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Questão de consciência

Com ou sem saúde mental, PM vai demorar para resgatar moral

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo

Em carta publicada esta semana no Correio Braziliense, uma leitora diz estar “muito triste com o que está acontecendo com as polícias em geral”, particularmente com a do Distrito Federal. O desabafo decorre da tragédia envolvendo a Polícia Militar, tristemente colocada na linha de frente do levante de 8 de janeiro de 2023. O golpe fracassou, mas a participação direta do comando da época e indireta de boa parte da Corporação feriu de morte o centenário nome da instituição.

Conforme a recém-nomeada comandante da PMDF, coronel Ana Paula Barros Habka, o 8 de janeiro abalou a moral do órgão. Lamento, mas, embora entenda que a saúde mental do ser humano seja prioridade zero, não há como esquecer a velha máxima de que quem procura acha.

Obviamente que a PM ou qualquer outra instituição similar não é política e nada tem a ver com esse ou aquele político, tampouco com a linha ideológica do governante. Farda não tem – pelo menos não deveria ter – viés partidário. A razão de sua existência é a segurança da sociedade de direita, de esquerda e de centro.

Portanto, me deem um único argumento para que todo o efetivo da PMDF não estivesse a postos para descumprir as ordens de um espantalho metido a mandatário e conter a sanha de fanáticos inseguros e covardes, pois só são machos em bandos.

Por ordens “superiores”, a Corporação se escondeu. O gesto da tropa deixou clara a adesão da maioria ao golpe articulado, produzido e ordenado pelo ex-presidente, cujo nome não merece sequer ser citado.

Por conta própria, o que restou de efetividade da Polícia Militar conseguiu manter a ordem e evitar o caos determinado pela corja que apoiou (e apoia) o golpe. Perdão pelo sincericídio, mas, como diziam os sábios, quem se mistura com porco farelo come.

O que posso dizer para amenizar a dor dos familiares do sargento que, no fim de semana, durante um plantão de rotina, matou um colega com um tiro na cabeça e, em seguida, tirou a própria vida? Nada que lhes agrade. Eu não defendi – na verdade abominei – e não estive na Praça dos Três Poderes no dia em que a razão calou de vez a “emoção” doentia de um grupo de idiotas denominados “patriotas. Foi um circo sem palhaçadas e com o personagem principal bem longe do picadeiro.

Reitero que compartilho com o desabafo e com a dor da senhora de Brasília. Só não concordo no todo com a tese de alguns analistas e de integrantes da própria PMDF. No afã de justificar o corrido, creditam o dramático sucedido ao estresse doentio dos militares brasilienses, os mais bem pagos do Brasil.

Pior do que isso. Vinculam a “doença” da tropa à proximidade com ex-comandante, coronel Fábio Augusto Vieira, preso após ser apontado como provável responsável, por ação direta ou omissão, pela falha de segurança ocorrida nos terríveis atos golpistas contra os três poderes da República, consequentemente contra a democracia. O mundo e o Brasil realmente estão doentes, estressados e psiquiatricamente enfraquecidos, principalmente os que desejavam se manter à força no poder.

Culpar o estresse é o mesmo que jogar para debaixo do tapete as obrigações dos gestores. Não tenho dados concretos, mas acredito que o corre-corre dos trabalhadores assalariados e a tristeza do contingente de pais de família que, em vão, procuram por uma vaga no mercado de trabalho para alimentar os filhos são tão ou mais estressantes do que o dia a dia dos PMs.

Imaginem se, em nome do desânimo, da ansiedade e da exaustão, esse exército de desassistidos saísse por aí matando quem nada tem a ver com sua letargia. Não escrevo apenas por lampejos ideológicos, mas exclusivamente baseado em fatos. E os fatos envolvendo a Polícia Militar do DF são individual, coletiva e conceitualmente cristalinos.

Como cuido da minha vida e da minha família, sempre torcendo pela liberdade e pelo crescimento econômico, social e moral do Brasil, não participo de fanfarras ou palhaçarias armadas por ditadores amadores que não aceitam a democracia como sistema de governo abrangente, seguro, aceitável e respeitado pelos quatro cantos do mundo. Se há um quinto, deve estar bem mais próximo do inferno depressivo do que eu e dos que estão em paz com seus espíritos.

Por isso, não fui preso, não fiquei doente e estou com a consciência tranquila. Queira Deus que o maior problema da PMDF não seja especificamente de consciência. Se for, sugiro à coronel Ana Paula que sente e ore. Ore muito para que a Corporação se recupere do 8 de janeiro.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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