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Dar anéis e ficar com dedos

Fogo amigo quer Lula sem Lira para o país ficar ingovernável

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Antônio Cruz/ABr

Nem tudo que reluz é ouro, mas, do mesmo modo que as aparências levam à decadência, cobra que não anda não engole sapo. No dicionário de expressões populares, tudo isso quer dizer uma única coisa: quem fica parado ou acomodado não obtém êxito em nada. É aquela velha história de que somente o sertanejo torce sempre pelo bom tempo. Como nada cai do céu, não é recomendável esperar por uma crise para descobrir o que é importante. A vida é uma balança entre aceitar o que não se pode mudar e ter coragem para mudar o que pode ser mudado. Assim são os governos, os governantes e os críticos de ambos.

Viajando no tempo, volto aos escritos de Luís Vaz de Camões e reitero que “um fraco rei faz fraca a sua forte gente”. Para uma análise mais justa, é preciso inicialmente distinguir fraqueza de legitimidade e de obrigação de governar para todos. Conhecer os próprios limites é condição sine qua non para não ser um rei fraco. Saber até onde se pode ir equivale a não se apresentar como sabichão. O famoso deixa comigo está fora de moda. Os que sabem tudo e tudo resolvem fracassam na primeira curva. O exemplo mais recente foi o caos de uma gestão que se imaginou eterna, mas que entregou a vida ao Diabo e, mesmo transformando o país em um inferno, durou apenas dois pares de horripilantes anos.

Embora sejam considerados sem valores, os que negociam com ética, experiência, consciência e sabedoria entregam os anéis, mas nunca os dedos. Ou seja, cedem aos aduladores para sustentar horizontes nacionais. No entanto, jamais se comprometem com os medíocres ou com a mediocridade. Dito isto, por mais que não me identifique com os ideários do Centrão, impossível não admitir que a entrada do bloco no governo do presidente Luiz Inácio estabiliza a relação do Executivo com o Legislativo. Ainda que seja um balcão de negócios, o acordo entre Lula e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, sela um diálogo que certamente facilitará a sequência de pautas de interesse nacional.

O âncora do Planalto é e será sempre Luiz Inácio, cuja gestão não é passível de terceirização. Ocorre, porém, que qualquer conforto tem preço. Os sofás, os fogões e as geladeiras das Casas Bahia custam caro. Metáforas à parte, ceder cargos faz parte do jogo político no Brasil e no mundo. Não tenho recibo para defender a liberação de ministérios e a presidência da Caixa Econômica para aliados de Arthur Lira. O que defendo é o respeito ao acordo feito com anuência das principais lideranças do PT para que fosse consumado o é dando que se recebe. Portanto, a exemplo do jogo do bicho, vale o que está escrito.

Também não tenho afinidade alguma com o aiatolá das Alagoas. Todavia, há a necessidade de ser justo. Para os inimigos dos fatos, a primeira ação de Carlos Antônio Vieira Fernandes, liderado de Lira à frente da Caixa, foi liberar negócios publicitários milionários para Arthur Lira Filho, dono da agência de publicidade Omnia 360. O veículo que deu a notícia primitiva faltou informar com destaque que a empresa está associada à Caixa desde 2021, isto é, desde o governo de Jair Messias. Mais uma vez, bato na tecla de que, duela a quien duela, acordo é para ser cumprido.

É preciso ter nervos de aço para governar 203 milhões de cabeças diferentes e ser obrigado a negociar com 584 congressistas com variados interesses pessoais e políticos. Por isso, o acordo é sempre melhor do que uma guerra. Como eleitor e contribuinte, torço para que Lula, Arthur Lira e afins estejam de acordo com a máxima de que a sabedoria moral consiste em que o homem, antes dos acertos, tem de conhecer a si próprio. No jogo da vida e da política, o sucesso não é ter as cartas certas, mas jogar com as erradas corretamente. Como disse Albert Einstein, o único homem que está isento de erros é aquele que não arrisca acertar. Deixem o homem trabalhar e esperem 2026 para vaiar ou aplaudir.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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