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Desabafo de Everardo

Ilusões de advogados se perdem com a atual OAB

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José Seabra - Foto de Arquivo

Levantei-me do cochilo da tarde cantarolando Cazuza. “Meu partido é um coração partido (…) Meus heróis morreram de overdose e meus inimigos estão no poder (…) Ideologia, eu quero uma pra viver”. Não sou de interpretar sonhos, mas avalio que inconscientemente associei a música à questão da advogada Margarida Marinalva, com mandado de prisão expedido por Alexandre de Moraes, supostamente por interferência no inquérito que apura os atos golpistas do 8 de janeiro.

Xandão está certo ao manter atrás das grades muita gente presa em flagrante naquele domingo sombrio. Seus votos nas primeiras condenações também se justificam. Um remédio suave, creio, para terroristas. Mas, me pergunto, doutora ‘Nalva’ é acusada de quê? Alguém diria que ela teria se apropriado indevidamente dos aparelhos celulares dos seus pacientes, prejudicando, assim, as investigações. Acompanhei o debate da prisão em diferentes grupos de advogados. Não li uma manifestação sequer da OAB em defesa da sua associada (conselheira, alias, da subseção de Águas Claras).

Conversei com meus botões. Me veio à memória um telefonema rápido, na véspera, do doutor Everardo Gueiros. Questionou-me o advogado pernambucano, eventual adversário do grupo do seu conterrâneo Délio Lins e Silva Jr na próxima disputa pelo comando da OAB, o que teria motivado o mandado originário do gabinete de Xandão.

Everardo mostrou-se indignado. E justificou sua repulsa, lembrando que, nas prisões de janeiro, não havia ordem de busca e apreensão, ordem para periciar… ou seja, ela podia, como advogada, guardar os equipamentos sem que seu ato fosse interpretado como obstrução da justiça. Se não forem outras as justificativas do ministro, Everardo Gueiros tem razão, quando disse, no telefonema, que se a Ordem não defende seu pessoal, quem o fará?

O tempo do ‘nada a declarar’ de Armando Falcão, ficou para trás. Cazuza, porém, ainda vive. (…) As ilusões estão perdidas (…).

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