Fraconildo
Dona Irene, Dudu e o choro do menino grande
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emConfesso que, ao contrário da minha esposa (a Dona Irene), sou extremamente sensível à dor. Aliás, por causa disso, ela sempre brinca comigo dizendo que eu seria um péssimo espião, pois, caso eu fosse capturado pelo inimigo, entregaria todos os segredos antes mesmo de um simples beliscão na orelha.
Só para você ter ideia da diferença de sensibilidade entre a Dona Irene e mim, vou lhe contar duas situações, ambas verdadeiras por sinal. A primeira aconteceu com ela, que estava em uma reunião de trabalho. A minha mulher, em determinado instante, disse que precisaria se ausentar, pois estava sentindo um pequeno incômodo. Ela se levantou e, depois de aproximadamente uma hora, me telefonou:
– Dudu, você pode vir aqui no hospital agora pegar o carro?
– Hospital? Como assim? O que houve?
– É que o médico disse que eu vou ter que ser operada por causa de um cálculo renal.
Caso você não tenha entendido, ela, que estava com uma crise renal, dirigiu do trabalho até o hospital sozinha. A distância entre esses dois locais é de aproximadamente dez quilômetros. Pois bem, essa é a Dona Irene!
Já o que aconteceu comigo foi mais ou menos assim. Eu havia acabado de sair com o Chengulo, o meu buldogue, quando, de forma estabanada, acabei metendo a testa em um suporte de ferro desses que ficam nos portões de algumas residências para colocar o lixo. A pancada foi tão forte, que a dona da casa saiu e fez aquela cara de assustada, pois o sangue escorria pelo meu rosto.
Quase na mesma hora, telefonei para a minha amada, que disse que eu teria que levar alguns pontos. Tentei retrucar, pois tenho horror à anestesia local, que sei que arde pra caramba. Pra quê? A Dona Irene disse que iria sair do trabalho naquele momento e que me levaria até o hospital para que a minha testa fosse suturada.
Não sei exatamente em quanto tempo a minha mulher chegou para me buscar, mas pareceu um minuto ou dois. É que sempre que eu quero que algo não aconteça, o tempo passa voando. Logo estávamos na sala, com a médica com aquela seringa enorme cheia de anestésico. A cada injetada daquele líquido, eu apertava a mão da Dona Irene, que, serena, tentava me consolar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Que eternidade!!! Finalmente, a minha testa ficou dormente, a doutora me deu 11 pontos e, antes de sairmos do local, a Dona Irene se virou para mim e falou:
– Já vi gente frouxa, mas você é, de longe, o mais fraconildo agudo!