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Abílio Augusto, o profeta

Faxineiro define colunista como autor do que já foi

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

Abílio Augusto Prado era amado por milhões. Sim, por milhões de leitores ávidos pela coluna mais badalada do mais renomado jornal da cidade. Tamanha fama lhe trazia certas benesses, como jantares dos mais concorridos nos seletos clubes. E, nessas ocasiões, um monte daquelas pessoas carregadas de brilhantes eram todas elogios aos escritos perspicazes do colunista.

Assuntos variados eram abordados por Abílio. Um verdadeiro analista dos ocorridos, sejam antigos, sejam até mesmo os do dia anterior. Que sapiência!!! Muitos ficavam surpresos com tamanha capacidade de análise. Era um gênio!!! Tanto é que iria receber, naquele dia, uma justa homenagem pelos preciosos serviços prestados à comunidade: o título de cidadão honorário, com direito até à chave da cidade.

Mal deu os primeiros passos na enorme calçada do Country Club, Abílio foi cercado por entusiastas. E ondas de parabéns daqui, congratulações dali, apertos de mãos acolá, tapinhas nas costas de todos lugares. Entrou no grande salão, apinhado de gente desfilando os últimos modelitos, todos assinados por estilistas renomados. Bateu aquele frio na barriga, tamanha a expectativa.

Foi direto para o banheiro, onde jogou litros e litros de água no rosto. Um sorriso nervoso tomou-lhe a face. Sacou diversas folhas de papel do suporte ao lado. No entanto, antes que pudesse enxugar-se, eis que entra um velho empurrando um carrinho com material de limpeza. Uma breve troca de olhares, nada mais.

O faxineiro começou a recolher o lixo, ao mesmo tempo em que Abílio passava o papel na face. Assim que terminou de se enxugar, depositou o papel-toalha na lixeira do carrinho. O velho agradeceu pela gentileza e, então, o homenageado, mais altivo do que nunca, resolveu conceder um breve interlúdio.

– Sabe quem sou eu?

Diante do silêncio ensurdecedor do homem da limpeza, Abílio não resistiu e se apresentou. Fez um breve relato dos seus fundamentais serviços prestados à sociedade.

– Eu decifro os motivos pelos quais algo se deu de uma forma ou outra. Entendeu?

– Ah, tá! Você é o profeta dos fatos acontecidos.

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