Lula o recado de que acordos se cumprem, ou o país marchará célere para um semiparlamentarismo.

Lula, que durante a campanha criticou Bolsonaro por estar no “colo” do presidente da Câmara, entendeu que pode não se sentar no colo, mas precisa andar de mãos dadas se quiser aprovar as matérias que lhe interessam. A bola da vez é o arcabouço fiscal, essencial para o Orçamento de 2024.

“Não tem Orçamento do ano que vem sem essa matéria ser votada”, disse há alguns dias Fernando Haddad. O arcabouço pode até passar. Mas desde que Lula passe uma vassoura na Esplanada e em algumas estatais, cumprindo o combinado com Lira que, por sua vez, combinou com seus aliados da Câmara. Aliados, aliás, que decidem se votam sim ou não.

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