Preguiça de nascer
Parido quase aos 12, Segundo tinha sina de burro
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emDalva e José nasceram na roça, cresceram na roça, trabalhavam na roça, viviam na roça desde sempre. Os dois se conheceram ainda meninos e, assim que chegou a época apropriada, casaram-se como de costume se fazia na região. Logo chegou o primeiro filho, Delvéquio, nome mais que apropriado para o primogênito.
Enquanto o moleque crescia, o casal continuava quase na mesma rotina, agora acrescida com os cuidados com o filho. Não tardou, Delvéquio, aos dois anos, já ensaiava seu futuro brincando na terra. Mal sabia ele que seu destino estava encaminhado, assim como o do seu irmão, que já provocava enjoos terríveis em sua mãe. A mulher vomitava sem parar, obrigando o marido a trabalhar em dobro.
Do curral pro chiqueiro, daí pro milharal, de onde apressava o passo pro galinheiro, a despeito das galinhas que ciscavam pelo terreiro bem em frente à maltratada casa de sapê. Dalva tentava, a todo custo, ajudar o esposo, mas a barriga, cada vez maior, restringia seus movimentos. Agachar, então, era aquele tormento para, depois, se levantar. A mulher necessitava de apoio ou, então, de um belo impulso com as mãos empurrando o chão. Tudo doía, não tinha junta que escapava daquele martírio.
As parcas visitas indagavam-lhe sobre o tempo de parir. A buchuda, apesar da falta de estudo, era boa de conta. Sabia que as regras não lhe faziam sala há mais de nove meses, perigando chegar aos dez. Isso foi o motivo daquela conversa que Dalva teve com José numa noite quente de quase dezembro.
Tô preocupada.
– Cum quê, muié?
– Cum o nosso fio.
– O que tem o moleque?
– Ele não qué nascê. Já tô no décimo mês e nada do pirralho querê nascê.
– Ele é que é sabido. Já deve sabê da vida dura que vai levá.
– Pode sê. Mas se ficá doze mês na barriga vai virá burro.