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Paixão diabólica

Mentirosos, golpistas não enganam nem Nunes Marques

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior# - Foto de Arquivo - Antônio Cruz/ABr

Quando a gente pensa que já viu de tudo na política nacional, eis que surge um grupo fantasiado de ONG e recorre ao Supremo Tribunal com uma solicitação corporativa, absurda, ignorante, senil e abusiva para qualquer mente com um mínimo de inteligência. Sob o argumento de que todos os eleitos em 2022 já tomaram posse e que estão cumprindo seus mandatos e que o país vive um momento de calmaria e de paz, o Instituto Nacional Brasileiro do Desenvolvimento Humano Social e Político (INBDS) recorreu ao Supremo Tribunal Federal pedindo liberdade para todos os presos do 8 de janeiro. Não por falta de vontade, mas por impossibilidade jurídica, o ministro Nunes Marques, que é de casa, teve de cumprir o ofício e negou o esdrúxulo e idiota requerimento.

E não podia ser diferente, considerando que a decisão do ministro Alexandre de Moraes de condenar os terroristas da Praça dos Três Poderes foi referendada pela Corte, inclusive com o voto do próprio Nunes Marques. E não foi uma condenação mixuruca. Os fracassados golpistas responderam pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Por isso, receberam penas que variam de 14 a 17 anos. Poderia e deveria ter sido pior. Pesada ou não, o fato em discussão é que a condenação nada teve de injusta.

Nenhum dos presos enjaulados merece a condescendência que eles não tiveram com o país e com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Naquele fatídico domingo de janeiro de 2023, qualquer das autoridades buscadas pelos vândalos teria sido morta e escalpelada em praça pública caso tivesse sido encontrada. E agora os bonitinhos querem medidas cautelares alternativas? Antes que também peçam whisky com gelo, sugiro que os integrantes do instituto façam uma autocrítica sobre a crueldade dos “patriotas” que vandalizaram as sedes do STF, do Palácio do Planalto e do Congresso antes de imaginar uma palhaçada como a que foi encaminhada a Nunes Marques.

Será que vocês pediriam complacência para facínoras que invadissem, saqueassem, depredassem e queimassem suas casas? A menos que sejam mais hipócritas do que os hipócritas, é claro que não. Então, não tentem tachar de bonzinhos bandidos que, remunerados ou não, queriam acabar com o país. No habeas corpus coletivo, a ONG “implora de joelhos no chão” para o STF “desaplicar o direito penal do inimigo e aplicar o direito penal mínimo” ao caso dos investigados do 8 de janeiro. Não conheço, não quero conhecer e tenho raiva de quem conhece o tal instituto, ao qual devo lembrar uma famosa expressão: “Tomem tento. Perderam, manés!”

De tão corporativo, o documento encaminhado pelo INBDS ao ministro Nunes Marques pede especificamente pelos réus Aécio Lúcio Costa Pereira e Wagner de Oliveira, respectivamente ex-funcionário da Sabesp e acusado de integrar o núcleo dos “executores materiais” do golpe que não veio. Ou seja, tivesse dado certo a marmota, os dois estariam em liberdade e o restante dos bobalhões iria a reboque. Isso mesmo a reboque e, soltos, se virariam como pudessem. O instituto certamente lavaria as mãos. O mais interessante do pedido é que, nas justificativas, a ONG se entrega e praticamente confirma a tentativa de insurreição.

Ato falho, mas é como passar recibo argumentar que “cessaram as graves ameaças ou falácias contra o Estado de Direito”. Como cessaram se Jair Bolsonaro e seus fiéis seguidores afirmam que elas jamais existiram? Alguém está mentindo. Pior ainda é dizer que o vandalismo contra os Três Poderes foi um crime “multitudinário, por violenta e paixão, induzidos e orientados por algoritmos….que induzem o eleitor, incentiva a briga e a polarização política”. Entendido. Seja lá como for, para multidões em tumulto os rigores da lei. Quanto a violência por paixão diabólica ou algoritmos de natureza diversa, o resultado é a cadeia, principalmente se o objetivo apaixonado é a derrubada da democracia. Portanto, paixão por paixão, sou mais a do Xandão.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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