Vandré é “patriota”
País caminha e canta com Lula no Poder e mico do mito
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emVira e mexe, alguém ameaça convocar os cientistas da Nasa para avaliar cientificamente os nossos “inventores” da periferia. E não são poucos os que falam em chamar a Nasa e reunir os “artífices”. Aliás, falar em ameaça é lembrar dos que se acostumaram a ameaçar para ganhar. Acho que os técnicos da Nasa, se vierem, poderiam aproveitar a viagem para contar os parafusos da comunidade conhecida como “patriota”, cuja rima é melhor nem lembrar. Histericamente involuídos, são seres que pensam que pensam, mas jamais pensaram que nunca pensaram. O que menos pensa se enroscou na bandeira de Israel e, borboleteando pela Avenida Paulista, gritou em defesa dos cristãos.
Além de ajudar a polícia do governador Tarcísio de Freitas a contar os transeuntes que participavam do evento do nada, os que ainda pensam rebatiam os “parças”, tentando convencê-los de que o povo de Israel é judeu e não cristão. Acostumado a fazer valer o que lê por encomenda nas redes sociais, é claro que um não acreditou no que o outro dizia. E ficou nisso. Benjamin Netanyahu não reclamou porque foi informado que a manifestação pró-mito estava lotada de infiltrados do Hamas. Nesse caso, melhor continuar matando crianças, mulheres e idosos do que correr o risco de passar pela segunda vergonha internacional.
A primeira foi assistir ao sequestro de centenas de judeus em território israelense e até agora não prender nenhum dos líderes máximos do grupo palestino. Voltando à domingueira da Paulista, como é triste vislumbrar a satisfação no rosto do “patriota” raiz. Ainda que o golpe tenha ido para as cucuias, esse tipo está certo de que é uma questão de tempo o retorno do Bozo ao poder, a derrubada de Luiz Inácio, a prisão de Alexandre de Moraes, a volta à Câmara de Deltan Dallagnol e a revogação da prisão de todos os envolvidos no levante que não houve. Para o bolsonarista entubado, o que o “patriota” submisso e covarde diz é lei.
Tanto que, passados quase 15 meses da posse do novo presidente, a petizada não admite ouvir que as urnas eletrônicas são absolutamente confiáveis. Pior é alguém dizer que a “gripezinha” do Jair matou mais de 700 mil brasileiros. Para eles, tudo isso não passa de heresia, de invencionices de comunistas comedores de criancinhas que insistem em jurar que a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro foi um fato e não uma suposição. São pobres de espírito, mas não se acham coitados. Pelo contrário. Como aprenderam que quem jura mente, reagem com xingamentos e ameaças sobre a negritude do futuro com a esquerda.
Data vênia, estaríamos na escuridão se Lula tivesse perdido. O mentiroso, quando é descoberto, fica bravo e se faz de vítima. Por isso, é melhor considerar, pois eles permanecem sem saber o que dizem. Do meu catre, esperei pouco mais de uma semana para saber se daria frutos a manifestação inflada para 500 mil pagantes, estimada em 185 mil pessoas, mas com maioria de “171”. Não deu. Nem a defesa da anistia aos golpistas de 8 de janeiro rendeu. Associados aos moços da Corte, os do Parlamento perceberam que era um golpe sobre o golpe e nem cogitam apresentar tal ignomínia, pensada exclusivamente para livrar o cara da cara de pau.
Apesar do dito pelo não dito e de tudo continuar como dantes, a maioria que desfilou sofregamente pela Paulista não abre mão de afirmar que Bolsonaro saiu fortalecido da manifestação. Fortalecido para que? Talvez para assumir o condomínio Solar de Brasília, onde mora com a patroa, candidata ao Oscar de melhor discurso do ato daquele domingo. Portanto, nada foi em vão. Como nem tudo que vem do demo cheira a enxofre, numerosos bolsonaristas foram flagrados sassaricando na avenida ao som de Para não dizer que não falei das flores, letra e música do paraibano Geraldo Vandré. Também conhecida como Caminhando, a canção se tornou um dos maiores hinos da resistência ao sistema ditatorial dos anos 60 e 70. O que será que será que mudou?
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978