10 mil? Tô fora!
Ataíde, o generoso, dá chega pra lá no Abobrinha
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emAtaíde era um bom homem. Aliás, de tão bom, alguns poderiam supor que fosse um boboca, palavra que quase caiu em desuso nesses tempos tão corridos, em que há um otário em cada esquina. Mas usemos boboca, que, creio, cai melhor para descrever aquele ser ingênuo e de coração generoso além da conta.
Por causa dessa característica dadivosa, Ataíde, não raro, era passado para trás por algum espertinho, seja parente, seja amigo, seja conhecido de vista, seja até aquele completamente desconhecido. Mas de todos os aproveitadores, havia um que era uma avalanche de pedir favores aqui, ali, acolá, a qualquer hora do dia e da noite, madrugada adentro e sem qualquer cerimônia. Um verdadeiro cara de pau! Seu nome? Paulo José de Almeida e Silva. Todavia, para encurtar a história, todos o conheciam por Abobrinha.
Abobrinha, aliás, conhecia Ataíde desde os longínquos tempos em que usavam calças curtas. O tempo passou, é verdade, mas o interesse pela amizade cresceu de maneira exponencial com os anos, especialmente nos últimos meses, quando o Ataíde conseguiu um empregão numa firma de exportação. Quanto ao Abobrinha, além de pular de um trabalho para o outro, foi despedido na semana passada e expulso da casa dos pais, que já não aguentavam sustentá-lo. O safado nem sequer lavava um copo.
Sem ter a quem recorrer, o pilantra foi até o eterno amigo, que, agora, estava bem de vida. Ataíde acolheu o Abobrinha de braços abertos. Tanto é que até o convidou para passar uma temporada no seu amplo apartamento, que, apesar de enorme, possuía apenas uma suíte, além de um quarto mais modesto.
Acredite ou não, quem se acomodou no cômodo maior foi justamente o Abobrinha. Ataíde, por sua vez, pareceu não ligar. Afinal, para que serve o conforto se não pode compartilhá-lo com os amigos?
Tudo ia bem, até que, certa manhã, quando o Ataíde estava quase saindo de casa para mais um dia de trabalho, o Abobrinha, com a cara mais lavada do mundo, apesar das remelas nos olhos, já que acabara de acordar, mandou uma fala para o amigo.
— Ataíde, meu querido. Preciso de um favorzinho seu.
— Pois diga, Abobrinha.
— Tô precisando de uma graninha.
— De quanto?
— Dez mil.
— Dez mil?
— Isso mesmo.
— Aí, não, meu irmão! Assim, você forçou a amizade!