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Eita, peste

Moleque travesso escapa até de velha benzedeira

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Autor/Imagem:
Eduardo Rodríguez - Foto Reprodução/BuzziFeed

Lá estava eu sonhando o sonho dos justos madrugada adentro, quando recebo uma ligação do José Seabra, editor do Notibras. Antes que eu possa dizer alô, ele me manda essa: “Dudu, cadê a crônica de logo mais?” Cambaleando, vou até a sala e começo a digitar a história, até onde sei, da famosa benzedeira de Copacabana. Menos de 30 minutos após, mando o texto pro meu chefe e, finalmente, posso voltar para o aconchego debaixo dos lençóis.

Francisca, mulher de lá seus quase 70, era muito considerada na comunidade, seja como benzedeira das mais tradicionais, seja por conta dos quitutes que deixava todo mundo com água na boca. Mal saía de casa, todos a cumprimentavam ladeira abaixo, até chegar à rua, de onde caminhava até o calçadão de Copacabana. Virava à esquerda e dava exatos sete passos. Ainda de pé, retirava as sandálias de couro puído e, somente então, pisava na areia. Sentia seus pés afundando gostosamente, ao mesmo tempo em que soava aquele gostoso barulhinho: “Chiiii!”

Nada detinha Francisca até que chegasse às águas, que lambiam seus pés. Ela abaixava o tronco e, com os braços pêndulos, catava um pouco da água salgada, passava nos pulsos e, depois, molhava o rosto. Precisava energizar! O olhar fixo para o horizonte, a boca muda, apesar do sorriso alvo por conta da nova dentadura, conversava em pensamento com Iemanjá, a rainha do mar.

Quase uma hora após, Francisca subia o morro e, finalmente, chegava à sua casa. Tudo era paz, tamanha a paciência da velha. Logo chegariam os moradores em busca de auxílio espiritual. E foi o que aconteceu, quando adentrou na varanda da casa da benzedeira a Iolanda, que puxava o filho pelo braço bem fininho.

– Dona Francisca, a senhora precisa me ajudar com o Pedrinho!

– E o que tem esse menino tão lindo, minha filha?

– Ele não obedece ninguém! Já botei de castigo, já dei taca, mas ele continua desobediente.

Francisca observa cada palavra cuspida pela boca de Iolanda, enquanto o moleque tentava se esconder entre as pernas da mãe. A velha, com aquele olhar complacente, pegou na mão do Pedrinho. Este, por sua vez, fez uma careta tão feia pra benzedeira, inclusive dando língua. Francisca, já com a feição atormentada pela atitude do Pedrinho, diz:

– Isso não se correge nem peste!

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