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Fantasia e realidade

Fevereiro de ano bissexto é mês das múltiplas funções

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Reprodução ABr

Como diria o Barão de Itararé, o maior poeta do cotidiano que o Brasil já teve, as pessoas nascidas em fevereiro são, em geral, felizes e despreocupadas. Sortudas, elas vieram ao mundo sem a pressão cósmica e longe das angústias e sobressaltos que acompanham o dia 30. A atipicidade do mês é antipática para alguns, principalmente para as mulheres nascidas de janeiro a dezembro, excetuando, obviamente, o período em questão. As colegas de fevereiro, notadamente as do dia 29, são naturalmente mais jovens, pois fazem aniversário somente de quatro em quatro anos. Daí, caso não tapeiem o tabelião, passarão a ser chamadas de mulheres bissextas. Acho que é só uma questão cartorária, porque ainda não fui informado se o bi das sextas serve para qualquer situação.

Para alguns, a origem do nome vem de “februare”, cujo significado é purificar. Ainda que Baby do Brasil afirme que estamos vivendo o apocalipse, acho difícil se pensar em purificação em pleno Carnaval, período em que se planta mandiocas em profusão. É também a época da ordenha em desconhecidas desmamadas para colheita de leite coalhado e da osculação desenfreada em mamadas conhecidas. Há quem diga que, para os brasileiros, fevereiro é apenas uma corrutela mal ajambrada de “favereiro”, considerado pelos portugueses de Portugal (e de onde seriam, oh gajo?) como o mês do plantio das favas. Será? Pode ser, mas, até onde eu sei, por aqui a lua é favorável aos nabos, rabanetes, pepinos, cenouras e demais comeduras de curto ciclo.

Interessante, mas será fevereiro o mês em que muitos de nós, em lugar do tomate cru, mandamos os diferentes, também conhecidos por “patriotas”, tomar nas favas? Se for, estou em dívida com alguns desses meeiros, aos quais só mandei abrir as favas e comer pacu assado uma vez. Tudo a ver com os quatro dias da orgia de Momo, onde a onda do baixo materialismo se confunde com o decanato da máscara no rosto, apetrecho que serve para esconder a vergonha do tudo de fora e facilitar o tudo para dentro. É aquela velha máxima de que os olhos não vendo o coração não sente. O coração não, mas, dependendo do grau de calibragem etílica, o pisca-pisca e as demais partes pudendas sentem pelo menos o funhanhar no cangote.

Mesmo com o fim oficial do Carnaval, vale lembrar que ainda teremos o desfile das campeãs, vice-campeãs e terceiras campeãs. Por isso, além dos florais de lírio do brejo e de flores do abricó, é recomendável usar ao longo do mês o verde garrafa ou o verde latinha, considerando que o verde oliva está temporariamente fora de moda. Também não podem faltar na caixinha de primeiros socorros dos foliões retardados a pomada Minâncora, própria para assaduras, e o Vick Vaporub, aviado para dores no chifre, cólicas retais e aplicaduras na região dos marmelos, onde só deveriam ser inseridas goiabas frescas e nunca goiabada cascão. Eita fevereiro que serve para tudo.

Resta às bissextas e aos bi sei lá o que a esperança de que novos 366 dias (este ano fevereiro tem o dia 29) passem depressa. Para os que preferiram o descanso à cantoria do samba enredo da Beija-Flor até que os decibéis chegassem aos R$ 8 milhões “investidos” graças às caldas dos caldos dos Joões de Maceió, vale lembrar que o Judiciário e o Legislativo voltam ao trabalho este mês. Portanto, é chegado o momento de deixar a fantasia e cair na realidade. Para os mais renitentes, fevereiro é chegado à fraternidade. Daí, o aconselhamento fraterno para que retirem as fantasias somente aqueles que a colocaram para entrar no cordão. Aos demais, sugiro que as mantenham, de modo que não haja confusão com os que registraram em cartório prazos de validade para a adoção do lado mulher.

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