Irã vai à Rússia para acabar genocídio em Gaza

O presidente do Irã Ebrahim Raisi está na Rússia para conversações com Vladimir Putin. O encontro não é novidade em si, uma vez que os presidentes iraniano e russo viajam entre Teerã e Moscou há anos, e estas viagens aumentarão à medida que a cooperação crescer, como salientou um especialista, mas sublinhou a significado particular do momento da visita atual.

A questão mais urgente na mente do presidente iraniano, Ebrahim Raisi, antes das conversações com o seu homólogo russo, é a “limpeza étnica e os massacres” que Israel está a conduzir na Palestina, disse Foad Izadi, professor associado do Departamento de Estudos Americanos, da Universidade de Teerã.

Isto explica o momento da viagem , disse o especialista, acrescentando que a questão do genocídio deveria ser uma preocupação para todos os líderes mundiais. “ E isso é obviamente algo com que o Irão se preocupa ”, salientou o professor, em referência ao número crescente de mortes de civis em Gaza no meio da guerra de Israel contra o Hamas.

Depois de o cessar-fogo de sete dias entre Palestina e Israel, estabelecido como parte de um acordo para troca de reféns e permitir a passagem de ajuda humanitária, ter chegado ao fim em 1 de Dezembro, as autoridades têm alertado para a situação cada vez mais terrível no enclave.

Israel começou a bombardear fortemente a Faixa de Gaza poucos dias após o ataque surpresa de 7 de Outubro lançado pelo Hamas, tendo implementado bloqueios que não só cortaram o fornecimento de alimentos, água e medicamentos, mas também as comunicações por tele e Internet. O governo israelita declarou que as operações militares na Faixa de Gaza se destinam exclusivamente a atingir locais do Hamas; no entanto, milhares de habitantes de Gaza foram mortos como resultado das hostilidades.

Tendo em mente como as relações Irã-Rússia cresceram nos últimos anos, com uma cooperação bem sucedida em questões relacionadas com o Médio Oriente por ambos os lados, como no caso da guerra civil síria, “ penso que o presidente iraniano está a tentar ver se a Rússia seria mais ativo no que diz respeito ao genocídio que está ocorrendo na Palestina ”, especulou Izadi.

“Então acho que é por isso que estamos vendo a viagem. Essa será uma questão importante que será discutida”, afirmou.

Além da questão da Palestina, tendo em conta a delegação de alto escalão que acompanha o presidente do Irã, pode-se supor que as relações bilaterais também terão prioridade nas conversações, disse o especialista. O Irã e a Rússia aumentaram significativamente os seus laços económicos , especialmente nos últimos anos, enfatizou o professor. Portanto, o Irã procura expandir esta cooperação nas esferas militar, económica, cultural e outras, disse o Professor Izadi.

Além disso, o Corredor de Transporte Norte-Sul será um tema importante nas próximas negociações bilaterais entre a Rússia e o Irão, disse o especialista, esclarecendo: “Uma questão que temos com a cooperação económica é garantir que os bens que deveriam vir do Irão e os bens que o Irão compra à Rússia possam realmente ser entregues. O Mar Cáspio é partilhado por ambos os países. Portanto, facilitar o comércio, utilizando o Mar Cáspio, é um foco de ambos os países que vai aumentar. O uso de ferrovias para transporte de cargas precisa aumentar, assim como de estradas regulares.”

Há também outras questões políticas que interessam a ambos os lados, destacou o analista. Países com ideias semelhantes, como o Irão e a Rússia, precisam de alinhar as suas posições em resposta à “ agressão em que o Ocidente está envolvido, seja na Ucrânia, na Palestina ou noutros lugares ”, afirmou.

“O Irão apoia a resistência da Rússia contra a pressão ocidental… E, claro, a Rússia tem o direito de defender o seu território dos ataques ocidentais. Uma vez que estamos a caminhar em direcção a uma nova ordem mundial, penso que tanto o Irão como a Rússia percebem que neste momento de mudança e de transição para uma nova ordem mundial… Quanto mais estreitas se tornarem as relações Irão-Rússia, melhor será. será para ambos os lados”, concluiu Foad Izadi.