Espírito maldoso
Cartilha do professor de Deus falha na terra de Milei, El Loco
Publicado
emDia desses, em conversa com um amigo que, gratuitamente, questiona minha opção pela democracia, descobri, quase sem querer, a principal razão do ódio dos bolsonaristas de oportunidade contra a luta dos petistas, particularmente a de Luiz Inácio. Contra todos os prognósticos sociais, Lula foi um operário que deu certo. Confirmando as teses de antigos militares, Jair Messias, o Voldemort, foi um milico que deu errado. Tanto que, alinhando-se a Fernando Collor de Mello, o falso caçador de marajás, e a Michel Temer, o mordomo de filme de terror, fechou o triunvirato de presidentes da era pós-redemocratização a não se reeleger.
Daqueles que hoje idolatram a figura histriônica de Bolsonaro, o amigo em questão já brigou – e muito – por uma foto ao lado de Lula. Estamos juntos em várias delas. Não preciso dizer onde, pois ele sabe desde a primeira encarnação do líder petista, em 2002. Mudar de camisa é do jogo (será?) político. Complicado é cuspir no prato em que comeu por longos anos. É o caso do companheiro que, apesar do gênero crustáceo, sofreu a tal da lavagem cerebral bolsonarista e hoje acha top rotular o ex-ídolo molusco de ladrão. Pior é achar interessante o ensinamento do tipo brucutu repassado ao recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei.
No melhor estilo das hienas, que matam suas presas rindo, e dos trogloditas que esfolam sem dó e nem piedade, Milei vem incorporando dia a dia o espírito maldoso do hermano Bolsonaro. Antes mesmo de apresentar uma proposta capaz de tirar a Argentina do buraco, o peluquero El Loco decidiu governar com o chicote em uma mão e a metralhadora na outra. Boa para alguns e ótima (?) para quem a estabelece, a estratégia raramente dá certo. Com exceção do período de arbítrio, quando a repressão era a tônica do poder, deu errado na própria Argentina. Presidentes anteriores agiram com violência extrema contra manifestantes e duraram no cargo somente um verão. No inverno, tiveram de se recolher em Ushuaia, considerada a última cidade do mundo.
Em breve, esse deve ser o caminho de Javier Milei. Antes de ser preso, Jair Messias podia seguir o mesmo roteiro. Se não gostar, quem sabe uma peregrinação sem volta a Santiago de Compostela. Catedrático em espanhol graças aos “tik toks” repassados semanalmente pelo “irmão” Nicolás Maduro, também craque na arte de vilipendiar, vampirizar e emparedar o povo em benefício próprio, Milei está a um passo do precipício. A história mostra que todos que agiram dessa forma acabaram do mesmo modo: milionários, mas esquecidos. O pior é que não conseguiram usufruir da fortuna fora do cercadinho que construíram às custas do sofrimento alheio. Maduro é o maior exemplo disso.
Enriqueceu empobrecendo os venezuelanos, mas pode ficar sem as mãos caso tente colocar os dedos fora do ambiente que ainda o acolhe. O mesmo ocorreria com Hitler, Mussolini e Bolsonaro. Felizmente, Deus cuidou deles a tempo. Milei que se cuide e não faça como Jair, cuja soberba o fez esquecer que não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Naturalmente, os déspotas fazem questão de abominar a tese bíblica de que a voz do povo é a voz de Deus. Se acham superiores, entendem o mandato como um cheque em branco para fazerem o que quiserem e, por isso, acabam no mesmo buraco sem fundo e sem retorno.
Sem exceção, em lugar de gerenciar crises, inadequadamente eles esticaram (e esticam) a corda até o esgotamento da população. Javier Milei deveria ter aprendido com os historiadores. O saco da sociedade encheu para os outros e encherá para ele. Tudo indica que será uma questão de tempo. E pouco tempo. O problema são os mestres. Hitler aprendeu maldades com Nero e Júlio César e as repassou para Mussolini, Josef Stalin, Vladimir Lenin, Saddam Hussein, Mao Tse-Tung, Pol Pot, Fidel Castro, Augusto Pinochet, Garrastazu Médici e Vladimir Putin, o professor de Maduro e explicador de Bolsonaro. El Loco terá desfecho idêntico aos ex-protagonistas, a menos que escolha um novo professor, coloque a peruca de molho, a empáfia no guarda roupa, as sapatilhas no porão da Casa Rosada, assuma publicamente a brochabilidade e peça para sair antes que saiam com ele.